30 de setembro de 2014

Da série - Rascunhos


24 de setembro de 2014

Como se sente a mãe de uma mulher


No metrô é coisa comum. É um que confunde meu quadril com a estrutura metálica do metrô, outro que simula um empurra-empurra que não existe. No ônibus, menina, eu olhava o movimento quando notei um carro insistentemente emparelhando. Demorei para entender, chocada, que o motorista dividia sua atenção entre o volante e o que se podia ver de mim pela janela, enquanto manuseava seu órgão genital. Coisa parecida também quando eu falava ao telefone estirada na cadeira da varanda e reparei um homem seminu manipulando o falo no apartamento do prédio da frente. 

Mas pior, muito pior do que como se sente uma mulher, é sentir o que sente a mãe de uma menina sabendo o que a filha encontrará pela frente. E eu vou ensinar o quê? O quê é essa resistência? Como se resiste à violência? Pacificamente, como Gandhi, aceitando o abuso e encontrando rotas alternativas menos piores, oferecendo flores a quem lhe oferecer dinheiro? Distribuindo socos? Procurando a polícia a cada episódio? Fazendo passeata toda a semana?

Leia o texto completo no Blog Inverso.

22 de setembro de 2014

Primeiro amor


Charlie Brown, o precursor do amor pelo cobertorzinho, não foi, em realidade, o fundador deste tipo de relação. Apenas elaborou de maneira concreta e vibrante o tipo de afeto que se instala no coração das pessoas pequenas, quando diante do seu cobertor quentinho predileto. 

17 de setembro de 2014

Uma pista por exclusão


A vida não é um plano plongée filmando você. 
A vida não é um plano oblíquo. 
A vida não é um plano de saúde, um plano seu. 
A vida não é um plano.

15 de setembro de 2014

true prevails, malandro


Aquela coisa típica do Rio. Taxista vem se anunciar na porta do aeroporto, fecha o preço sem o marcador e vamos embora. Pra passar o tempo da viagem, alguém pergunta: 

__ Mas e aí? Como está a violência aqui? Tem melhorado? 
__ Ah, sim... No Rio não tem violência não, aí. Só naix favelax, né? Em favela o bicho pega. Maix no axfalto é tranquilo sim senhor. 

Deus deve ter ouvido e castigou. 
Tocou o telefone do taxista: 

__ Alô? Oi! Maix o qué que houve? Hum? Sei. Aí? Ouvi! Sim. É meixmo? Hum. Hum. Maix não... Fica tranqüila! Eu vou ver. Vou ligar prunx carax aí que é chegado meu. Sei. Uhum. Vou ver, senhora. Péra aí. Fica com deux, viu? E se acalma. 

Desliga e liga. 

__ Alô? Cara, tu vai ter que ver um negócio aí pra mim. Me ligou agora a senhorinha lá do condomínio, cara. Ax velhinha tudo apavorada. Entraram lá no condomínio de metralhadora na mão, tocando o terror lá no parquinho dax criançax, cara. O quê? Nããaooo, cara. Foi assaltante, não. Foi PM, malandro. Ox cara tudo fardado. Vê aí pra mim quem foi, vê que aconteceu preu avisar lá no condomínio, cara, pra acalmar ax velhinhax lá. Tão tudo desexperadax… 

O termômetro anunciava 32 graus. 
Cheiro de mar estressando o horário comercial na cidade maravilhosa.


12 de setembro de 2014

Só um racismozinho sem querer


Da primeira vez em que assisti ao filme, já gostei. Depois, considerei: “mas será que não estamos sendo ambas muito radicais? Essa terapia de choque… não sei…” Ainda assim, não consegui retroceder. Na condução, Jane parecia um pouco sádica. Mas na intenção não. 


O último episódio envolvendo atitudes racistas no futebol brasileiro me fizeram lembrar da conversa ligeira que tive com ela por e-mail, há algumas semanas. Jane Elliot, uma professora de Riceville, Iowa, nordeste dos Estados Unidos, conduziu uma experiência muito realista, forçando empatia entre seus alunos de nove anos de idade, desfavorecendo-os alternadamente por suas características físicas, simulando posturas racistas, homofóbicas ou discriminatórias típicas da sociedade estadunidense. 

O filme a que me refiro se chama Blue Eyed, mas existem muitos registros sobre as palestras que ela ainda ministra nos dias de hoje, utilizando sempre o mesmo método de empatia radical que utilizou pela primeira vez em 1968, em ocasião do assassinato de Martin Luther King. “Eu dava aula na terceira série em uma comunidade branca cristã. Tinha de explicar a morte dele para os meus alunos. Não sabia como fazê-lo, a não ser fazendo com que se sentissem na pele de um negro por um dia.” Quando a notícia sobre o exercício Blue Eyes/Brown Eyes se espalhou, Jane e sua família passaram a receber represálias diversas. “Meus filhos apanharam e receberam cusparadas. Meus pais perderam seu negócio. Meu pai morreu totalmente isolado na comunidade que seu bisavô ajudou a fundar, porque havia criado a amante de negros da cidade.” 

Mas… o exercício foi criado em 1968, três anos após a queda do apartheid legal nos EUA. Agora talvez pareça um pouco deslocado. Quero dizer, o país elegeu um presidente negro. Correto, Jane?

Confira a resposta em
https://inversoinverso.wordpress.com/2014/09/12/so-um-racismozinho-sem-querer/ 

4 de setembro de 2014

CineMaterna


Eles aprendem rápido. 
Minha filha, por exemplo, sacou logo que tem duas mãos, dois braços, dois pés, duas pernas, dois olhos, um nariz, uma boca e uma mãe, caso qualquer coisa falhe.

https://inversoinverso.wordpress.com/2014/08/26/mae-ate-debaixo-dagua-e-dentro-do-cinema/