11 de julho de 2009

Da passionalidade (se-mi-estrangula-da)

Era amor... E ninguém duvidava disso. Nem ela, nem ele, nem qualquer um dos prováveis expectadores de uma história maligna. Não porque fosse em si algo ruim, mas porque, de certa forma, se tornava isso à medida de que perdia a medida. As dimensões, tinha hora, não podiam mais ser calculadas, menos ainda supostas ou sequer imaginadas. Era como um monumento que se olha do pé lá pra cima e se perde de vista como se perde o topo da montanha entre as nuvens. Era algo tão descomunal que era sim insuportável. Insuportável para ambos, mas também para qualquer um que olhasse. Era o tipo de luz que ofusca, o tipo de cor para a qual não existe nome, o tipo de coisa indescritível. Era também indestrutível, ou pelo menos parecia ser assim. Parecia ser um pé de gigante. Uma força colossal e não desejada. Desajeitada. Era maior do que tudo, insustentável. Qualquer um podia ver que eles eram notavelmente feitos um para o outro e, por isso mesmo, não podiam ficar juntos. Era amor. E era imponderável, insondável, irreprimível, impossível de se conviver... Era alguma coisa que chamava a platonice, que não cabia em mil planícies todas juntas, estendidas por debaixo de um campo de girassóis. Cobria cada pedaço que havia de terra e a forrava para caso o céu caísse. Era macio... era terno... era quente... quente... quente... tão quente que queimava e fazia arder, fazia doer. Era um algo que impunha condições e maledicências. Era uma paisagem incandescente. Era maior e maior e, quando se supunha não mais poder crescer, crescia. Dava um jeito de cozinhar os juízos e difamar as verdades. Tudo virava um fractal, a inexatidão de um Picasso, a derretidão de Dalí. E as coisas começavam a escorrer num ritmo doce, numa música mole e insensata, do tipo que se dança sorrindo na frente de um monte de gente sentada. Era um num-sei-quê de saudade e efervescência, era raiva crescendo pra voltar a ser amor no segundo seguinte. Ou até no mesmo segundo, às vezes acontecia. Às vezes acontecia daquele amor se ausentar. Às vezes acontecia de não chegar a falar alto o bastante. Mas gritava ao menor sinal de silêncio, ao menor ensaio de qualquer suspiro no intervalo de palavras rotas. Gritava mais alto do que eles poderiam gritar um com o outro e acorrentava. Pés e mãos. Senão dos dois, ao menos de um deles. Daquele um que não iria querer os outros. Daquela parte desestimulada e fugidia. Aquele amor não poderia responder pelos dois, mas por um deles podia. Por aquele dos dois que não sabia porque ceder, nem porque ir embora, nem porque ficar, nem porque não tentar. E com metade da tragédia ele ficou. Com a metade mais idealista, mais fria e menos madura. Com a metade que jamais cogitou outra pessoa na vida, com a metade que jamais falou em recompensas, com a metade que mais errava, ou diziam que era ela. Apoderou-se do que restou e levou consigo. E nunca mais ninguém ouviu falar daquele amor manco. Só das poesias, das pegadas de expectativas, das subjetividades ignóbeis, da erosão do tempo e do cheiro... Dos girassóis que resistiram ao inverno.


6 comentários:

Joey Marrie disse...

Um ser imenso desse, amor, não poderia caber dentro do pobre coração humano. Imcompatibilidade que gera atração.
O amor foi feito para nós, nós fomos feitos para o amor? E a dor? Onde é que entra nisso tudo?
E os pés e mãos acorrentados? Um em cada lado da fronteira e no meio o coração?
Insuportável... imaginado... indescritível... ah, o amor é mera droga que vicia. Sem ele é a dor... com ele é a dor... Uma metade busca completar-se e acaba por complicar-se, por culpar-se.
Seja o que for... dessa luta não se foge...

"Eu quero ouvir uma canção de amor que fale da minha situação, de quem deixou a segurança do seu mundo por amor... por amor!"

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...

Comentário censurado.

Estou mais perto do que você imagina.

Bjs

Camila Caringe disse...

Eu não imagino.
Eu sei.

Magno Nunes disse...

Eita...
Quando aos anônimos...
Cuidado...

Quanto à postagem...
É o fim...e nada resiste ao final num inverno...

Anônimo disse...

Amarelos, parecem pedaços do sol nas mãos, assim são os girassóis que um dia eu vi florescer. Não os mesmos, mais parecidos, iluminam o meu quadro de fotos, abajour durante a noite.

Perdoe-me se não falo nada, se não escrevo e não digo "oi", é que eu não sei chegar e abrir a porta e ir falando, eu prefiro sentar no sofá e ver as coisas, depois me aconchegar. Mas sempre passo por aqui para ler suas letras, para conviver com sua vida e suas convicções, mesmo que um pouquinho, mesmo que sem se pronunciar.

Beijo Beijo Beijo
Durma com Deus e sonhe com os anjinhos.