3 de setembro de 2012

Confidência


_ Padre, confesso que pequei. Menti por hábito, abusei da confiança alheia, padre, pequei por injúria, luxúria, gula e ingratidão. No final de cada dia não agüentei a pressão. Bebi, padre, excedi. Depois, presunçoso, entreguei à lassidão minha existência. Dos dias, soberba. O feitiço dos que têm algum poder. Era meia dúzia de gente que me presta ouvidos, padre, mas falei a eles tudo quanto demais. Não tive dúvidas e lancei rancores aos pés de pais e mães. Seus filhos, padre, disse de todos "índios, belos índios preguiçosos sois!" e sem remorsos dormi. Foi sobre dissabores, estes sim, meus colchões. Preconceitos que nem sei contar deixei que dissessem por mim, padre, guiaram-me as vaidades. Recusei amigos, abrigos, gatos molhados, feridos e capelas paradas bem no meio dos descaminhos. Não fui bom padre, padre. Qual a minha penitência?

_ Três terços à Virgem, filho, e vir aqui no meu lugar que agora é minha vez.