3 de junho de 2012

(in)oportunidades


Não foi nem mais nem menos aquele dia dela que... 


_ Não foi.

...Mais ou menos. Talvez por isso a porta aberta significasse uma redenção.

_ Isso... uma espécie de misericórdia, santo Deus, a coisa divina que tinha finalmente nome!

A porta de um edifício?

_ Não, não, não! A senhora segurando a porta pra mim! Isso é preâmbulo de milagre! Senhora (senhora!) segurando a porta do prédio para uma jovem, a senhora pela senhorita!

...Um verdadeiro gesto de gentileza. Que não significava necessariamente coisa alguma além de senso de civilidade e afeição pelas coisas do mundo. As pessoas são coisas do mundo. A menina veio vindo do outro lado da rua e a senhora olhou. Por se encaminhar para a calçada próxima e embicando as pontas das botas bem pro portão – a cabeça ligeiramente caída, cansada de ver carro ser carro, avião sendo avião – pensou que não faria mal segurar o portão mais um pouquinho. Foi só isso.

_ E as sacolas? As sacolas!

Ah... tem isso também. A senhora estava com suas sacolas de supermercado.

_ E que tipo de senhora segura um portão para uma senhorita desconhecida, ainda que esteja segurando sozinha suas sacolas de mercado? Trata-se de um caso verdadeiramente raro. Não é possível que se desperdice.

Eu teria dito para não fazer isso. Eu teria. Se pudesse dizer. Pois não dizer, foi-se ela portão adentro, sorrindo satisfeita, agradecendo a atenção da senhorinha. Deu boa tarde, deu obrigada e a previsão do tempo medianamente estimada:

_ Vai chover... 

_ É... vai sim...

Não choveu, mas nenhuma das duas se lembrou desse converseio cinco minutos depois. Entre papos interessantíssimos o elevador veio e as levou. Primeiro a senhora: 8. E olhou pra mocinha.

_ O seu é...

Como quem lembrasse. Não podia, claro, lembrar do que nunca soube. A moça olhou bem até o décimo quinto e achou difícil escolher um número só sabendo que ia errar. Fosse mais de uma a chance teria a crença tola de poder tentar outra vez antes que já fosse indiscrição demais. Pensou na cobertura. Achou prepotência. Mas gostava dos altos:

_ 14, por favor. Obrigada.

E fez a velhinha feliz de novo, que adorava servir.

9 comentários:

Vítor Massao disse...

E fez a velhinha feliz de novo, que adorava servir.

Existe uma cena do doc sobre Gandhi, ele já famoso,em uma reuninao de grande líderes, uma pessoa entra pra servir o chá. Gandhi em toda sua simplicidade e roupas costuradas por ele mesmo, se levanta e retira a bandeija da mão de quem servia, e começa ele mesmo servir aqueles grande líderes, que ficam em espanto, afinal ele era Gandhi.

Aprendi mais servindo, as pessoas que admiro são servidoras, existe um certo valor nisso tudo, tem que ter uma sensibilidade para perceber isso...

Mas a cena é linda
me emocionou
e é o tipo de cena que vc teria sensibilidade para perceber

=)

Sol disse...

Realmente é preciso ter sensibilidade para ver beleza nas coisas mais simples do cotidiano, porque as tragédias gritam...mas o lado belo das coisas simples são tão silenciosos e discretos que poucos conseguem ver o que está bem ali diante dos olhos! :)

Madson Moraes disse...

Clap Clap Clap!

The end.

Magno Nunes disse...

E ela ainda mandou um bilhete

"Seremos sempre tão jovens"

Não? Ah, me enganei...

Camila Caringe disse...

Magno...

"Vem, senta aqui ao meu lado e deixa o mundo girar. Jamais seremos tão jovens."

W.S.

Magno Nunes disse...

Issae!

Vítor Massao disse...

oportunidades que tocam o interno =)

Joey Marrie disse...

É que cuidar dos outros ajuda a cuidar da gente também, mesmo que sejam simples os gestos!

=D

Camila Caringe disse...

Cuidar do outro versus cuidar de si mesmo.

Esse é um belo tema, Joey Marrie.