Só uma apuração, uma informaçãozinha básica sobre o templo budista:
_ Alô?
_ Bom dia. Com quem eu falo?
_ Gashrelkj
_ Como?
_ Gashrelkj
_ Ah... bem... Meu nome é Camila e eu gostaria de saber se o templo tem acesso para deficientes.
_ Agolanoum.
_ Como?
_ Noagolanoum...
_ Tem alguém com quem eu possa falar?
_ DjiscuLpa.
_ Tem algum outro telefone?
_ DjiscuLpa.
_ Eu só queria saber se o templo tem acesso para deficientes.
_ AgolanaumdjiscuLpa.
_ Como?
_ AgolanoumdjiscuLpa.
Silêncio entre nós.
Música japonesa budista ao fundo.
_ Há alguém mais com quem eu poderia falar?
_ AgolanoumdjiscuLpa.
_ Tudo bem, então. Obrigada.
29 de março de 2012
15 de março de 2012
É de pequeno...
Não pensava ansiedade de mundo, menina, angústia de existência nem elaborações adulteradas. Se era contaminação ou segredo de toda gente vazava.
_ É que mãe eu tava pulando corda aqui na sala e bati na TV e quebrei acho ó porque a tampa caiu assim e...
O mergulho fundo na fé até a sensação de fraqueza, entrega. A água que pode cobrir a vida de seu peso quando permitida apenas a audição longínqua, desregrada, distorcida, para emergir e voltar a se deparar com o fato duro.
Era por isso que as pessoas comiam areia, ela descobriu. Comer areia é um jeito de sair, porque ignorar alertas é um tanto libertador. Colocavam na boca um pouco dos grãos finos e mastigavam o gosto desafiador em caretas. A menina olhava de longe, sentada debaixo do grande busto de homem duro. Assistia o tanque de areia, via no chão os cacos que formavam um mosaico colorido no cimento cinza e sentia a aspereza do pequeno degrau pelos olhos. A aspereza fixa familiar no seu íntimo, pedra e rumo contorcendo, fundindo. Na sua vontade insipiente de criança desejava abraçar, acalmar, embalar a aspereza no vazio, na saudade, na solidão sem nome. E começava primeiro bem devagar a balançar as pernas. Depois mais rápido um pouco, depois mais rápido ainda. Sentia o rigor rasgar a parte de trás dos seus joelhos e a barriga das perninhas delicadas de criança, embalava o mundo consigo ao lidar com a dureza viciante como contemplar o vazio, o pequeno ponto enegrecido na parede branca, o lado mais escuro de uma nuvem clara, a estória que a mamãe contava. E porque as sabia de cor, não eram as estórias que interessavam, mas ganhar o tempo com a mãe, observar seus dentes brancos aparecerem e desaparecerem no vão dos lábios. A beleza estava ali entre os dentes da mãe, na lajota, na aspereza. Mais rápido e mais rápido e as perninhas começavam a sangrar. A menina gostava porque podia compreender aquela dor. Era dor que estava vendo, sabia de onde vinha, como parar e o poder a instigava.
Olhou o tanque de areia à procura da uma criança que estivesse tentando a refeição proibida. Queria tocar que tinha feito melhor escolha. Se encaminhou com passos lentos e seu punhado de culpa até a pia do pátio para lavar o sangue daquele pequeno acidente. O inevitável incidente de estar viva e não poder aliviar tantas dores mais.
_ É que mãe eu tava pulando corda aqui na sala e bati na TV e quebrei acho ó porque a tampa caiu assim e...
O mergulho fundo na fé até a sensação de fraqueza, entrega. A água que pode cobrir a vida de seu peso quando permitida apenas a audição longínqua, desregrada, distorcida, para emergir e voltar a se deparar com o fato duro.
Era por isso que as pessoas comiam areia, ela descobriu. Comer areia é um jeito de sair, porque ignorar alertas é um tanto libertador. Colocavam na boca um pouco dos grãos finos e mastigavam o gosto desafiador em caretas. A menina olhava de longe, sentada debaixo do grande busto de homem duro. Assistia o tanque de areia, via no chão os cacos que formavam um mosaico colorido no cimento cinza e sentia a aspereza do pequeno degrau pelos olhos. A aspereza fixa familiar no seu íntimo, pedra e rumo contorcendo, fundindo. Na sua vontade insipiente de criança desejava abraçar, acalmar, embalar a aspereza no vazio, na saudade, na solidão sem nome. E começava primeiro bem devagar a balançar as pernas. Depois mais rápido um pouco, depois mais rápido ainda. Sentia o rigor rasgar a parte de trás dos seus joelhos e a barriga das perninhas delicadas de criança, embalava o mundo consigo ao lidar com a dureza viciante como contemplar o vazio, o pequeno ponto enegrecido na parede branca, o lado mais escuro de uma nuvem clara, a estória que a mamãe contava. E porque as sabia de cor, não eram as estórias que interessavam, mas ganhar o tempo com a mãe, observar seus dentes brancos aparecerem e desaparecerem no vão dos lábios. A beleza estava ali entre os dentes da mãe, na lajota, na aspereza. Mais rápido e mais rápido e as perninhas começavam a sangrar. A menina gostava porque podia compreender aquela dor. Era dor que estava vendo, sabia de onde vinha, como parar e o poder a instigava.
Olhou o tanque de areia à procura da uma criança que estivesse tentando a refeição proibida. Queria tocar que tinha feito melhor escolha. Se encaminhou com passos lentos e seu punhado de culpa até a pia do pátio para lavar o sangue daquele pequeno acidente. O inevitável incidente de estar viva e não poder aliviar tantas dores mais.
12 de março de 2012
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