31 de janeiro de 2009

Da série - Diário de bordo - Vivendo perigosamente, parte III

Mis pensamientos son más fuertes que yo.

_ Bonitas palabras. Cómo te llamas?
_ Aleida.
_ Aleida? - y me río.
_ Aleida Guevara.
_ ...Hija de Ernesto??
_ Si si si...

Me quedé a mirarla. Ellos se parecen.

29 de janeiro de 2009

Da série - Diário de bordo - Vivendo perigosamente, parte II (notas rápidas)

. Pensei que fosse mito, mas descobri que é fato que os seguros de automóveis em Belém são mais caros em comparação a outras regiões do país. Isto por causa do risco que se corre de uma manga cair e amassar o capô ou quebrar o vidro. Os motoristas tentam parar distante das mangueiras e as pessoas olham pra cima, tomando cuidado.

. Fico triste quando vejo alguma indiazinha com o cabelo tingido de loiro.

. Na tv se vê quase o mesmo do que em qualquer outra parte do Brasil. Mas os jornais impressos são mais... digamos... Bem, na capa tem sempre a foto de um cadáver ao lado de uma mulher nua. Não em todos os jornais, claro. Existem uns mais... digamos... Bem, é isso aí.

. Passei por uma rua que me lembra muito a Consolação (Sampa). Só que, ao invés de lustres, eram caixões. Uma concorrência da disgrama.

. Belém também tem uma espécie de Haddock Lobo, só que sem tênis com asas. Uma fatia de bolo é 6 reais.

. Durante a passeata de abertura do fórum choveu muito. As pessoas se abrigaram debaixo dos toldos e quase pisaram na casa de uma menina de olhos perdidos e presença imperceptível. Tive vontade de dizer pra menina que era pra ela, de dizer que quando se pensa num outro mundo possível é pra ela. Mas não tive coragem de mentir assim. E não disse nada.

. Chuveiros quentes não são frequentes. Tomar banho gelado, lavando o cabelo, a meia noite, depois de um dia cheio, acredite, pode ser uma delícia. E é. Até porquê, mesmo que não fosse, não haveria outro jeito pra mim.

. A vegetação é densa. Os pássaros moram por toda a parte. Aqui é a casa deles. Humanos são aceitos, mas não tenho muita certeza de que sejam bem-vindos.

28 de janeiro de 2009

Da série - Diário de Bordo - Vivendo perigosamente, parte I

O avião estava menos estável do que de costume e as 3 horas e meia foram passadas entre um mochileiro que escrevia cartões postais freneticamente, tapando a janelinha com a cabeça, e um alemão com seu mini-micro-lap-top e seu super hiper mega mp4, com tela plana e sound round.

As bagagens demoraram a desfilar na esteira e ouvimos as boas vindas ao som de carimbó, olhando um casal rodopiar lindamente, à moda da casa.
De madrugada foi difícil achar o lugar onde os meus me aguardavam. Por isso não achei e não tem nada a ver com o fato de estar com o endereço errado. Taxista:

_ Você vai pra esse lugar?
_ Sim.
_ Tudo bem, mas por lá é meio perigoso. Só pra você ter uma noção, em comparação com São Paulo é tipo a Brasilândia. Só que beeem pior.
_ Ah.

Ninguém respondia no barracão de madeira. Por causa disso passei a noite na casa do taxista. Ele se trancou do lado de fora da própria casa logo após me entregar o molho de chaves:

_ Você vai ficar bem aí. Eu volto pela manhã pra gente achar seu endereço. Pode pegar o que tiver na geladeira e tomar um banho. Na sua mão estão todas as chaves. Porta, portão, chave do carro. Descanse. Até amanhã. Fica com Deus.

No dia seguinte achei minha galera e, graças, estavam numa casa com energia elétrica e fora da rota do tráfico.
Do mais, o típico do fórum. Passeata, bandeiras de partidos, camisetas do Che.

Os dias aqui são longos e me parecem mais claros do que em São Paulo. Chove todos os dias. Chuvas torrenciais precedidas e sucedidas por sol forte. Nunca alaga e a chuva daqui é mais gostosa.

A desigualdade social é marcante. Mas quem se importa
? Em São Paulo também é. No Rio de Janeiro também. O que me faz concluir algumas coisas.

Ontem, dentro do táxi, ouvindo histórias sobre a juventude, pedimos um brega, ao que o motorista respondeu que não gostava. Preferia Johnny Rivers. Era uma gravação. Depois veio Elvis. Depois, acredite se quiser, Leoni:

...Não fala nada
Deixa tudo assim por mim
Eu não me importo
Se nós não somos bem assim...

24 de janeiro de 2009

Só talvez...


É (bem) p(r)o(vável)ssível que nos próximos dias (uma semana e meia) este blog entre num ritmo (consideravelmente) atípico, por um motivo (não) muito simples: a autora estará na localidade indicada pelo mapa, trabalhando na cobertura do Fórum Social Mundial (informe-se).
Como se pode observar na ilustração ricamente significativa, é uma região um tanto quanto amazônica, o que não necessariamente (com certeza) quer dizer que a conexão ao mundo virtual será disputada a arco e flecha. Ou seja, (vossa alteza) a autora está automaticamente (mais do que) eximida de quaisquer responsabilidades pelo temporário abandono de seu próprio espaço, o que (de modo algum) não impede os leitores de espanar o pó por aqui em sua ausência, criando um clima de (agradabilíssima) expectativa (tambores rufando) para o (triunfal) retorno da (digníssima) escrivã.
Agradecemos a compreensão de todas e todos (ai daquele que não compreender!)
Sem mais
ass.: A equipe de assessoria e informes da equipe de assessoria e informes da autora, que tem até assessores para seus assessores, logo, não precisa se auto-assessorar.

23 de janeiro de 2009

Indubitável

_ Você é muito dado!
_ Não sou não.
_ É sim!
_ Eu tô aqui dizendo isso só pra você.
_ Não! Você dá suas palavras para todo mundo.
_ Não. Eu não daria as minhas palavras pr’aquela senhora, por exemplo, ou pro segurança.
_ Ah... mas você dá suas palavras pra todo mundo que você conhece!
_ Mas não essas palavras.
_ Dá sim! Pra todo mundo.
_ Tá. Você está certa. Você ganhou.
_ Ganhei?
_ É. Realmente eu dou minhas palavras pra todo mundo. Porque você é o meu mundo. Então o mundo todo as tem.
_ !!!
_ É mesmo uma sorte viciada.
_ Você sempre vai perder?
_ Não.
_ Você sempre vai ganhar?
_ Não.
_ Não mesmo, porque você perdeu agora.
_ É. Mas ganhei. Até quando eu perco eu ganho. E vai ser sempre assim.
_ ...

21 de janeiro de 2009

The way I feel about love

“What are you doing, my dear?” said a mother to her small four-year-old daughter.
“I’m writng a letter to Helen”, the little girl answered.
“But dear,” said the mother, “you don’t know how to write.”
The little girl continued to make marks on the paper with her pencil and answered: “Well, Helen doesn’t know how to read, so it doesn’t make any difference.”


Robert J. Dixson

19 de janeiro de 2009

Dificuldades

_ Pss! – disse Ford. – Escute, pode ser importante.
_ Im... importante?
_ É o comandante da nnnnnlkkjhgfdrtyuijnbv bnjhggg
...
...
_ É o comandante da nave dando um aviso.
_ Quer dizer que é alkjhuikj nijhgfv bvgtyuijn nkiojhgvfb
...
...
_ Quer dizer que é assim que os vogons falam?


E como se não bastasse não ter amortecedores, ainda por cima não tinha silêncio. Tinha um monstrinho, desses que chamam de crianças, em um banco próximo, gritando a plenos pulmões, só pra testar a capacidade de sua vozinha estridente e irritante competindo com o motor.
Quem pode ler assim?

Guardei-o.

18 de janeiro de 2009

Só sei que nada sei

Quando eu era pequena me chamavam para fazer algumas coisas nas quais, via de regra, eu obtinha uma média de sucesso considerável.

Corrida da colher com ovo, por exemplo. Eu era ótima. Ia equilibrando aquele ovo com a colher na boca até o Texas. Sem problemas.

Tirar ponta de lápis do apontador também era comigo mesma! Eu era capaz de desentupir qualquer apontador de qualquer ponta de qualquer lápis em 3 segundos. Minhas unhas tinham um encaixe perfeito e eu fazia propaganda de mim na sala. “Seu apontador entupiu? Dá aí que eu arrumo.” E adorava ouvir um “Nossa... obrigado! Você é boa nisso!”

Mas me chamar pra gincana na escola ou pra desentupir apontador era fácil, embora eu não tivesse celular. Aliás, não tinha nem a idéia, nem o conceito de um celular. “Celular? Que é isso?” Mas eu ficava ali a tarde toda. 5 horas por dia de segunda à sexta.

Daí que eu cresci e descobriram muitas coisas que eu não sei fazer bem.
Lidar com meus telefones, por exemplo.

17 de janeiro de 2009

Every sense into nonsense

_ Pai, não gosto da guerra.
_ Por quê, meu filho?
_ Porque a guerra faz a História e eu não gosto de História.


E eu não gosto de guerra. Nem dos filhos dela, nem de seus pais.
Mas não vejo outra forma de acabar com ela senão amando-lhes todos.

Créditos

Há quem saiba fazer alguma coisa bem. Quem cozinhe bem. Quem cante bem.
Mas não conheço gente que saiba fazer melhor do que aquelas que unem seus talentos para o melhor.
Estava eu querendo um novo look pro nosso canto, quando um ilustrador bonitão ofereceu seus serviços. E sou grata, não tanto porque tenha ficado lindo, mas porque tem significado. E sou eu. É o meu perfume exalando aqui. E não seria se não fosse ele.
As ilustras são do Glauber Lopes. E as palavras são minhas.
Exceto a menininha nua no final, que é um charminho xupinhado de outros espaços, o resto é nosso.
É nosso porque fizemos juntos. Imagens e verbos dialogando.
E vocês não viram tudo, porque este espaço é limitado.
Nós, ilimitados que somos, voamos alto. E algumas coisas não cabem em molduras.
Obrigada, Glauber Chuck Lápis!
Não só pelas ilustras, mas também e principalmente por tudo o mais que é nosso...

14 de janeiro de 2009

"Speech acts"



Photo by Camila Caringe. De uma edificação silenciosa, em um lugar barulhento, sobre algo que a palavra não alcança. Afinal, pedra não pensa.







Austin já dizia, em How to do things with words (1962) do poder das palavras como ação, não como antagônicas da ação. Como por exemplo quando se diz "eu prometo". Isso já implica numa ação que é a própria promessa. (That's the illocutionary force.)

E quando eu digo que "não prometo" também é uma ação. A de não prometer. Logo, minha ação seguinte pode ser qualquer uma. Livremente. Porque eu não prometi nada. Isto é, partindo-se da premissa de que liberdade é possível. Total. Ou parcial? Ou é impossível? Negociável.

Bem, posso resolver o impasse, tomar outra atitude ilocutória e ordenar. Ou agradecer. Ou criticar. Ou te matar. Quer ver?


_ Bang bang!


Viu?
Morreu!
Mas não quero mais brincar disso...

12 de janeiro de 2009

Sobre nada

Se a existência de uma pessoa pudesse se dividir no seu próprio tempo, nos seus próprios feitos e no espaço que si mesmo ocupa, então perceberia que a dissociação gera um imenso vácuo, incidindo na inexistência de expressão. Porque tempo, espaço e movimento se precisam.
Quando o dia nascer as consequências estarão finalmente nuas. Todos escolhem o que serão no próximo minuto. Por isso, todo minuto é mágico. O exato momento em que acorda, o instante entre dar esmolas ou mudar de calçada. Tudo foi uma sequência doida do segundo anterior e anterior... Parabéns! A maneira como você escolheu viver seus segundos até este exato segundo, fez com que você chegasse até aqui. Lamentando ou se orgulhando, sorria. Você se trouxe até o aqui e o agora. Tempo este que acaba de acabar...

...E de recomeçar...

10 de janeiro de 2009

Aos desconhecidos...

...As respostas que não dei:

_ Que linda blusa! Você fica muito bem de preto.
_ Obrigada! Muito gentil de sua parte.
_________________

_ É... Que pena que a gente não pode comer tudo o que quer.
_ Azar de uns, sorte de outros...

9 de janeiro de 2009

Contra di (a)ção


Sem legenda, mas com uma explicação: é a improbabilidade da possibilidade perfeita. E, sendo imperfeita, é mais do que o suficiente para ser imperiosa. Vontade.

8 de janeiro de 2009

Resgates

É preciso aprender a resignificar as coisas.

6 de janeiro de 2009

Não mais que isso


Se as palavras pudessem criar vida e sair do papel toda vez que alguém as lesse, gostaria que as minhas palavras criassem pernas e corpinho, que fossem brilhantes e tivessem voz sedutora. E que possuíssem olhos. Grandes olhos que iluminassem como faróis cada cantinho escuro da alma do leitor. Mas que não tivessem mãos. E, não tendo mãos, que não tivessem braços e sim asas, para que não pudessem se apegar ao mundo e suas amenidades costumeiras, e seguissem voando e encantando mentes e corações feridos, transformando conhecimentos obsoletos em paixões. E que pudessem desaparecer deixando um rastro de poeira cósmica e saudades toda vez que um alguém fechasse um livro.

Gostaria que o efeito da presença de minhas palavras fosse eterno, mas que a presença em si fosse rápida, preciosa, transparente, para que as pessoas prestassem atenção, simplesmente porque sentem que aquilo é especial, ainda que seja comum.
Minhas palavras seriam cantoras, intérpretes, dançarinas, instrumentistas e, acima de tudo, seriam sorridentes.
Serezinhos coloridos que soubessem fazer pão, cortar cabelos e revolucionar o sistema latifundiário do país.
Palavras que durassem para sempre, mas não mais que 15 segundos.
...Que fossem eternamente breves, brevemente eternas...

5 de janeiro de 2009

A carta de areia

Dia desses me perguntaram o que haveria na minha lápide.
Não soube responder, sem lembrar que já havia respondido, não a quem perguntou, mas a mim.
Respondi há mais de um ano atrás. Achei sem querer essa resposta. Nem limpei, nem cuidei e aqui está:

Não tentem me salvar
Deixem-me partir, perder
Nas sombras da névoa
Que tudo leva
Deixem-me ir
Que tudo o mais acaba também
E minha hora é essa
Deixem
Que a vida é mais que vida e morte
Bem mais que amor e sorte
É a lembrança eterna
Das estribeiras perdidas
Em risos e lágrimas
Tijolos de um castelo
Que contam uma história
Sem... (e)
Fim.


E haveria para tanto até uma trilha sonora...

4 de janeiro de 2009

2 de janeiro de 2009

...As I am sometimes...

1 de janeiro de 2009

Ao adorável desconhecido...


Uma presença abrilhantou esta sorte. Não sei de onde veio, a que veio, para onde foi ou se voltará. O fato é que Emanuel costurou lindas palavras nesta colcha de retalhos.
Quando escrevo, Emanuel e outros, digo de mim sem dizer de mim. Faço graça, faço poesia, não faço nada e ainda desfaço. Mas você, amigo, leu até o que não havia, precisamente como se houvesse. E havia. Não aqui neste espaço, mas aqui dentro.
Analisando o fluxo de visitas aqui do meu canto, surpreendo-me pensando sobre porque alguém da Malásia entraria neste blog. Polônia, Finlândia, Hong Kong, Irã? Não não. Não tenho amigos ou familiares nesses lugares. Então, quando a gente escreve, não sabe pra quem. Nunca temos a exata noção do caminho de nossas idéias. É bom saber que, de alguma forma, mereci sua atenção e seus comentários. Grata pelas palavras. Não só do Emanuel, mas de todos que por aqui passam. Eu sou vocês por detrás de uma tela. Meus pensamentos poderiam estar sendo engavetados. E foram e são, de vez em quando. Mas fiz a escolha de lançá-los fora. E eles voaram. E se encontram com o de vocês. "Um facho de luz indizível se fez quando nos miramos mútua e simultaneamente." Que seja assim.