27 de dezembro de 2011

Res-post

"Para meu príncipe, a mensagem de amor de um principezinho"

25 de dezembro de 2011

Relato de Natal, 46 anos

“No shopping tem aquelas cadeiras, para quem precisa, sabe? Cadeiras de dirigir, para quem machuca o pé ou não pode ficar andando. Você sabe como? Então! Daquelas. Eu estava esperando o elevador e chegou uma mulher com uma dessas cadeiras e o marido, ou namorado, não sei, junto. O elevador chegou e ela entrou primeiro com a cadeira, de frente, e foi pro fundo. Daí eu também entrei e virei pra porta. De repente, chegou o Papai Noel com a fadinha dele. Ele perguntou:

_ Desce?

A mulher, na cadeira, viu pelo espelho, virou com tudo e gritou:

_ Nossa!!! Eu vou descer de elevador com o Papai Noel!!!

Todo mundo olhou pra cara dela e riu. Ela disse:

_ Ai... acho que falei alto demais, né?

E ficou roxa.
Claro que, quando eu vi o Papai Noel, pensei exatamente a mesma coisa, mas eu não gritei, né? Eu só pensei. Mas achei engraçado, porque eu senti o mesmo que ela. Eu pensei: “Nossa! Tô do lado do Papai Noel!” Foi mesmo muito emocionante, só que eu não disse nada. É engraçado essa emoção que provoca nas pessoas. Nós duas já somos adultas e a gente ainda se encanta com o Papai Noel.”


21 de dezembro de 2011

Querido diário...

...Esta manhã tivemos um tufão.

À tarde, lavamos roupa.

15 de dezembro de 2011

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Eu não me lembro de mais nada da menina. Apenas de seus cotovelos que mexiam. Não me lembro da voz, do cabelo, do rosto. Tenho a cor da sua pele somente porque os cotovelos estavam descobertos pela camiseta rosa. Todo o resto me escapa.

Quisera eu retê-la como fiz com o gosto do leite. Eu reconhecia quando minha mãe me enganava com leite em pó. Não era a mesma coisa, mesmo com chocolate. Eu não gostava, mas deixava passar. Reclamar é algo que sempre me deu muita preguiça. E havia outras coisas: o lilás da lancheira, o cinza do copinho, o céu que variava de tom, o chão de ladrilho – pedacinhos vermelhos de caminho –, banheiro, tanque de areia, baldinho. Ademais, como descrever um gosto?

Não queria que me fugisse, mas não sei dizer para além dos cotovelos da menina, quem eu olhava. Ela, debaixo da mesa, organizava peças gigantes de plástico colorido, como um grande quebra-cabeça.

Introspectiva e secretamente eu via que ela, de costas para a sala, não montava coisa alguma. Apenas dizia em ordem de cores e tamanhos o que era mais importante e, portanto, vinha primeiro na pilha. Eu não entendia, nem me importava averiguar. Deitava as garras em meus olhos aqueles cotovelos dançantes. A menina os movia com a segurança de ser dona deles.

Observar o movimento preciso, o baile de seus dois cantos, despertava-me a vontade, primeira vez em mim, de trabalhar. Eu tinha o impulso de pegar alguma coisa que precisasse de mim e fazer algo com aquilo, algo que precisava ser feito, nem que fosse de uma necessidade imaginária, satisfazê-la porque se tinha tornado a minha vontade inclusive.

Pasmada, desejei arrancar a menina daquele espaço onde ela se fechara, santa e resoluta, debaixo da mesa do refeitório. Quis só para mim a carência de ordem das peças, tocá-las, amassá-las, fazer nada para que vissem meus cotovelos queixosos de execução da tarefa que me deleitaria também.

Não sei quanto tempo passei pensando, sozinha, concentrada naquela concentração de menina. Mas a gente sente quando nos olham e virei pro lado. Minha mãe sorria para mim da porta. Não precisou estender os braços. Levantei-me e fui andando na direção dela. Minha mãe disse que tinha estado ali me olhando “um tempão”.

Não sei o que é ou quanto “um tempão”, assim como não sei contar o gosto do leite. Se há de servir a alguém, sei tampouco. Restou em meu relato a imagem dos cotovelos. Para mim, vale a pena sabê-los.

8 de dezembro de 2011

Infanto-lógica

Depois de muito tempo chamando a tia Carine de Cacá e o tio Celso de Cecé, a menina descobriu que a tia, na verdade, não se chamava Cacá.


_ Você se chama Carine, tia?
_ É!
_ Nossa...
_ Cê não sabia?
_ Não...
_ Cê pensou que fosse só Cacá?
_ É...
_ Ah... É Carine! E o nome do tio, Cecé? Você sabe como é na verdade?
_ Sei!
_ Sabe?
_ Sei!
_ Como é?
_ Cerine!


A lógica foi perfeita, não se pode negar.