15 de agosto de 2011

Três da manhã

A madrugada deveria ser sagrada. Seu pico, a hora mágica de todos os anjos. No silêncio fácil eu descubro porque mesmo foi que me ocorreram as idéias e lembranças mais estúpidas e dramáticas, como casamento, tagarelices e as péssimas propagandas do guaraná Dolly.

Na imperturbabilidade de uma cidade no escuro eu consigo escutar o celular da vizinha vibrando sobre uma superfície dura. Imagino, então, com pudor súbito, o que ela deve escutar de mim.

Declarações, nascidas íntimas e sorrateiras, viram cânticos dionisíacos para a não-platéia do condomínio, forçada a ouvir o desabafo alterado e rouco na voz feminina: “Amooor. Eu quero amooor...” – de continuação indistinguível.

“Eu também quero” – pensei sem interferir na noite. Consigo pensar em um montão de gente que quer. Mas são muitas pessoas querendo amor... e poucas dispostas a se dar ao trabalho, correr o grande risco... de amar.


3h11m

3 comentários:

Felipe Teles disse...

Se quer ganhar bem, sem trabalhar muito..
Se quer dia de sol sem planos de aonde ir...
Se quer uma linda chuva a noite sem querer se molhar...

O que nos falta é parar de querer algo pelo lado bom delas somente.
Normalmente pode se ganhar bem se trabahar muito.
Pode se aproveitar um dia de sol em qualquer lugar aberto.
Pode se ter momentos otimos na chuva.

Cabe a nos aceitar o lado ruim, o lado negro.
E ninguém quer assumir isso.
Então buscamos o amor, trancados em caixas.

Ao menos assumo que não o busco porque ele já me busca, com sua camiseta branca e preta para um abraço.

Ah, e sua visinha não tem mesmo audição e atenção que voce...

Magno Nunes disse...

A moda agora é Dolly Citruuuuuuuuuus...

Aiii a madrugada... Coloquei onti no twitter...

"@magnera Magno Nunes
Ahhhh a madrugada... Minha companheira. Seus sons, sua cor, sua brisa..."

A hora onde os bons são melhores, e os valentes se rendem ao sexo...

Joey Marrie disse...

Eu sempre amei a madrugada. E foi dentro dela que me dediquei ao aprendizado de uma das salvações mais sutis que tenho na vida: o desenho. Era dentro dela, que eu ficava escutando música por horas, e via as estrelas da janela do meu quarto.
E foi na madrugada que ele se foi, o "objeto" daquele primeiro e mais puro amor. Dormiu na madrugada e não mais acordou...