13 de dezembro de 2015

Versa Maria

16 de agosto de 2015

Dez anos


Este blog completa exatamente hoje exatamente dez anos ou exatamente 3.652 dias (contando dois anos bissextos). 
Deveríamos colocar velas em um bolo e cantar parabéns, recuperar o top dez entre as 851 postagens, fazer especulações risíveis sobre o que motivou as 80.475 visualizações destas páginas. 
Mas fiz melhor. Contei pro Vitor meu plano diabólico. 
Ele me deu outro banner lindo e me tocou pra frente. 
Este blog a 
ca 
bou.

15 de agosto de 2015

Guardiã


Chegamos na praça pela manhã e sentamos, o mestre Jedi e eu. Uma praça do interior onde conversas fluíam melhor. Precisávamos de toda a fluidez do universo para falar sobre aquelas duas cabeças privilegiadas que nos mobilizavam. Em dado momento ele perguntou: 

__ Você acredita em mim? 
__ Acredito. Por que? 
__ Às vezes eu ouço umas vozinhas aqui no meu ouvido que me dizem coisas... e agora elas estão falando algo sobre você. 
__ Sobre mim? 
__ Sim. 
__ O que elas dizem? 
__ “A maturidade vai revelar a sua missão de guardiã.” 
__ Guardiã? Do que se trata? 
__ Não sei. Não tenho ideia. Mas você vai saber quando chegar a hora. 
__ Deve ser uma coisa muito preciosa, né?, pra precisar de guardiã. 

Demos risada.
19 de maio de 2012. 
Sei porque anotei na capa do livro de Hilda que tinha nas mãos. 
Anotei a conversa inteira, inclusive essa parte. E foi dessa parte especificamente que lembrei quando me dei conta de que o sagrado se comunica conosco da mesma maneira como nos comunicamos com ele. Se falamos poesia, ouvimos poesia. 

A moça me disse para ler todo o documento antes de assinar. Segurei o papel e li. Era uma repartição lotada de pastas com papéis que pulavam para fora do elástico, uma ilha de mesas e meu documento lá. Fui lendo do que se tratava a coisa toda nos mínimos detalhes, verificando os dados, as responsabilidades, os números. Cheguei no rodapé em que o juiz determinava: 

“Nomeio Camila guardiã de…” 

Guardiã. 
Essa palavra. 
Dei risada. 
A moça não entendeu. 
Eu sim. 
Assinei. 
Devolvi a via dela. 
Dobrei a minha. 
O mistério ganha ares ainda mais belos quando o compreendemos.

11 de agosto de 2015

Veladas


Quando vi o rosto de Suhayr pela primeira vez, não acreditei na sua beleza. A burca dava a ela um ar de profundo mistério e a única pista, um par de olhos verdes em longos cílios, era arrebatadora. E ela sabia disso. Mas como se sente uma mulher usando uma túnica escura da cabeça aos pés debaixo do sol do meio-dia? "Honrada, respeitada, protegida, valorizada." Durante alguns dias, segui os passos de sua lógica para compreender do que se tratava aquele raciocínio. 

Meu novo texto no Blog Inverso.

4 de agosto de 2015

Homens que batem


"Na nossa comunidade, onde tem mulheres feministas, quantas Xicas da vida foram mantidas em cárcere privado durante dez anos, sobreviveu e agora tem seqüelas, cega de um olho, dois natimorto, duas taquicardia, 51 anos, fiz ontem, tô viva. Eu fui espancada por um homem, mas não tomei raiva dos homens. Ainda acho que vou encontrar meu príncipe encantado. Eu quero voltar a estudar, fazer faculdade, estou começando um curso de inglês agora, não dá mais para camuflar a situação.”

Meu novo texto no Blog Inverso

30 de julho de 2015

A virilidade do homem branco




Fiquei muito brava com a notícia do dentista que matou o leão no Zimbábue. Não conseguia parar de pensar nisso. O cara tem a cara de atravessar o planeta, sair lá do consultório nos EUA pra ir pra África atirar no leão. Quer dizer, né? Não tem mais nada pra fazer. Sente falta da sensação de masculinidade, força e triunfo perdida na vida moderna besta e vai lá com arco, flecha e rifle, caça, degola e escalpela o animal. Não antes de tirar umas fotos bem bonitas pra mostrar pra galera.

Fiquei transtornada ao saber os detalhes.
É o fundo do poço da pobreza de espírito e da vilania. 
Um caso grave de desvio de caráter.
E o pior: eu conheço essa com laranjas.

29 de julho de 2015

Denúncia


Operação Lava Jato investiga a participação de Christiane Pelajo, William Waack e Carlos Alberto Sardenberg no maior escândalo de corrupção da história do universo conhecido. Segundo o ministro da fazenda, Joaquim Levy, a boa vontade contundente do trio na divulgação de cada detalhe com esmero e paciência só pode ser indício de formação de quadrilha, cartel, corrupção ativa, passiva, dedo no bolo e olho no peixe. “Quem deve teme”, disse o ministro rapidamente enquanto saía para dar uma volta de bicicleta com Dilma depois do café da manhã. 

A presidenta aproveitou a oportunidade para reiterar que Gilberto e Caetano também estão na mira. Mas daí retrocedeu adotando termos mais amenos quando se lembrou de que Israel é parceiro comercial do Brasil. “A Polícia Federal tem autonomia. Justiça seja feita.” A diretora da escola infantil brasileira Passinho Inicial comentou com alguns pais sobre a sorte dos alunos em relação às crianças palestinas. “Temos paredes e merenda”, teria dito em off a uma fonte que não quis ser identificada. Eduardo Cunha, presidente da Câmara que ficou de mal do governo recentemente, pediu que a escola seja incluída na CPI dos Fundos de Pensão.


20 de julho de 2015

Fô na cabeceira e outras histórias


__ Consegui fazer a criança comer alface pela primeira vez. Pergunte-me como. 
__ Como? 
__ Coloquei numa cumbuca de metal várias folhas lavadas com azeite e bem pouquinho sal. Daí comecei a comer na frente dela sem oferecer, devorando e delirando de prazer. Ela ficou curiosa e se aproximou. Deixei ela pegar. Ela colocou na boca e cuspiu. Eu fingi que não vi e continuei comendo alucinadamente. Ela insistiu outra vez e cuspiu. Na terceira, começou a me imitar e comeu! 

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A pequenininha não me acorda mais exigindo o teté. Agora mudou. Acho que ficar gritando “mamãe e teté” era meio desgastante. Agora ela simplesmente fica de pé no bercinho e sorrateiramente... acende a luz na minha cara. Muito mais prático! 

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Fomos a uma loja de plantas e compramos uma mini era e uma mini samambaia. Para a mini pessoa que ameaçava tacar os vasos de vidro no chão, o moço deu uma mini flor de brinquedo, que ela adorou. Chegando em casa do passeio, ela estava com sono e coloquei-a no bercinho para descansar. Pedi para guardar a florzinha, mas ela não deixou. Queria ficar segurando. Consenti e saí do quarto. Depois voltei para vê-la dormir e encontrei isto:


19 de julho de 2015

Minha história sem graça


Cheguei na padaria para tomar café da manhã e a moça que me atendeu perguntou se era o de sempre. Eu me senti muito previsível, então pedi o cardápio para dar uma olhada. Ela ficou me esperando decidir e aí eu pedi o de sempre mesmo.

10 de julho de 2015

A origem do mal


Já de longe se me perguntam é de verdade essas coisas que contas e eu de pescoço mole tem hora a cabeça pendendo pra frente resignada respondo sim. 
Eu mesma me surpreendo muita vez e por isso até implico com a ficção. Qual serventia se com essa vida tão rica de absurdos? que chegar em casa com a água a nos receber à porta já é em si de se estranhar. Bati no vizinho do lado só buscando explicação e o que consegui foi mais. A água descia da máquina de lavar do vizinho de cima inundando nós dois de encanamento compartilhado e o Henrique se oferece para me ajudar a não afogar. Tomei providências por ordem de importância. Primeiro evitar que a criança dormisse sobre as águas e jamais acordasse. Vovó esta noite. Depois, um pedidinho para o vizinho de cima. Bati as falanges médias naquela porta: 

__ Quem é?
__ Camila, a vizinha de baixo.
__ Não conheço.
__ Ué, mas pode conhecer. É só abrir a porta. (isso podia ser uma cantada, repara)
__ Não, agora não.
__ Olha, eu preciso falar com você. Estou com um problema. Você poderia abrir a porta por favor?
__ Não. Não quero.
__ Bem, no meu apartamento está vazando a água que está vindo da sua área de serviço. Você poderia por favor desligar a sua máquina de lavar até amanhã, quando o encanador vem?
__ Não. Não quero.
__ Vou ter que falar com o síndico.
__ Faça o que quiser.

Desconcertada com tamanha maturidade contei ao Henrique sobre a conversa riquíssima com o vizinho de cima. Não evitamos rir jogando a água para fora que descia em cascata alagando dois corredores e afetando outros apartamentos. 
Na manhã seguinte ele reconheceu na lembrança do vizinho de cima o sujeito de bem que cruzava no elevador de vez em quando. “Parecia normal.” 
Confessei que quando fui assaltada ou agredida ou assediada ou prejudicada de alguma forma, o fui por sujeitos que podiam ser bastante agradáveis quando ninguém precisava deles. 
É que o mal é banal. E começa com a indiferença. Depois se espalha em cascata, afetando outros apartamentos. 
A mesma oportunidade no entanto revelou o lado bom. À direita da minha porta para quem está de saída e precisa de solidariedade. Lá se encontra generosidade. Em português e inglês. 

2 de julho de 2015

A gente se esforça demais

É o que eu fui reparando, a tensão do que é certo censurando o importante. Nisso eu pensei naquela tarde de festa junina na fazenda, quando ouvi a voz das crianças atrás de mim. Entrei com a minha filha no colo na casinha de pau a pique de cuja entrada pendia a plaquinha indicando “casa de pau a pique”. O fogão à lenha, a mesa de madeira, uma pequena máquina de costura e um segundo cômodo com uma cama de colchão de palha. Janelas e porta eram apenas seu contorno sem paradas. E o telhado. 

Enquanto eu posicionava a pequenininha para fazer a foto, uma outra mãe entrou com suas duas crianças um pouco mais velhas. As crianças pareciam encantadas, mas a mãe estava entediada, olhou ao redor e abandonou a casa. Coloquei a bebê de pé nos joelhos para que ela alcançasse a vista e ouvi às minhas costas enquanto as crianças deitavam na cama e se cobriam com a palha muito entusiasmadas. O menino disse para a menina: 

__ Queria que a minha casa fosse assim. Não. Queria morar aqui. Queria morar em um lugar como esse. Ou… pelo menos ter um lugar como esse pertinho, para eu ir sempre que eu quiser. Eu queria poder vir aqui todos os dias e ficar aqui. 

Para ler o texto na íntegra e ver a foto, clique aqui e visite a página do Blog Inverso.

25 de junho de 2015

Sobre manhãs e frios


Resposta dura para uma pergunta poética: 

__ Meu frio na barriga anda atrás da minha filha cada vez que ela corre, bate a cara em alguma coisa ou bate alguma coisa na cara. E normalmente a coisa é dura, não tem a poesia das bochechas dela. 

Corta para… 
Primeiro pensamento do dia: 

__ Hum? Despertador tocou na hora certa. Graças a Deus ainda não estou atrasada. Tenho mais alguns minutos para estar. zzzzZZZ… 

Segundo pensamento do dia: 

__ Teté! 
__ Uhum. 
__ Mamãe! 
__ Hum? 
__ Teté! 
__ Uhum… 
__ Mamãe! 
__ Hum? 
__ Teté!!! 
__ Uhum... já vou filha. Mamãe já vai trazer seu teté… 
__ Mamãe!!! 
__ Hum? 
__ Teté!!!!!!!!!

23 de junho de 2015

(mais) Vagas para Comunicação

É um serviço de utilidade pública do qual tento me servir. Então acho importante compartilhar o fato de que as melhores agências de emprego do universo contam com um avançado sistema de monitoramento de vagas, filtros por interesse e alertas periódicos via e-mail. Digitei na busca “comunicação social”:

Editor de física
Editor? O que ele faz? Edita o professor? Edita o aluno? Edita a física?

Corretor(A) De Imóveis (Sem Experiência – Lançamentos – Venha Fazer parte Deste Grande Sucesso de Vendas
E A Editoração Entra Nisso Como? Editando As Maiúsculas Em Substantivos Comuns?

Assistente com. de vendas
“Assistente” é o indicativo da função ou na realidade essa pessoa seria completamente responsabilizada com registro subestimado para não receber o piso da categoria? Aliás, qual categoria? Vendas? Ué! Mas eu estava pesquisando comunicação social...

Coordenadora Administrativa
Precisa-se de formação em comunicação porque a administração é a arte de saber fazer leva-e-traz, imagino.

Designer
Um bom comunicador é aquele que se comunica de todas as formas: escrevendo, falando, desenhando, tocando oboé e fazendo lasanha de berinjela.

Montador de painéis eletrônicos
...ops! Atualização das aptidões: ...de berinjela E montar painéis eletrônicos. Ok.

16 de junho de 2015

Noite no jazz

Os rostos em gozo, em conversa sem palavra, dedilhando o tempo improvisado.
Notei na penumbra a democracia do Hammond Grooves. Um filho de militar e um voltado pra cidade desde o Xingu sob a égide de um mesmo som. Na nossa mesa, Maria. Mara. Mari. Moira. Não me lembro bem. Com o Paulo. Na outra, não lembro o nome do filho do homem. Só da cor da camiseta, porque parecia combinado com a namorada: o vermelho petista que a Talita trazia desfiadinho nos braços. Debaixo da mesa, a volúpia que o jazz inspira. Ou dita?
O desfile lento da silhueta desenhada por Niemeyer, Ivone recebia quem se ia chegando.
Olhei para o lado e tive de aproveitar a presença de um artista que ainda bem é meu amigo e me perdoa as tolices. Perguntei o que é isso arte como quem já não suporta o silêncio de Deus às atrocidades. “É perder o medo. O risco. Fazer alguma coisa com o vazio.”
Na parede, a discreta dica da luxúria que se quer elegância.


8 de junho de 2015

Professora substituta


Reunião de pais e mestres. A hora da verdade. 
Tudo o que sua criança andou fazendo longe dos seus olhos aparece ali. 
A professora expõe detalhes do comportamento individual, coletivo, da rotina, do programa e das atividades: 

__ Todos eles gostam muito das atividades. Mas a Helena é a mais entusiasmada. O dia que eu faltar, já deixei avisado que ela pode me substituir tranqüilamente. Atividade é com ela mesma. 

Acho que vou ter que emancipar a minha criança de um ano e cinco meses para ela poder exercer o magistério.

24 de maio de 2015

Desaparecida


Breve o tempo de uma oração. O de comer aquelas duas laranjas quietas sob o nó do saquinho azulado. O tempo da rampa que descíamos e me deu chance de olhá-lo bem, de sentir seu cheiro no rastro, o trâmite de seus ossos, a ousadia dos cotovelos se insinuando para fora da pele. A cor daquela pele no contraste da camisa branca alinhada tanto quanto lhe foi possível. Havia esforço ali, era visível. Sua crença nas laranjas que levava suspensas à esquerda com delicadeza e no cinto para quem traz a cintura no peito. Sua fé no jeans marinho que não oferece risco. Parou já perto da catraca a procurar o bilhete nos bolsos. Minha prece por ele terminou na pequena esperança que estivesse lá qualquer coisa do mundo que ele buscasse. Porque quem trata com tal respeito duas laranjas, arrasta consigo o olhar amoroso da estranha, diminuta diante de tanta decência, eu sem importância.

10 de maio de 2015

É dia das mães.

Vejo várias mamães falando sobre a inefável experiência materna, o amor eterno, transcendental.
Não vou falar disso. Deixo para quem transcendeu. Eu não. Nada menos transcendental do que o cotidiano: o cocô na banheira, o xixi sem fralda, o nariz escorrendo, a comida no chão, a tinta na boca, a birra no metrô lotado, a briga na escola, o tombo no caminho, a febre de madrugada, a empolgação no domingo cedo, a empolgação tarde da noite, o puxão na tomada antes de você salvar o arquivo, o desenho na hora do jornal, o grito enquanto você está numa ligação importante de trabalho, a impaciência no meio da história.
Toda a relação é uma construção. Inclusive aquelas onde o amor está presumido.
O amor é um elo que precisa ser nutrido no compromisso, no companheirismo, na espera, na ação, no ritmo, nos dias.
Este é só mais um dia.
De muitos.
Em que uma mamãe ama. E espera fazer algo de bom com isso.
Meu amor não é inexplicável. Ele se explica em cada exercício que me tira do conforto individualista. 
Meu amor não é transcendental. Mas quem sabe possa, assim mesmo, simples e imanente, no esforço das ocupações ordinárias, fazer algo de bom por mim também.


14 de abril de 2015

Mais uma de amor


Vieram entrando pela Casa aqueles dois.
Devem ter percebido de alguma forma não totalmente consciente que eu sou um instrumento da comunicação irrequieta e perturbada de estranhos, que canaliza manifestações inusuais espontâneas e depois psicografa a voz do anônimo. O perfil ideal que toparia aquele tipo de trabalho. 


Aproximaram-se para me encontrar no meio da roda e primeiro foram tímidos. 
Brasil... futebol... Copa... sério que o real vale menos que o dinar de um país no norte do continente africano?...a capital é o Rio de Janeiro? Fortaleza? Floripa? Argentina?... 
Até que ficaram soltinhos e no ponto para me contar a que vieram. Ou melhor, a que veio. O plano diabólico era de um: 

__ São Paulo é perto do Rio? Sabe... tem essa garota e... esses presentes que eu... ela é linda e... você poderia, por favor, entregar pra mim? 

O amor de juventude supera tudo: o árabe dele, o português dela, o google tradutor no meio, a distância, o fato de não se conhecerem, a cultura, o cabelo lindo que ela teria que esconder em um hidjab, a bebida alcoólica na mão dela na foto do perfil, os 20 anos. Ah... os 20 anos...

14 de março de 2015

8 de março de 2015

8 de março

Foi lentamente que eu aprendi a ser mulher.
Os brincos, a cor rosa, as roupas, os modos, os trejeitos, as pernas cruzadas.
As pernas cruzadas, as pernas cruzadas. Mesmo quando estiver de calças. E calças não. Saias. E delicadeza. Comedimento. Método, moda, moral.
Foi lentamente depois a galope.
Em pouco tempo era natural. Digo, a segunda natureza.
A primeira foi ser gente. Depois foi ser uma mulher e o que se espera disso.
Pausado e pontual, no entanto, foi aprender o que é ser gente antes de ser mulher. Aprender que mulher deve ser obediente e depois desaprender.
E aprender o que é ser obediente, o que é ser acolhedora, amorosa, o que é ser histérica, radical, o que é ser desrespeitada.
Foi em câmera pausada ver o desrespeito.
A cena deu um salto quando a mulher virou mãe. “Mamãe”, eventualmente.
“Mamãe” que sabe de tudo, a quem recorre uma pequena mulher em seu aprendizado de ser mulher.
E eu querendo ensiná-la a ser antes, muito antes, apenas gente.
Ser mulher é ser pessoa, mas ter que carregar consigo uma fala gentil que lembre a quem se esquece.
Neste dia internacional das mulheres, meu reconhecimento e fraternidade a todas as pessoas que nasceram mulheres. E também àquelas que escolheram ser depois de nascidas.
É meu desejo que vivamos com dignidade.
Sejamos felizes.
Livres.
E respeitadas.