30 de agosto de 2008

É triste?


É triste. Mas fazer o quê se algumas tragédias têm algo de risível? E fazer o quê se o ser humano não escapa de ser patético*? E fazer o quê se o patético não escapa de ser cômico? E fazer o quê senão rir?

*do Lat. patheticu - Gr. pathetikós, comovente

27 de agosto de 2008

O que vem do real não tem a obrigação de ser...

... real também. Porque de real já basta o real. O resto é construção, é possibilidade, é afirmação ou negação, é variação, é acordo ou desacordo, é corda. Corda pra imaginação. Auto-referenciada e mais. Mais... mais...

26 de agosto de 2008

Entrelaçandonós


Quem pinta o quadro da vida somos nós.
E o que vemos somos nós.
E o que pintamos somos nós.
Pra mostrarmos mais de nós ao outro.
E pro outro, os outros somos nós.

25 de agosto de 2008

Múltiplas vozes na mala

“Não acredito em troca de experiência. Eu não dou a minha experiência pra você e você não pode me dar a sua. Eu tenho uma e você tem outra. Aí a gente constrói junto.”
Janaína

“Você quer o conhecimento para ter sabedoria e pra quê? O que você vai fazer com isso? É um objetivo que não tem fim.”

Adriano

“Eu não costumo falar muito disso porque é raro alguém aceitar ou, pelo menos, não julgar...”
Eric

“Depois que vira cinza não acende mais...”
“...Simpatia é quase amor...”

Diego

22 de agosto de 2008

Da série - Retrato dos tempos modernos

Para visualizar melhor a imagem, basta clicar nela.

Para sem mais desencontros


Para que duas pessoas se encontrem, é preciso que estejam no mesmo lugar, no mesmo tempo.
Parece óbvio. E é.
O tempo determina fatores culturais, étnicos, sociais, econômicos, políticos.
O lugar determina fatores culturais, étnicos, sociais, econômicos, políticos.
Ou seja, a dupla tempo-espaço são determinantes.
Eu posso estar no mesmo lugar, mas se não estiver no mesmo tempo que a pessoa que quero encontrar está, nos desencontramos.
Se a pessoa estiver ao mesmo tempo em lugar diferente que eu, jamais me encontrará.
Neste final de semana estarei num outro espaço ao mesmo tempo. Será o mesmo tempo onde se situam meus contemporâneos (rá!) e voltarei ao mesmo espaço antes que dê tempo de sentir saudades...

20 de agosto de 2008

...E no meio do caminho... Havia uma manhã...

Era um qualquer coisa que me agredia de tão lindo.
Esta manhã me açoitou, não tanto pela beleza, não tanto por perdê-la na rotina do lugar estreito, mas pela impossibilidade de descrever o tauma, a surpresa do esplendor que encontrei sem procurar entre as pedras verticalmente cinzas, alongadas, e vertiginosas.

Encontrei. E nem posso narrar aqui o quanto tive que piscar para suportar a claridade daqueles tons.

Mas era algo assim, enquanto as árvores riam da minha cara de susto...


E, por não querer aqui me desfazer do que é pedra, do que é duro, do cinza, do estreito, do que é vida, a referência a quem tira leite (!) da mesma pedra...

http://www.jr-art.net/

19 de agosto de 2008

Areia MoVe...d..iÇa...

O devaneio é o lugar onde se cria. No meio daquela névoa, naquela distância, onde tudo o que não é a voz do próprio pensamento fica abafado... Quando não se sente exatamente nada, mas alguma coisa que faz do ser algo insustentavelmente leve.
Mas é do desespero que surgem indagações e buscas. E não da iluminação criativa. A falta de esperança e de confiança no método (caminho) é o que leva a novos métodos.
Nada é tão engraçado, senão a crueza do que é real.
A ironia e a comicidade ajudam a entender melhor o real porque, no fundo, são ásperos, são duros, machucam. Então, chocados, indefesos, rimos.
Como agora. Ao perceber que nada disso precisa ser verdade.
E, possivelmente, não é.

17 de agosto de 2008

Da série - Retrato dos tempos modernos

Na mosca!

"What is mind?
No matter.
What is matter?
Never mind."

George Berkeley sabia fazer filosofia.
Trocadilho com impulso de reflexão.

13 de agosto de 2008

Voices

Uma mulher gritou “TIA!!!”. Assim. Sem mais nem meio mais. Colocou a cabeça pra fora do ônibus e gritou.
A tia deve ter reconhecido a voz da sobrinha, porque parou desnorteada, olhando ao redor. O ônibus passou, claro, rapidamente. E a tia ficou lá, olhando para o nada...
Fiquei pensando... O que a sobrinha queria com aquilo? O que ela teria dito caso a tia a tivesse visto? Devia ser algo muito importante, por isso berrou tão alto...

_ TIA!
_ OI!
_ SUA CALCINHA TÁ APARECENDO!

Ou então...

_ TIA!
_ OI!
_ CASEI!

Ou ainda...

_ TIA!
_ OI!
_ ME EMPRESTA DINHEIRO???

Não... Não se fala de um assunto tão importante assim, berrando da janela do ônibus... Devia ser mesmo algo sem muita importância...

_ TIA!
_ FALA QUERIDA!
_ NADA NÃO! ERA SÓ PRA DAR OI!

Então entendi.
Entendi que o motorista tinha entendido tudo bem antes de mim.

10 de agosto de 2008

Baita papo

Houve um tempo em que achei que tinha acabado essa coisa de disk-felicidade.
Basta discar e você arrumará um grande amor ou uma amizade pra vida toda.
Ao que ligo a televisão no domingo de manhã e me deparo com meia dúzia de bobocas falando no telefone, sorrindo e se sacudindo, como se estivessem numa balada.

Dei-me uns minutos para apreciar a obra publicitária. E fiquei imaginando como teria sido o making of dessa maravilha. As pessoas dançando, provavelmente sem música alguma, num espaço totalmente fake, forçando sorrisos e charme.
Tinha até depoimento.

_ Meu, minhas amigas tiravam sarro de mim, porque eu tava sempre sozinha. Daí eu liguei e marquei um encontro. Fiquei com medo. Mas que nada! O cara é uma pessoa maravilhosa. Estamos junto ATÉ hoje! – conta a gatinha com um sorriso de orelha a orelha. Ela só não contou que o ATÉ HOJE faz uma semana, mas beleza, né?! O tamanho do vestido convenceu.

Fantástico.

7 de agosto de 2008

I remember...

Bons professores são capazes de oferecer uma experiência cognitiva e fazer a ponte entre o objeto cognoscível e o indivíduo cognoscente através de vivência interessante e conscientizadora.

Maus professores fazem uso abusivo da autoridade e se portam como detentores de verdades absolutas, dilacerando expressões que enriqueceriam a qualidade do diálogo com o outro.

Uma pena que hajam mais exploradores do que expedicionários.

6 de agosto de 2008

DEMOcracia

Jornalistas usam aspas no seu texto para reportar a fala de alguém.
Mas, algumas vezes, a usam também como sinal de ironia.
Outras vezes ainda, não usam aspas no texto, mas nos dedos.
Sabe quando alguém tá falando com você e treme dois dedos em paralelo com a cabeça para colocar aspas nas palavras que está dizendo?
Então.
Vi alguém colocando aspas imaginárias na palavra democracia. E não entendi.
Ou estamos num regime totalitário ou estamos numa democracia e, que eu saiba, não estou num país cujo regime é totalitário.

_ Você diz tudo o que você pensa?
_ Digo.
_ Não, você não diz.

Bem, algumas vezes eu evito dizer que a outra pessoa está com mal hálito, mas isso não é uma questão de censura.

_ Caco Barcellos precisou se exilar!

Protesto. Estamos falando de ameaças de pessoas que vivem às margens da lei já por uma série de situações. Ameaçar alguém de morte é só mais um delito.
A democracia não é a garantia de participação popular nos processos políticos? Se essa participação não acontece, em que grau acontece ou deixa de acontecer é outra história.
A democracia não se impõe. O povo simplesmente se apropria do lugar-ação. Ou não.
A verdade é que é enfadonho demais esse papo de conspiração universal pra tudo.
E discordamos.
Porque, como estou numa democracia, posso fazer isso. E fiz.
Discordamos.

5 de agosto de 2008

...as pessoas.

Acordei mais cedo do que de costume.
Com um endereço e um trajeto nas mãos me lancei ao desconhecido lugar. Não sozinha. Mas com todos os queridos desconhecidos que se espremiam calorosamente nos 3 ônibus necessários ao trajeto.
Ainda convalescente, fui obrigada a andar mais do que gostaria. Bem mais do que gostaria, eu diria.
E cheguei.
A sala não era muito grande. E, mesmo que fosse, passar 8 horas dentro de uma sala não é minha atividade favorita.
O almoço e o lanche foram servidos naquela sala mesmo, que era para ninguém circular.
Ao final, saí antes do final, afinal.
Uma sala é basicamente quatro paredes na vertical e duas na horizontal. Meu horizonte já estava ficando desfigurado da sufocante maresia do assunto viciado.
Mais duas horas de trânsito em ônibus lotados.
Depois descobri que os 3 ônibus necessários ao trajeto poderiam ter sido substituídos por 1 ônibus necessário ao trajeto.
E por quê?
E por quê?
Congresso sobre Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.
Os responsáveis, as estradas, o orkut, as vítimas, o comércio, as estatísticas, as meninas, os meninos, as pessoas...

3 de agosto de 2008

Recesso

... E, com horror, percebi que estava metamorfoseada num inseto gigante. E que estava sendo esmagada, ainda por cima!
Mal podia perceber como estava e já sentia o medo maior de todos os seres que vivem: o medo de se extinguir.
O calor que a alma sentia sob aquelas novas formas era indizível. E peso. O peso era tanto que respirar era já muito difícil, quanto mais se defender.
Estava escuro. Mas não totalmente escuro. Era um meio escuro, meio claro, de início da manhã. Mas ainda escuro o bastante para que os contornos de mim e do além de mim não estivessem bem definidos.
Tentei me virar, mexer e, sofregamente, o fiz. Pouquinho. Porque mesmo eu não sabia o que queria ao me mexer. Nem onde ir, nem o que fazer...


_ Eu disse pra você não dormir com o cabelo molhado. Olha. Tá queimando em febre. E com 3 cobertores!

Não tive forças pra dizer que era o frio ou pra negar o algo que me enfiavam guela abaixo.

_ Toma esse remédio. E agora? Vai trabalhar?

Eu não me lembrava meu nome de gente, quanto mais o de inseto. Muito menos me ocorreu como responder ao inquérito. Trabalhar? Assim?
Sim.
Fui trabalhar.