...Damião…
...Damião.
De repente nunca me pareceu tão bonito aquele nome, assim como qualquer outro. Nunca um nome foi tão bonito assim. Damião.
Damião é nome de coisa forte, de gente que dura, rija, sobrevivente, audaz. Nome de desbravador tinha aquele Damião e todos os outros. Damião podia ser nome de rei. Rei Damião II. Pra quê tantos Pedros, Luíses, Augustos, se Damião era tão... hum... Invicto? Nenhum Damião havia jamais avançado por entre as minhas pernas, por exemplo. E, por exemplo, nenhum Damião jamais se sentou a mesa para comer comigo. Nenhum Damião que eu conheça foi galã de novela das oito. Nenhum Damião fez sucesso como um Michael. Conheço muitos Michaels de sucesso, mas não muitos Damiãos. Não conheço um Damião que tenha pintado uma capela, sistina que não fosse, nem carecia. Que tenha pintado uma telinha e alguém o tenha admirado por isso. Tá, vai, que tenha feito um silk numa camiseta. Damião conheço não.
Damião é nome de quem usa chapéu. Parece, não parece? Soa. Damião passando assim, num finzim de tarde com um cigarro de palha na boca. E das portas das casas lhe acenariam. “Tarde, Damião.” “Tarde” ele responderia todo vaidoso de lhe lembrarem o nome.
Damião podia ser herói. O corajoso Damião que salva a princesa Creolina no último mal do último segundo ruim de uma história que qualquer contasse. Damião se poria num jeito ousado e irrepreensível entre a princesa em prantos e uma gazela metade chimpanzé que ria da desgraça de uma família irreal. Surreal. Damião se lançaria na frente das chamas, na frente das balas perdidas ou miradas, na frente das espadas, dos canhões e, no grito, no suspiro já desesperançado, eis que Damião surgiria e salvaria a pátria, o amor, a vida, o próprio Deus.
Sim. Damião é um bom nome até pra Deus. Por que acreditar num Deus quando se pode acreditar num Damião? Eu nunca vi um Deus, mas já vi um Damião. Não jantei, dormi ou trepei com um Damião, mas aí é que tá. Assim Damião conserva essa aura de mistério, esse ser intocado, aquele mesmo invicto. Damião se jantou eu não vi, mas já deve ter feito milagre. Aquele pelo menos já deve ter feito. O meu muso, inspirador de minhas intrépidas reverberações internas, de meus questionamentos, trator de meu juízo, íman de meus olhos, aquele Damião ao qual me refiro, coloco minha mão no fogo se já não foi santo.
Ele passou assim por mim, num final de tarde em que ninguém o cumprimentou. Ele passou, não lembro se com chapéu ou sem, mas decerto teria ficado mais bonito com. Já era noitinha cedo, porque era outono invernando. Damião passou bem diante de meus olhos e eu, que sabia que se punha ali um legítimo Damião, nada disse. Olhei só. Fiquei olhando e olhando, até não olhar mais. E, antes que ele sumisse no horizonte da esquina depois do ponto de ônibus daquela ruazinha poluída de tudo, pude ler nos sacos brancos de estopa, grandes os sacos, do tamanho dele próprio, que levava com força, com determinação, pude ler: Damião.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
4 comentários:
Prefiro chamar a Deus de Damião do que de Jeová.
Quanto a um Damião famoso, eu conheço um que lançou varios discos, o "Damião Experiença": http://www.damiaoexperienca.net/
Gosto mais do Cosme....
Não conheço nenhum Damião. Talvez, Damião como não sendo o nome de nenhum galã de novela das oito, de nhum cantor famoso, de nenhum pintor ou santo, talvez seja por que Damião está não só em Deus, mas também em todos nós, ali, escondidinho.
;D
eu sou quase.
Postar um comentário