Chegamos na praça pela manhã e sentamos, o mestre Jedi e eu. Uma praça do interior onde conversas fluíam melhor. Precisávamos de toda a fluidez do universo para falar sobre aquelas duas cabeças privilegiadas que nos mobilizavam. Em dado momento ele perguntou:
__ Você acredita em mim?
__ Acredito. Por que?
__ Às vezes eu ouço umas vozinhas aqui no meu ouvido que me dizem coisas... e agora elas estão falando algo sobre você.
__ Sobre mim?
__ Sim.
__ O que elas dizem?
__ “A maturidade vai revelar a sua missão de guardiã.”
__ Guardiã? Do que se trata?
__ Não sei. Não tenho ideia. Mas você vai saber quando chegar a hora.
__ Deve ser uma coisa muito preciosa, né?, pra precisar de guardiã.
Demos risada.
19 de maio de 2012.
Sei porque anotei na capa do livro de Hilda que tinha nas mãos.
Anotei a conversa inteira, inclusive essa parte.
E foi dessa parte especificamente que lembrei quando me dei conta de que o sagrado se comunica conosco da mesma maneira como nos comunicamos com ele. Se falamos poesia, ouvimos poesia.
A moça me disse para ler todo o documento antes de assinar.
Segurei o papel e li.
Era uma repartição lotada de pastas com papéis que pulavam para fora do elástico, uma ilha de mesas e meu documento lá.
Fui lendo do que se tratava a coisa toda nos mínimos detalhes, verificando os dados, as responsabilidades, os números.
Cheguei no rodapé em que o juiz determinava:
“Nomeio Camila guardiã de…”
Guardiã.
Essa palavra.
Dei risada.
A moça não entendeu.
Eu sim.
Assinei.
Devolvi a via dela.
Dobrei a minha.
O mistério ganha ares ainda mais belos quando o compreendemos.