26 de novembro de 2006

"Que fechem novamente as cortinas!"

"A miséria é a riqueza, a miséria é a própria política."
"A crise nos inclui na política. Aliás, crise no Brasil é quando a política fica visível para a população."
(Arnaldo Jabor em seu livro: Pornô Política)


(photo by Camila Caringe)

...Porque o show business é assim: aquele desfile de candidatos que emergem do Carnaval da Bahia, dos escândalos de corrupção, dos programas de fofocas e das colunas policiais, quando não do "não-se-sabe-de-onde", que parece ser o lugar preferido. Talvez a nascente da utopia barata. Beeem baratinha...
E a coisa toda é bonita. Argumentos, pedidos, apelos e súplicas por seu voto. Alguns , com seus dentes branquinhos sorriem desejosos da simpatia pública. Há quem apele para sua opção sexual, para sua etnia, cor, passado, pobreza, riqueza, enfim! E há, também (claro!) os mais persuasivos, como a gatinha semi-nua que posa em seu flyer pró-candidatura (a tal de Camila Kiss, cujo slogan era: Vote gostoso, vote com prazer)...
É bonito de se ver! Tão bonito quanto os contos de fadas que são costumeiramente contados às crianças antes que adormeçam, e - pasmem - surte o mesmo efeito! Inclusive quanto aos pesadelos.
Aí o espetáculo acaba e faz-se o balanço. Entre lucros e perdas, mortos e feridos, regressam os tão populares anti-heróis, consagrados por seus erros e pela desesperança maciça, massiva e convicta.
Que sejam bem-vindos os bons e velhos monstros mutantes assassinos que inspiram os quadrinhos de Calvim e Mafalda.
Tão lindinhos, disfarçados com o ultra-revolucionário-pós-moderno "botoxyoungforever"...
Mas, eu não seria eu se não desse nomes aos bois, bem no formato "parábolas bíblicas para crianças", como "os monstros" fazem comigo - o povo: Era uma vez um jovem comunista lutando na Guerra do Araguaia. O jovem chamava-se José Genoino, na época já conhecido como Zé 3 tapas, por sua agressividade peremptória junto ao inimigo. Porém, como todo bando abriga um Judas, "alguém" denunciou as atividades políticas do grupo. Todos os membros sofreram represálias. Quem não teve a sorte de morrer logo, foi preso e torturado. Todos, exceto um: Genoino. Mas minha ética não permite que eu vá além no conto de horror e diga ao leitor quem foi o traidor. Falo apenas dos traídos. Perdoe-me a fraqueza... É que tiraríam esse blog do ar se eu ousasse.
As eleições - também conhecidas como "Festa da democracia" - acabaram.
Sorte a você, amigo!
"Alguéns" votou sem saber em quem. Agora?
_Que fechem novamente as cortinas. Sorte a nós...!

Camila Caringe.
25/11/06

19 de novembro de 2006

Habitat Industrial tem seus dias contados.

( photo by Camila Caringe)

Economia não tem nada a ver com meio ambiente, mas disso todo mundo já sabe. Economia é a tão somente a ciência que trata dos fenômenos relativos à produção, distribuição e consumo de bens. Isso não tem nada a ver com árvores, florestas e esquilos fofinhos de desenho animado correndo com nozes nas mãos...
Tal maravilhosa ciência apenas prevê fluxo, nunca estoque. O estoque não importa. E não tem nada a ver se, para construir um único carro sejam utilizados 22 mil litros de água potável. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa... (meu sofisma preferido!)
O inglês Nicholas Stern, chefe do serviço econômico do seu país, ex-economista-chefe do Banco Mundial e formado em Cambridge e Oxford, realizou minucioso cálculo sobre o impacto financeiro da degradação ambiental. Segundo ele, nenhum gasto muito superior à marca de 7 trilhões de dólares. “Se deixarmos as coisas tal como estão hoje, o planeta vai perder entre 5% e 20% do PIB mundial. As perdas econômicas para os países pobres serão bem maiores do que as verificadas nos países desenvolvidos por várias razões: geografia – superaquecimento de países mais próximos à linha do Equador –, limitação das atividades econômicas – já que dependem mais de produção agrícola -, dispõem de menos dinheiro para investir em formas de se proteger contra os efeitos do aquecimento global.”
A você, caro amigo que adora escovar os dentes admirando a água corrente da torneira, saiba que a cada 8 segundos desaparece um campo de futebol na Amazônia. E esta corresponde a 70% da pluviometria do país. Ou seja: desaparece nossa amiga, desaparecemos nós.
Nas últimas décadas o processo de extinção foi maior do que os últimos 65 milhões de anos, efeitos causados pelas “divinas” mãos humanas.
Pensemos: a natureza é um sistema circular, é regenerativa, finita. A idéia do “jogar fora” é pequena, ilusória e confortável. Mas nada se joga fora do mundo. Vai para algum lugar. No entanto a economia capitalista não prevê. Esta é linear, degenerativa e infinita. Produz-se numa linha crescente, joga-se fora o que não serve mais e produz-se novamente. Logo, o Katrina (tempestade tropical que alcançou a categoria 5 da Escala de Furacões de Saffir-Simpson, atingindo a costa dos EUA em 2005), do ponto de vista social foi uma tragédia, mas do ponto de vista econômico foi uma grande oportunidade (reconstrução, geração de empregos, fluxo de caixa), ainda que tenha provocado nada menos de 1833 mortes.
Pensar em alternativas é simples, mas não é fácil: reciclagem, desenvolvimento sustentável, conscientização, prioridades, políticas governamentais de braços dados com população interessada em fazer diferente.
Em vinte anos começaremos a sentir de maneira drástica as conseqüências do que fizemos até agora com o planeta azul. A sorte foi lançada. Estarão nossos destinos em dados viciados?
...

Camila Caringe

(Entrevista de Nicholas Stern na íntegra pode ser encontrada na revista Veja de 08/11/06)