
O amor também morre, porque também come e também dorme.
O amor apodrece como fruto, renasce, floresce como tudo na primavera. Mas o amor não precisa de estação.
O amor segue o ciclo da vida...como tudo o que Deus pensou antes que existisse. E foi distorcido pela própria criação divina, como tudo tocado pelas mãos e mentes humanas.
E ninguém pôde, por mais que dedicasse a fagulha inteira de vida que lhe cabe, encontrar alguma coerência na ocorrência do amor, no nascimento, no crescimento ou na morte desse ser etéreo, meio misterioso, meio evidente, meio óbvio, meio oculto. Mas todo mundo finge que entende, finge que sabe tudo sobre amor, finge que existem razões pré-concebidas e que alguém que não preencha bem as brechas da imperfeição não serve para si.
E, enquanto alguém cria teorias plausíveis que justifiquem que o casamento se tornou uma instituição falida, algum casal, do outro lado da cidade, afogado em realizações e paz assina um contrato para a vida inteira...
...A vida continua.
Sim. A vida é feita por opostos que se completam (e não necessariamente se atraem).
Toda a raça busca respostas. Macacos nos sorriem.
O sentido da vida e do amor. Fácil-difícil, guerra-paz, conhecimento-ignorância, vida-morte.
O sentido das perguntas estará na busca das respostas ou apenas serão felizes aqueles que se encontrarem em soluções vendidas e reafirmadas pelos escritos bíblicos?
Tudo é oposto. O sentido de tudo sorri escondido em algum cantinho, como uma esquina da TimeSquare, porque sabe que ninguém o encontraria seja lá onde estivesse. Porque o sentido, sendo feito de opostos, deve ser algo tão complexamente simples que ninguém ousaria arriscar tal alternativa.
Não. O sentido não sorri. Se contorce em gargalhadas. E quem lhe bate aos ombros em igual exteorização de comicidade é o amor, o qual todo o mundo (literalmente) tanto cita, mas desconhece em absoluto.
Não. Não é possível que o amor seja o retrato pintado nas tele-novelas. Não pode ser que o amor seja tudo o que se passa antes da separação. Não é concebível que o amor compreenda o ciúme, as condições sociais compatíveis, os modos à mesa, e o jeito de fazer amor. Isso sim é casamento.
Quanto mais a tecnologia (que criamos) nos facilita a vida, mais tempo nos sobra para complicar nossos relacionamentos que deveriam ser os mais simples e prazerosos.
Criamos embasamento para tudo, tememos a falta de ética do próximo, porque sabemos que não contribuímos para seu crescimento. Então o isolamos e guardamos nossa vergonha às margens da sociedade.
Alguém traçou padrões: a monogamia, o heterossexualismo, proximidade de idade, compatibilidade financeira, posição social, cor da pele. É preciso enviar um Currículo Vitae para viver um romance “de verdade”.
Idealizaram o “pra sempre”.
E o amor olha a humanidade bem de perto enquanto mantém distância.
As pessoas acham que o amor morre na praia porque elas mesmas sempre morrem. Mas o amor não morre exatamente na praia. Ele sabe nadar. Sabe até voar. O que não conseguiu ainda é firmar abrigo no coração de quem nada, porque, para isso, é preciso não ter medo de se afogar. O amor na verdade nunca saiu da areia e continua acenando esperançosamente para os atletas que se arriscam em sua busca. Mas o amor não morre na praia. O amor só morre quando nem chega a nascer. Ele se alimenta de compreensão e dorme quando alguém finge que não gosta de quem faz o coração bater mais forte toda vez que os olhos detectam a presença majestosa da pessoa mais especial, ainda que seja somente mais um mortal como outro qualquer.
O amor floresce porque é assim que parece a quem já o sentiu.
Ele anda de mãos dadas com o sentido da vida, molhando os pezinhos no mar e olhando de cima das palmeiras de uma ilha deserta se há alguém chegando perto...
O amor nos espera na próxima porta, no próximo sorriso, no próximo olhar, na próxima tentativa...
...Junto com o sentido da vida. Que deve ser algo tão complexamente simples que ninguém ousaria arriscar tal alternativa.