26 de janeiro de 2012

Ao confessor

É pavor que sinto no teu soluço de criança, teu hálito com frequência interrompido e me vejo nos teus olhos claros esverdeados, súbitos espelhos onde me encontro, em repulsa me acho. Nada vale o teu sofrimento; assistir teu lábio balbuciante me faz te querer mais. É certeiro o sal de toda a tua lástima engrossar meu sangue, desesperar.

Atenta, antes de ser frágil, que meu colo se alarga à mira de tuas singelas necessidades. Esparrama teu mundo ao meu lado estendido, conta-me tudo, palavra por palavra, temos o tempo e a chuva lá fora, há verão e outono ininterruptos, de toda a maneira vamos envelhecer. É cuidado que te tenho até nos dias de deslizes torpes, dos pecados há de flagrar antigos hábitos meus rabiscos, os ensaios das melhoras que anseio tomada de júbilo a cada pequeno sinal. Não contes ainda meus acertos nem te orgulhes dos meus feitos bons superada a natureza cruel de subordinações inveteradas, apalpa o escuro até no lado claro, questiona, interroga, descubramos juntos o que também não sei de mim, o que não sabes de ti, o que não está terminado em nós.

Não me imagines anjo ou te faças infalível porque tua queda me apaixona e eu não sei amar heróis. Não escondas teus olhos subitamente tão claros. É no movimento deles que me guio a te querer acompanhar tal doçura dessa dor de crescimento.

6 comentários:

Rodolfo Lima disse...

ai q saudade da minha amiga viu!!! Será que um dia ela volta? :/

Felipe Teles disse...

Nossa.
Acho que a única forma de comentar uma obra dessa é não tomando minhas palavras que poderiam estragar algo tão minuciosamente belo. Ou também roubar palavras suas apenas seria como usar aquilo que não tem direito de possuir.

Farei uso então de algo não meu nem seu mas que destacado será nosso, ainda assim desculpe por não ser nada perto do que queira te dar.

"... descubramos juntos o que também não sei de mim, o que não sabes de ti, o que não está terminado em nós."

*Livia* disse...

Lindo. Como sempre!!
Como vc é talentosa!!
Beijos

Magno Nunes disse...

"De onde eu venho eles me acham legal, caí do céu mas eu sou infernal."

E é isso.

Felipe Teles disse...

Realmente vejo esse texto como uma obra e o mais incrível dos quase 800 posts do seu blog.

Se eu tivesse ainda blog eu publicava no meu lhe dando os créditos, seria um prazer.

Obrigado e Parabéns a você.

Joey Marrie disse...

E cada um sobrevive com seu tipo de lucidez, enquanto busca o delírio de amar e ser humano...