16 de julho de 2013

Da série - Rascunhos

[UM CARTOON: COISA DE PAI]


5 de julho de 2013

Armadilhas


Có-có-córóóóóó!!! 
Có-có-córóóóóó!!! 
Có-có-córóóóóó!!! 

Ecoou um galo dentro do quarto urbano. A medida que ficava progressivamente mais alto na madrugada seca, o esguelamento passou a inviabilizar os sonhos do pastor, que se levantou sonâmbulo na direção do bicho. Apertou um botão e a tela explodiu clara nos olhos semicerrados: 

98 + 17 = ? 

Tentou pensar rápido com aquele som de galo inundando a cabeça. Outra: 

7 x 8 = ? 

Suspiro. E o galo berrava. A última: 

64 ÷ 5 = ? 

Deitou. Voltou a gozar da paz e do silêncio celestial criado pelo espírito de Deus que pairava sobre as águas no princípio do mundo, antes da invenção dos anjos e dos santos que... 

Có-có-córóóóóó!!! 

Esgotaram-se os dez minutos de devaneio. Abriu os olhos e encontrou o galo na mão. Tentou desativar. Não pôde. Tentou a opção “soneca”. Sem chance. Na tela o contador: 

DÊ 15 PASSOS 

O galo aumentando. Estava frio. Resolveu trapacear. Chacoalhou o celular na mão, da cama mesmo, como quem caminha. 

1... 2... 3... 4... 5... 6... 7... 8... 9... 

FRAUDE DETECTADA 
COMECE DE NOVO 

1... 2... 3... ... 11... 12... 

FRAUDE DETECTADA 
COMECE DE NOVO 

Quem entrasse no quarto flagraria o pastor transtornado, sacudindo um celular no ar, com os cabelos desgrenhados, em sua cama quentinha, ao som de um galo fantasma a plenos pulmões antes do amanhecer. 

Conseguiu, por fim, calar o galo e conquistou mais dez minutos do deleite sagrado. 
Mais dez minutos do deleite sagrado. 
Mais dez. 
Chegou atrasado na empresa novamente aquele dia. Foi honesto: 

__ É que o despertador não funcionou.