30 de julho de 2011

Danação

Após o prenúncio do abismo, seguiu adiante como quem pisa em si mesmo no pisar do chão. Foi-se indo vagarinho, destemido, até o suor fazendo pose na testa, pra ficar bem na ressequidão. Chegou na beira e não parou, porque já havia cogitado ser ali um milhão de jeitos, coçando o queixo e se curvando e sentando e se pondo de pé.

Um milhão de jeitos, tudo estudado na vida, como cair, ralar, quebrar. Conhecia, se conhecia e estava lá mesmo, sem sustento pros pés, vento dentro da barriga, o ar parado de fora lhe entrando e saindo, seu arbítrio estrangulando.

A terceira campainha tocou, as cortinas se abriram e ele aterrissou, corpo, alma e consistência. Um piano lhe caiu no superego e de repente tinha nascido um outro, que lhe emprestara o corpo e, com sorte, devolveria no final.

Um comentário:

Magno Nunes disse...

Pianos são pesados. Eu entendo.