28 de janeiro de 2013

A importância da etiqueta


Lara perguntou para a avó, Silvana: “Vó, quantos anos você tem?”. Silvana brincou e disse “Já estou tão velha que nem me lembro mais”. Lara, então, resolveu dar uma dica: “Vó, olha na etiqueta da sua camiseta. Na minha está escrito de 5 a 6 anos”. 

História dos leitores da revista Pais & Filhos, jan/2013

22 de janeiro de 2013

Da série - Rascunhos

[DIA-NÃO-DIA. TEM DIA QUE... NÃO. NÉ?]


20 de janeiro de 2013

Crônicas de shopping – Tomo II


Nojo. 
A instituição nojo e suas raízes morais. 
É involuntário todavia o revirar das entranhas, intestinos enlaçando pâncreas, o estômago contraindo pra continuar cabendo onde está. 
Qual culpa tem a pessoa de seu nojo? Está condenada por não poder crer no Cristo, por não achar sabedoria na natureza, por ver atrocidade ou criança dormindo e ficar na mesma? 
Mas nem era este o seu caso. Apenas o nojo da criatura que esparramava-se adiante. Eram somente três as mesas do lado de fora do café. Ela ocupava a primeira, pulava uma e ele estava na terceira. 
Quis sentir pena, mas não conseguiu. Respirou fundo, averiguou em si. Ele era só nojo sim. 
Ela parou um pouquinho, ajeitou a saia longa em sua vastidão, arrumou a blusa e lançou o cabelo comprido irregular para as costas. Sentou-se. De dentro da sacola de papel várias coisas saíram. Primeiro pão. Depois margarina, apresuntado, qualquer tipo de queijo, tempero de miojo, catchup, um prato de plástico, um rolo de papel higiênico e, por fim, uma coca de dois litros. 
Um por um os ingredientes montaram seu lanche indistinguível. O outro, indignado, achou desaforo sair e insistiu ali em seu lugar, hipnotizado por semelhante apetite. 
Terminada a refeição, sobrou migalhas, embalagens vazias e papel-de-limpar-boca. Virou a garrafa para um gole ou dois, três. Uns dez. E olhou insatisfeita a própria bagunça. 
Guardou o prato de volta na sacola. Em seguida o catchup. Juntou o lixo nas mãos grandes e meticulosamente transferiu o material desprezado para a mesa ao lado, a do meio, que parava vazia delimitando os espaços. 
Contente, voltou para sua mesa. Virou a coca na garganta mais algumas vezes. Olhou ao redor. Deu sono. Cochilou sentada. 
O distinto senhor, liberto ao término do ritual, aprumou-se. Finalmente deixou o local.

17 de janeiro de 2013

Da série – Diálogos arrebatados


__ O que é arte, Camila? 
__ O significado que transcende a matéria. 
__ Como assim? 
__ É quando a palavra consegue dizer alguma coisa que não é palavra. Quando o desenho ou a foto mostra o que não está na imagem. Quando a música revela o que não é som. Isso é arte. 
__ E qual a sua relação com o transcendente? 
__ A mesma que com o mundano. 
__ Por que? 
__ Porque é no vulgar que se escondem as coisas sagradas. 
__ E você as encontra? 
__ Às vezes sim. Muitas vezes não. 
__ O artista é um apaixonado? 
__ O artista é um perturbado. É possível fazer arte com paixão, mas é preciso sobretudo fazer arte com tédio. Quero dizer, é claro que o artista se apaixona pelas pessoas. Paixão no sentido de atração, encantamento, mas também no sentido de padecer, sofrer com elas, sofrer por elas. E se alegrar também. Todo grande prazer se parece muito com uma dor. É quase insuportável. O artista é um sofredor público. Ele não padece para ser visto, mas, já que está padecendo, ele se deixa ser visitado nesse flagrante. As pessoas passam, olham essa exposição, às vezes se reconhecem, às vezes não, e vão embora com duas dores: a delas e do artista. Mas ter consigo a dor do artista não é aumentar a dor, não. Acontece aí uma outra coisa. Essa dor compartilhada é comunhão. É sair da solidão. É descanso, é beleza. Enfim, é outra coisa.

14 de janeiro de 2013

O amor e seus castigos


Ele devia ter lá seus 60 anos quando sua mãe o pariu pela segunda vez. “Leva um casaco, meu filho.” Foi assim. Da primeira vez não conta. Não foi parto natural. Ele que se resolveu nascer quando fez 30 anos na barriga dela. Um homem nu e feito deixando o útero da mãe para dizer em seguida: “Aqui é frio. Lá dentro era mais quentinho.” 

Não sou crítica de teatro nem nada, mas a peça "Amor de Mãe – Parte 13" tem no mínimo três grandes trunfos. O primeiro se trata de atirar na nossa cara o quanto impura e imprópria é a forma como amamos, quanto egoísmo pode ser incorporado nos gestos aparentemente tão justificáveis de proteção: a mentira, o mito, o exagero, o claustro, a punição. Muita falta de amor cabe no argumento do amor. 

O segundo grande trunfo é a obviedade que não vemos: o amor, queridos, não basta. E é um gesto de amor reconhecê-lo e separar-se. Na história fictícia entre uma mãe que não quer parir o filho no mundo mau e o filho que cresce a despeito do rigor dela, fica nítido o mal estar do lugar estreito. Mas a mensagem extrapola a relação maternal. Quando o desgaste se impõe, é hora de partir. 

O terceiro é o reconhecimento do outro, da liberdade do outro, do outro enquanto outro mesmo, sabe?, aquele que não sou eu, que não pode estar infinitamente submetido às minhas vontades – por mais nobres que sejam, e nunca são tão nobres assim. Eu não posso dar liberdade ao outro, porque isso não me pertence. É preciso reconhecer a liberdade do outro e amá-lo no seu lugar. Isso é respeito. Isso é aceitação. 

No caso dessa mãe, levou muitos anos, muitos mitos, muitas mentiras, muito esforço, muita invasão, muita violência até que a verdade se mostrasse imperiosa. Quando disse ao filho para levar um casaco e aceitou sua partida, ela finalmente o pariu. 

Serviço 

Amor de Mãe - Parte 13

de 10/01 a 09/02
quintas e sextas às 21:00
Até R$ 10

SESC CONSOLAÇÃO 

http://www.sescsp.org.br/consolacao

Rua Doutor Vila Nova, 245

Vila Buarque - Centro

São Paulo/ SP
(11) 3234-3000

11 de janeiro de 2013

Registros – do que nos assalta


__ Mas se eu morresse hoje, eu poderia dizer que vivi a vida. Eu passei por muita coisa. 
__ É? Tipo o quê? Sair da casa da menina de madrugada pela janela com o pai dela querendo te pegar?
__ É… tipo isso… Sabe, ir pra balada com o pessoal e a gente se abraçava e chorava porque a vida é linda. 
__ E hoje em dia? O que te faz pensar que a vida é linda? 
__ … 

(longa pausa) 

__ Eu não sei. Acho que já passei da idade de achar que a vida é linda.

9 de janeiro de 2013

Da série - Rascunhos

[BASEADO EM GATOS REAIS]

























8 de janeiro de 2013

Crônicas de shopping – Tomo I


O primeiro passo depois da escada rolante é um pequeno passo para um homem, mas um passo ainda menor para a humanidade. 

E tanto faz. Não é contrariando seus devaneios ou se levando muito a sério que um homem decide – enfim, decide – entrar por aquela porta iluminada uma vez mais. A versão comercial da Porta da Esperança (ou Porta dos Desesperados?). Uma piadinha interna de mal gôsto que ninguém notou. Riu consigo mesmo a caminho do terceiro piso. 

Andava sempre às voltas de um relógio de praça (sem a praça). Uma referência para poder acertar o seu. Menos rigoroso do que um Kant, não sentia a necessidade de ser pontual dia após dia. Mas podia ser que precisasse, daí a importância de se regular a máquina do pulso. Menos ainda adepto da vida sadia (que vida de velhice!), desprezava ar livre e seguia reto até a joalheria. 

A qualquer momento do horário comercial, passava, parava, um aceno pras mocinhas, encarava os ponteiros da parede por alguns segundos, acertava os seus e seguia a vida no mesmo ritmo, levando em conta a eternidade. Um dia surpreendeu. Entrou. As vendedoras se entreolharam. 

__ Boa tarde – num tom baixo, cortês, muito educado. Todas chocadas. A mais nova, espírito presente, acudiu: 
__ Boa tarde. 
__ A senhorita se importaria de me dar um cafezinho? – e direcionou o olhar para outra máquina, mais ao fundo, expressa, sem números. A gerente discretamente autorizou. 

Após tomar seu pedido, quietinho, de pé mesmo, agradeceu e explicou sua vontade incontida. Foi-se embora para voltar no dia seguinte. Conferiu o relógio de parede, acertou seu pulso e partiu no mesmíssimo ritual. 

Um mês depois, acolhido já com menos espanto, voltou a pedir café e foi atendido. 

Dias depois, daí sim, confiante, deu seu grande passo: 

__ Bom dia. 
__ Bom dia. 
__ Eu poderia usar seu telefone um instantinho para fazer uma ligação?

4 de janeiro de 2013

Reunião Semanal dos Neuróticos Anônimos


__ Oi meu nome é Oswaldo e eu...

Coro: 

__ Ooooi, Oswaldo. 

Oswaldo: 

__ ...e eu sou um neurótico em recuperação mas na verdade vocês não precisam me chamar de Oswaldo por favor. É... sou... eu sou Hitler. Eu fui Hitler. Eu penso que eu sou uma pessoa eu sou isso. Eu sou mau ainda. Nessa vida eu estou tentando fazer alguma coisa para aprender a não ser mau mas eu ainda não aprendi ainda. Eu ainda estou... é... como se diz... eu estou... aqui... e eu... penso em matar as pessoas. E eu penso em me matar mas antes matar muitas pessoas. Eu penso em matar muitas pessoas. 

Pausa. 
Coro: 

__ Obrigado, Oswaldo. 

__ Boa noite. Eu sou a Graciela. 

Coro: 

__ Ooooi, Graciela. 

Graciela: 

__ Eu... (tosse) eu me separei há... 20 anos... mas eu nunca me recuperei desse meu... bem... nós fomos namorados. Nunca nos casamos. (riso) Digo, porque ele não quis. Eu quis. Começamos a namorar eu tinha... hum... 15. Quando eu tinha 20, nos separamos. Ele me traiu. (riso) Ele me traiu. (pausa) Mas daí... daí não tem mais como, né? Ele me traiu, então... (choro) É isso. Ele é casado hoje em dia, tem filhos. No penúltimo aniversário eu paguei meia dúzia de prostitutas para baterem na casa dele à meia-noite. A esposa que atendeu. Eu ri do outro lado da rua. (riso) (pausa) (choro) Eu achei graça. (choro) Mas não teve graça. No último aniversário eu mandei uma seleção de músicas do Chico e Tom por um trio dos Trovadores Urbanos. (pausa) Obrigada. 

Coro: 

__ Obrigado, Graciela. 

__ Oi. 

Silêncio. 

__ Meu nome é Ana. 

Coro: 

__ Ooooi, Ana. 

__ Oi. Eu... olha... eu acho que não tenho tantos problemas assim, mas eu estou um pouco depressiva. Não é nada grave, é sério. De verdade. Vocês não precisam se preocupar. É só que eu acho a cidade muito feia. E... eu... eu gostaria de implantar a coleta seletiva em todos os prédios... Mas os prédios também são muito feios... E as pessoas são muito antipáticas. Eu pedi demissão do meu último emprego porque a mulher gastava muita água. Quando falei que a torneira estava aberta desnecessariamente ela me ignorou. Eu fui embora. Estou procurando outras coisas, mas... Eu estou bem. De verdade. Às vezes eu choro quando acordo e quando vou dormir. E no intervalo entre uma coisa e outra. Mas não penso em matar ninguém não. Eu... também não tive um namoro assim muito sério eu... Não gosto do Alceu Valença. Minha mãe gosta. Ela fica cantando La Belle De Jour e isso é um problema entre nós às vezes... Mas está tudo bem. Obrigada. 

Coro: 

__ Obrigado, Ana.

2 de janeiro de 2013

Ano novo, enquete nova!


Caros amigos, 

Após uma tão bem sucedida pesquisa, da qual participaram, ao longo de uns três anos, umas três dezenas de pessoas, tenho o prazer de anunciar a nova pesquisa deste blog. 

É muito importante para nós que você colabore com sua opinião e mais importante ainda ressaltar que não há qualquer espécie de brinde, surpresinha ou sorteio para quem decide colaborar. A escolha é, portanto, inteiramente de vossa consciência. 

Visite a coluna da direita e contribua com seu voto. 
Ou não. 

Atenciosamente, 
A equipe de relacionamento.