17 de agosto de 2011

Lar

...Que a vida é encantada e, ademais, eu também fazia cabaninhas quando criança. E era generosa! Fazia para minha irmã e eu morarmos juntas! Alegria nossa era viver à parte (no meio da sala), pra sempre (por meia horinha, até que cansávamos), numa casa só nossa, só com as nossas coisas (tudo furtado dos cômodos oficiais). E ficávamos lá, fazendo nada até nos dar de tédio à claustrofobia e resolvermos “dar uma volta” e ser gente da família de novo.

Alguma vez era de armação precária a casinha. Eu, a mais velha, sustentava o edredom no ar com as próprias pernas. Outra vez, cismava de construir direito e rijo, com duas cadeiras, uma de cada lado, teto e paredes de cobertor amarrado e nós no meinho.

Dada minha vasta experiência, não pude deixar de notar a delicadeza e regularidade com que outra cabaninha era feita.

Uma caixa de papelão formava um triângulo com o muro e o chão. Um cobertor por cima conferia resistência e calor à morada, com um rasgo fino e preciso na lateral, para ventilar sem comprometer a privacidade. Uma vassoura gasta teimava em escapar e se deixar ver, que não entrava inteira no espaço. E eu sabia, por isso, que o morador o varria.

Eu passava naquela esquina e olhava pra cabana. A cabana se deixava olhar. A vida era, então, desencantada.

5 comentários:

Amanda Proetti disse...

Te acho demais!!! Opa... já disse isso. ;)

Magno Nunes disse...

Camila, a engenheira...

Quando eu era pequeno eu construia uma cidade com caixas de sapato...

Dai, depois de tudo pronto, eu ia lá e... tal como um gigante de 6 anos... DESTRUIA TUDOOOOOOOOOOOOO AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA AHAHAHA...

Pois é... quando pequenos escolhemos cada coisa... Uns querem ser gigantes, e no fim morrem de fome jornalisticamente falando! =D

Felipe Teles disse...

Quando criança eu também vazias varias cabanas em casa com cobertor e outros.
Dia com caixas que eram portas...
E cobertores com vassoura e sofa.
Criatividade de geminiano em alta.
As vezes pra fugir do mundo de fora outras pra criar o meu mesmo, outras os dois.
Mas quando sai da cabana, fui lá pra fora, peguei um skate e martelei madeiras de um armário velho nele, cortei e fiz portas com dobradiças e um cabo de vassoura com um volante que encontrei no quintal de um antigo carro do meu primo.
Quando terminei eu não cabia nele.
Mas isso não me importava nem um pouco, eu já tinha conquistado meu carro do skate e só pensava em como ele seria amis rápido e bonito, sem nunca entrar nele.
Eu desencantei uma idéia e fiz dela verdade quando sorri ao mostrar pra minha mãe que me bateu claro, porque o skate era novinho e agora todo furado e sem freios.
Apanhei, mas apanhei sorrindo rs...

Joey Marrie disse...

Época boa essa. Lembro que eu e meus irmãos costumávamos fazer cabaninhas no quintal de casa com folhas de açaizeira. Algumas eram tão firmes, que até "esteios" tinham e podíamos passar chuvas lá dentro sem nos molharmos. Construíamos pequenos armários e enchíamos com guloseimas.
Até que chegou um dia em que pai ficou doente e mãe viajou com ele pra capital. Aí nos vimos com uma casa de verdade nas mãos, crianças que éramos, agora então, responsáveis por nós mesmos. Nessa mesma época foi que eu vi que pessoas moravam de verdade em casinhas de papelão pelas ruas.
Depois desses dois episódios, não me lembro de ter construído mais casinhas no quintal...

Nicole M Marcio disse...

Que saudade do encanto da infância! Adorava montar cabaninhas, viver novos mundos.