22 de agosto de 2012

Milagre


_ Não foi de nada, criança, serve de coisa alguma.
_ E quando foi de descobrir isso, vó?
_ Ah, isso faz tempo.
_ Muito?
_ É. Muito descoberto...
_ Tempo, vó! Faz é tempo?
_ Ah, sim! E espaço também, menino.
_ Como é que foi?
_ Bobage.
_ Mas como?
_ Bobage minha.
_ Tava calor... Tava frio... Foi o vô, foi?
_ Pra ele.
_ Pra ele o quê, vó?
_ O milagre. Eu disse que foi pra ele.
_ Pois não foi?
_ Sei não.
_ Por que cê disse então?
_ Porque eu queria que sesse.
_ Por quê?
_ Tava bonito.
_ Por quê?
_ Porque o sol, menino. O sol termina de nascer tem hora.
_ E depois?
_ Daí é dia.
_ E antes?
_ É noite.
_ E bem naquela horinha, era o quê?
_ Milagre.
_ O quê é milagre, vó?
_ A coisa improvável que Deus quis.
_ Quê foi que Deus quis que cê deu pro vô como se sesse dele sem saber se era?
_ O sol, menino. Dei sol pra ele.
_ Mesmo??? E como foi isso? Pegou na mão, foi?
_ Não. Peguei na parede.
_ Pegou na parede e como foi?
_ Deixei lá o sol nascendo. A janela tava fechada e as frestinha desenhando um tipo de mosaico na parede, com os elos assim, tudo infileradinho, como anéis de luz assim, mexendo devagar. O sol nascendo e os elos iam tudo indireitando, unindo, sabe? Falei pra ele que era milagre.
_ E era?
_ Era.
_ Como cê sabe, vó?
_ Ah, se nota.
_ O sol nasce todos os dias e eu nunca notei milagre disso.
_ Mas aquele sol era milagre. Tem sol que não é não.
_ E como cê sabia que aquele era?
_ Aquele tinha seu vô ali pra olhar. Quando eu disse "olha!" ele já tava atrasado, mas ficou na cama comigo pra ver o sol na parede porque eu disse que era milagre. Então ficou sendo.
_ Eu vou dar um milagre pra alguém um dia também.
_ Ou não, menino.
_ Por que não, vó?
_ Já não falei que milagre não tem serventia?
_ Por que cê deu um pro vô, então?
_ Porque eu tinha um.


20 de agosto de 2012

Criança Esperança


Um flash digno de nota:

_ Minha mãe é japonesa... e... meu pai... é japoneso... Então... eu... sou japonesa... mas só que eu sou pequena.