3 de setembro de 2012

Confidência


_ Padre, confesso que pequei. Menti por hábito, abusei da confiança alheia, padre, pequei por injúria, luxúria, gula e ingratidão. No final de cada dia não agüentei a pressão. Bebi, padre, excedi. Depois, presunçoso, entreguei à lassidão minha existência. Dos dias, soberba. O feitiço dos que têm algum poder. Era meia dúzia de gente que me presta ouvidos, padre, mas falei a eles tudo quanto demais. Não tive dúvidas e lancei rancores aos pés de pais e mães. Seus filhos, padre, disse de todos "índios, belos índios preguiçosos sois!" e sem remorsos dormi. Foi sobre dissabores, estes sim, meus colchões. Preconceitos que nem sei contar deixei que dissessem por mim, padre, guiaram-me as vaidades. Recusei amigos, abrigos, gatos molhados, feridos e capelas paradas bem no meio dos descaminhos. Não fui bom padre, padre. Qual a minha penitência?

_ Três terços à Virgem, filho, e vir aqui no meu lugar que agora é minha vez.

3 comentários:

Felipe Teles disse...

Padre confessa com Padre e pede terço a virgem, mas...
E quem confessa a virgem?

Magno Nunes disse...

Padres, eu não acredito, mas que existem, existem...

Joey Marrie disse...

Antes de se ser padre, padeiro ou pedreiro, ou qualquer outra profissão ou ordem que se invente, somos todos HUMANOS!
Títulos e conhecimento não nos isentam de erros e pecados. E a penitência... ah, a penitência a vida sempre nos dá...