31 de maio de 2011
1, 2, 3 e... corta!
_ A senhorita está esperando alguém?
_ Não. Por quê?
_ Hoje é meu dia de sorte então...
_ Por quê seria?
_ Uma moça tão bonita se sentar ao meu lado...
_ Existem muitas moças bonitas por aí.
_ Mas você é especial.
_ O quê te faz pensar que eu sou especial?
_ ...especialmente bonita.
_ Hum. Obrigada.
E foi a última vez que nos vimos.
29 de maio de 2011
Pequeno grande desafio
_ Vem!
O outro vacilou.
_ Espera! Olha bem!
Os dois vacilaram.
_ Segura forte! Não deixa cair!
O outro apertou na mãozinha.
_ Deixa eu olhar. Pronto! Vem! Rápido, rápido, rápido, corre, corre!
E o menorzinho chegou ao outro lado da rua, com os chicletes a salvo.
_ Me dá! Vamos dividir! Dividir! Esse é meu, esse é seu...
22 de maio de 2011
Criança é besta
Não canso de me lembrar de quantas vezes fui ludibriada, enganada, torturada ou feita de boba por esse mundo mau quando eu era pequena. Hoje em dia isso ainda acontece, mas por razões maiores, mais nobres, como amor, dinheiro e as tortinhas de limão da mãe do Rakal. Só que quando eu tinha nove anos, não havia tanto discernimento no meu pouco juízo e eu me vendia por pouco:
_ Mas mãããe... Ele é feito pras crianças que não podem ter bichos em casa! Não faz sujeira, não faz barulho! Deixa, vai, mãe! Nem é tão caro...
A maravilha dos anos noventa. Depois da agenda eletrônica da Cassio, que fazia caricaturas e tinha controle remoto universal, nada era mais ultra-moderno do que o bichinho virtual. Depois dele, ficar mudando os canais da TV da vovó sem ela notar nem tinha mais tanta graça.
Eu poderia postar aqui, para vosso deleite, uma foto minha vestida de freira, segurando um crucifixo do tamanho do meu próprio tronco, com cara de poucos amigos e uma genuflexão forçada pela professora-freira atrás da câmera que me desferiu o golpe do flash, maculando minha integridade para todo o sempre.
Mas não.
Basta dizer que aquela primeira comunhão foi atormentada pelo amor de mãe. A minha ainda alertou, antes de eu sair de casa:
_ D'aquí! Deixa seu bichinho virtual comigo! Eu cuido enquanto você estiver lá!
_ Não precisa, mãe! Eu cuido! Deixa!
_ Não vai ficar mexendo nisso lá, hein?!
_ Não, não...
Pois amarrei meu bichinho naquela espécie de ceroula por baixo do hábito e lá fomos nós. Bichinho, calcinha, roupinha de freira, terço e eu, no carro do papai. Durante a cerimônia... “Ai meu Deeeuuusss... E se o bichinho estiver com fome? E se estiver com sede? E se estiver com calor? E se eu tiver que dar uma injeção? E se ele morrer enquanto eu estou aqui???”
_ Tia! Preciso ir no banheiro... He...
_ Venha.
E lá ia a chatinha comigo, até o banheiro. Eu tinha só o espaço da casinha para me mover, arrancar o bichinho do meio daquela roupa toda, alimentá-lo, colocá-lo pra estudar, dar água, recolocá-lo entre as saias, dar descarga para disfarçar e sair do banheiro com cara de alívio por nada. Isso repetido umas cinco vezes durante toda a comunhão. Afinal, era só apertar o botão, mas eu não queria que ele morresse. Amor de mãe, sabe?