28 de janeiro de 2010

Pura implicância

Numa cama de solteiro em um quarto escuro:

Menina: _ Por que você ainda não dormiu?
Menino: _ Porque eu não estou com um pingo de sono.
Menina: _ Mentira. Tá sim.
Menino: _ Não, não tô. Mas você sabe mais de mim do que eu, né? Longe de mim querer saber de mim.
Menina: _ ...
Menino: _ ...
Menina: _ ...
Menino: _ (((ronco)))

27 de janeiro de 2010

Nostalgia

Eu comprei depois de muitos anos. Acho até que nunca nem tinha comprado pra mim mesma antes. Talvez até nunca tenha comprado pra ninguém. Minha mãe é que comprava pra mim até cair no esquecimento. Mas era a parte que eu mais gostava na escola. A professora virava aquela caixona cheia e a gente escolhia umas bolotas de cores já misturadas. No começo era duro, difícil. As bolotas eram frias e inflexíveis. Depois, com o calor das mãozinhas, ia ficando mais fácil.
Eu, particularmente, não gostava de misturar as cores. Ficava com dó. A mesma dó que eu tinha de riscar o livro.

_ E se depois outra pessoa precisar? Já vai ter as respostas! Não pode!

E eu não riscava. Então também não misturava. Quando fazia gentes, sempre me preocupava em não apertar muito os olhinhos pretos na cara, pra depois poder desgrudar. De qualquer forma era uma dor no coração. Ter que desmontar tudo que a gente levou horas no maior capricho pra fazer e vai-se embora de volta na caixa em forma de bolota outra vez. E eu pensava que eu era boba, porque as outras pessoas misturavam as cores todas sem dó. Tinha vezes que eu pegava umas indistinguíveis: verde com marrom e roxo, por exemplo. O que se faz com isso? Não podia ser casa, não podia ser gente, não podia ser nada. Uma cor feia daquela espantaria moradores e amigos. Será que as pessoas não pensavam nisso? Ainda que misturassem, mas tinha que ser uma combinação tão tão horripilante?
Eu ficava brava e pedia pra professora trocar aquela bolota pra mim.
Mas legal meeeesmo era quando era nova, que vinha no potinho. Tinha cheirinho de chiclé e eu tinha vontade de morder. Uma vez mordi e ficou tudo grudada no meu dente. Descobri aí que o gosto não valia o cheiro e desisti. Anos mais tarde provei um sabonete azul e confirmei a tese. Mas pelo menos sabão deixa limpinho.

_ E aí? É bom?
_ Não. Eu não gostei... (Ptú!) Que ruim...
_ Ah... então eu não vou colocar na boca, não... Já comi areia esses dias e também não gostei...
_ É... areia não parece bom. Mas massinha pareciiiiia...

Comprei um saquinho ontem.
Abri e senti o cheirinho de chiclé. Mas essa é da boa. Já vem molinha.
Fiquei apertando na mão uma bolotinha vermelha. E não peguei outra cor até guardar a primeira, pra não misturar. Agora sou eu que decido quem vai brincar porque a massinha é minha! E não vou deixar ninguém misturar e fazer cores feias.
...Nem morder.

21 de janeiro de 2010

Too much

_ Smoke?

_ No.

_ Drink?

_ No.

_ Drugs?

_ No.

_ Think?

_ Yes, trying to quit.

11 de janeiro de 2010

Start!

Imaginei que o sonho americano tivesse acabado, que as pessoas tivessem caído na real e talz. Mas não. Filas gigantes. Fila até pra ficar na calçada. E um tanto surreal:

_ ¡Buenas tardes, señorita!
_ Mas aqui é o consulado dos EUA. Você deveria dizer isso em inglês, não?
_ Ah... É que em inglês eu não sei. - respondeu o segurança.

Um guichê pra cada coisa, só não muda a expressividade.

_ Documentos?
_ Aqui.
_ Preciso de uma foto sua sem franja. Tem?
_ Não.
_ Ok.

Ok?
Fantástico.
Algumas pessoas até se comportam como robôs, pra elevar o nível da performance:

_ Hola por favor maum djireita. Isquerda. Dedos assim chuntos. É só esperar obrigada tchao.
_ Ah... bem... obrigada.

Próximo guichê:

_ Vai fazer o quê lá?
_ Vou acompanhar uma reunião de... blá blá... convidada da ei-éf-él-ci-ai-ou e minhas despesas... ai-ou-él.
_ Ok. Pegue seu pásspórt na sexta.
_ Obrigada.

Não sei se foi sorte, se foi pela palavra "jornalista", "sindicalistas", "reunião", se foi pelas siglas, se foi um colapso de ondas de possibilidades quânticas, uma coincidência aleatória ou a noite anterior do cônsul. Mas... B1/B2 de 5 anos.

_ Sééério? O meu foi negado. Me fizeram um monte de perguntas, o cônsul começou a falar inglês comigo, fui tão humilhada... Saí de lá chorando. Odeio os americanos.
_ Que ruim.

E fui.