14 de abril de 2015

Mais uma de amor


Vieram entrando pela Casa aqueles dois.
Devem ter percebido de alguma forma não totalmente consciente que eu sou um instrumento da comunicação irrequieta e perturbada de estranhos, que canaliza manifestações inusuais espontâneas e depois psicografa a voz do anônimo. O perfil ideal que toparia aquele tipo de trabalho. 


Aproximaram-se para me encontrar no meio da roda e primeiro foram tímidos. 
Brasil... futebol... Copa... sério que o real vale menos que o dinar de um país no norte do continente africano?...a capital é o Rio de Janeiro? Fortaleza? Floripa? Argentina?... 
Até que ficaram soltinhos e no ponto para me contar a que vieram. Ou melhor, a que veio. O plano diabólico era de um: 

__ São Paulo é perto do Rio? Sabe... tem essa garota e... esses presentes que eu... ela é linda e... você poderia, por favor, entregar pra mim? 

O amor de juventude supera tudo: o árabe dele, o português dela, o google tradutor no meio, a distância, o fato de não se conhecerem, a cultura, o cabelo lindo que ela teria que esconder em um hidjab, a bebida alcoólica na mão dela na foto do perfil, os 20 anos. Ah... os 20 anos...