Economicamente falando, Jennifer Lopez estará no júri do próximo American Idol.
30 de julho de 2010
29 de julho de 2010
Do devaneio à
Meu plano de fundo é um pingüim. Nadando, ainda por cima.
Não sei bem. Acho que há algo de poético num pingüim nadando, com as asinhas abertas, espirrando a água azul por todo lado. Ele nada em direção a mim e a impressão que tenho é que um dia ele vai chegar. Num dia, um belo dia azul, eu vou olhar pra tela esperando vê-lo e ele não estará lá, mas mergulhando fundo no meu peito. E será tarde pra impedi-lo, já que desde já ele nada obstinadamente para isso.
Ou então, de repente, se perde que nem flecha de cupido em Shakespeare. Atravessa tudo naquela Noite de Verão, menos o peito que deve. Nesse caso ou num assim, meu pingüim que há tanto nadou pra mim deixaria a tela derramando água nas teclas queridas para me encontrar, ou melhor, não me encontrar, na privada, na copa ou no filtro, enchendo minha garrafinha. Ele nadaria com força e com o mesmo fôlego de amor toparia na cabeça da colega de trás, recém pedida em casamento e de mudança para outro país. Meu pinguinzinho ficaria sozinho, tadinho, sozinho de mim e perdido. E eu sem ele na tela nadando, perdida da esperança de que um dia ele chegue, finalmente.
A vida é feita dessa esperança, afinal. A esperança tola de que num amanhã do amanhã teremos algo mais que hoje. É vã a esperança é vã. Mas é assim que nós somos.
Por via das dúvidas, limitei minhas levantadas da cadeira. E, quando saio, deixo o e-mail aberto bem em cima do pingüim. Tanto melhor que se perca na caixa de entrada do que num país tropical...
...Ou que se enrosque no cabelo de alguém de partida.
Não sei bem. Acho que há algo de poético num pingüim nadando, com as asinhas abertas, espirrando a água azul por todo lado. Ele nada em direção a mim e a impressão que tenho é que um dia ele vai chegar. Num dia, um belo dia azul, eu vou olhar pra tela esperando vê-lo e ele não estará lá, mas mergulhando fundo no meu peito. E será tarde pra impedi-lo, já que desde já ele nada obstinadamente para isso.
Ou então, de repente, se perde que nem flecha de cupido em Shakespeare. Atravessa tudo naquela Noite de Verão, menos o peito que deve. Nesse caso ou num assim, meu pingüim que há tanto nadou pra mim deixaria a tela derramando água nas teclas queridas para me encontrar, ou melhor, não me encontrar, na privada, na copa ou no filtro, enchendo minha garrafinha. Ele nadaria com força e com o mesmo fôlego de amor toparia na cabeça da colega de trás, recém pedida em casamento e de mudança para outro país. Meu pinguinzinho ficaria sozinho, tadinho, sozinho de mim e perdido. E eu sem ele na tela nadando, perdida da esperança de que um dia ele chegue, finalmente.
A vida é feita dessa esperança, afinal. A esperança tola de que num amanhã do amanhã teremos algo mais que hoje. É vã a esperança é vã. Mas é assim que nós somos.
Por via das dúvidas, limitei minhas levantadas da cadeira. E, quando saio, deixo o e-mail aberto bem em cima do pingüim. Tanto melhor que se perca na caixa de entrada do que num país tropical...
...Ou que se enrosque no cabelo de alguém de partida.
26 de julho de 2010
She
Uma lucidez inédita traduzida em poesia. E insistir em ser sóbrio num mundo ébrio é auto-fadar-se ao luxo da solidão e do desespero.
As almas raras se condenam ao martírio quando assentem ao nascimento. Um altruísmo irrecompensável ela cometeu por nós. Uma loucura.
Foi catártica, profética, epifânica, visionária. Foi a benção que nos amaldiçoou a todos. A verdade sagrada que não queríamos ter. A ignorância por fim desvelada e mal compreendida. A perdição. Bendita.
23 de julho de 2010
Érica? Não. Camila.
O problema de se dar a aprender com alguém é que esse alguém pode saber ainda menos que você. Daí, acreditando no correto relativo, você aprende errado.
Um choro curto coube naquela constatação de...
...de doença.
E a constatação coube num Ginger Lemonade. O GL coube num jazz a três. Eu era o quarto elemento, mais o drink, mais a lágrima. Éramos um sexteto de quinta. Feira. Quase meio da semana, quase fim. Quase acompanhada demais. E o sol ia alto no Japão, suponho.
Fiquei ali, com medo de fechar os olhos e também de abrir.
Ao som daquele jazz eu tinha medo de tudo. De ir, de não ir, de ficar, de partir, de desistir, de sonhar. E de mim. Eu tinha medo de ser jazz e, principalmente, tinha medo de mim.
Um choro curto coube naquela constatação de...
...de doença.
E a constatação coube num Ginger Lemonade. O GL coube num jazz a três. Eu era o quarto elemento, mais o drink, mais a lágrima. Éramos um sexteto de quinta. Feira. Quase meio da semana, quase fim. Quase acompanhada demais. E o sol ia alto no Japão, suponho.
Fiquei ali, com medo de fechar os olhos e também de abrir.
Ao som daquele jazz eu tinha medo de tudo. De ir, de não ir, de ficar, de partir, de desistir, de sonhar. E de mim. Eu tinha medo de ser jazz e, principalmente, tinha medo de mim.
21 de julho de 2010
My code
Gazeta de Piracicaba
Correio Popular – Campinas
Jornal de Jundiaí
Gazeta de Limeira
Gazeta de Bebedouro
Oeste Notícias
O Diário – Barretos
O Imparcial – Araraquara
O Imparcial
O Imparcial? Quem diabos acreditaria num jornal chamado “O Imparcial”? É difícil até de abrir o jornal. De abrir!
...E num movimento anacrônico, nesses saltos possíveis somente para uma mente que procura desesperadamente um escape do vício tedioso de dias largos demais pra caber em cima de uma mesa branca, lembrei de um tempo onde as tardes eram minhas. Nunca tive um tempo em que os dias fossem meus, mas de vez em quando tinha uma manhã, ou uma tarde, ou uma noite. Hoje tenho, quando muito tenho, os finais de semana. Mas num tempo em que tarde era sinônimo de tarde mesmo, eu abri uma coisa que não era pra abrir. Entre O Diário de Barretos e O Imparcial, abri de novo aquele Odiário.
_ Olha! O que é isso? Odiário...
_ Diário? Me dá que é meu!
_ Não dou!
_ Me dá!
_ Não vou dar!
_ Tava na minha gaveta! É meu! Me dá!
É difícil lembrar de uma ex. De um ex-chefe, ex-namorado, ex-irmão, ex-amigo. Ex-amigo é quase tão absurdo quanto um jornal se chamar “O Imparcial”. Mas eu me lembrei nesta tarde sinônimo de tela.
_ Me dá meu diário! – ela gritou comigo imediatamente antes de saltar pra cima do meu corpinho frágil e magrelo de quarta série.
_ Não vou dar antes de olhar! – respondi com bravura. E lá se foram muitos minutos, talvez uma hora ou um pouco mais. A briga pel’O Diário começou no quarto. Rolamos as escadas atracadas e fomos parar no meio sala, suadas e esbaforidas.
_ Daí, vai.
_ ...Não...
_ Eu não vou soltar.
_ Eu também não...
Até que combinamos de ver juntas, ao mesmo tempo, juntas, juntíssimas, sem nem um segundo de diferença. Eu abri a mão que mostrava um caderninho que cabia na minha palma, com um sapinho na capa brochura, onde se lia “Odiário”.
_ Ah! Isso daí não é um diário, não! É um caderninho que eu ganhei de brinde no Boticário. Chama Odiário porque nele a gente pode escrever coisas que a gente odeia.
_ Hummm
Será que o Diário de Barretos é um diário fiel do que acontece na cidade inteira? Ou será que tá mais pra Odiário? Será que as pessoas que trabalham n’O Imparcial são irrevogavelmente proibidas de demonstrações públicas de afeto, iguais àquelas que trabalham na Câmara Municipal de São Paulo? Será que lá também tem um Dress Code? And Ethical Code? Não, não. Este último aposto que não. Ou então todo mundo lá ignora, igual eu ignoro o Dress Code às sextas-feiras.
Correio Popular – Campinas
Jornal de Jundiaí
Gazeta de Limeira
Gazeta de Bebedouro
Oeste Notícias
O Diário – Barretos
O Imparcial – Araraquara
O Imparcial
O Imparcial? Quem diabos acreditaria num jornal chamado “O Imparcial”? É difícil até de abrir o jornal. De abrir!
...E num movimento anacrônico, nesses saltos possíveis somente para uma mente que procura desesperadamente um escape do vício tedioso de dias largos demais pra caber em cima de uma mesa branca, lembrei de um tempo onde as tardes eram minhas. Nunca tive um tempo em que os dias fossem meus, mas de vez em quando tinha uma manhã, ou uma tarde, ou uma noite. Hoje tenho, quando muito tenho, os finais de semana. Mas num tempo em que tarde era sinônimo de tarde mesmo, eu abri uma coisa que não era pra abrir. Entre O Diário de Barretos e O Imparcial, abri de novo aquele Odiário.
_ Olha! O que é isso? Odiário...
_ Diário? Me dá que é meu!
_ Não dou!
_ Me dá!
_ Não vou dar!
_ Tava na minha gaveta! É meu! Me dá!
É difícil lembrar de uma ex. De um ex-chefe, ex-namorado, ex-irmão, ex-amigo. Ex-amigo é quase tão absurdo quanto um jornal se chamar “O Imparcial”. Mas eu me lembrei nesta tarde sinônimo de tela.
_ Me dá meu diário! – ela gritou comigo imediatamente antes de saltar pra cima do meu corpinho frágil e magrelo de quarta série.
_ Não vou dar antes de olhar! – respondi com bravura. E lá se foram muitos minutos, talvez uma hora ou um pouco mais. A briga pel’O Diário começou no quarto. Rolamos as escadas atracadas e fomos parar no meio sala, suadas e esbaforidas.
_ Daí, vai.
_ ...Não...
_ Eu não vou soltar.
_ Eu também não...
Até que combinamos de ver juntas, ao mesmo tempo, juntas, juntíssimas, sem nem um segundo de diferença. Eu abri a mão que mostrava um caderninho que cabia na minha palma, com um sapinho na capa brochura, onde se lia “Odiário”.
_ Ah! Isso daí não é um diário, não! É um caderninho que eu ganhei de brinde no Boticário. Chama Odiário porque nele a gente pode escrever coisas que a gente odeia.
_ Hummm
Será que o Diário de Barretos é um diário fiel do que acontece na cidade inteira? Ou será que tá mais pra Odiário? Será que as pessoas que trabalham n’O Imparcial são irrevogavelmente proibidas de demonstrações públicas de afeto, iguais àquelas que trabalham na Câmara Municipal de São Paulo? Será que lá também tem um Dress Code? And Ethical Code? Não, não. Este último aposto que não. Ou então todo mundo lá ignora, igual eu ignoro o Dress Code às sextas-feiras.
16 de julho de 2010
Auto-cruel
As planilhas são fáceis. A gente vai lendo e classificando as notícias. Lendo e classificando, lendo e classificando. Ouvindo uma musiquinha enquanto isso...
...Lá lá lá... Lendo e classificando... Abre planilha, fecha planilha, abre planilha, fecha...
...De repente, lá pela linha 283... “já pensou se dá zica e eu perco tudo?”
Fui invadida por um som inacreditável, vindo das entranhas de um ser pré-histórico. Um grito gutural, depois um choro compulsivo. Eu, lânguida, lançando a cabeça pesada sobre a mesa, com os braços num auto-abraço, em posição fetal.
Alguém perguntou, claro, sempre tem alguém que não saca logo de cara, “mas o quê foi?”. E eu, num fio de voz valente como rouco, respondi que bati na tomada.
Todos correram em meu auxílio, a chefe do setor chamou imediatamente a chefe de recursos humanos para perguntar se meu seguro de vida está em ordem. Minha parceira próxima anunciou um “...calma...” em completo desalento.
Sorri. Depois ri. Depois chorei de tanto rir. Depois só ri e só sorri de novo.
Extraí uma alegria tão crível do meu próprio desespero imaginário que minha risada fez barulho. Alguém me olhou e eu disfarcei, frustrando a gargalhada.
Daí salvei. Claro. Salvei.
Estou salva.
...Lá lá lá... Lendo e classificando... Abre planilha, fecha planilha, abre planilha, fecha...
...De repente, lá pela linha 283... “já pensou se dá zica e eu perco tudo?”
Fui invadida por um som inacreditável, vindo das entranhas de um ser pré-histórico. Um grito gutural, depois um choro compulsivo. Eu, lânguida, lançando a cabeça pesada sobre a mesa, com os braços num auto-abraço, em posição fetal.
Alguém perguntou, claro, sempre tem alguém que não saca logo de cara, “mas o quê foi?”. E eu, num fio de voz valente como rouco, respondi que bati na tomada.
Todos correram em meu auxílio, a chefe do setor chamou imediatamente a chefe de recursos humanos para perguntar se meu seguro de vida está em ordem. Minha parceira próxima anunciou um “...calma...” em completo desalento.
Sorri. Depois ri. Depois chorei de tanto rir. Depois só ri e só sorri de novo.
Extraí uma alegria tão crível do meu próprio desespero imaginário que minha risada fez barulho. Alguém me olhou e eu disfarcei, frustrando a gargalhada.
Daí salvei. Claro. Salvei.
Estou salva.
15 de julho de 2010
Telegráfico
Mudança trabalho chegada tchau. Sonho estudo vi amanhece banco processo gripe. Breve barulho casa mudança mais é menos. Banheiro cabeça bagunça jagunço tevê. Raro leveza sozinha verdade quebrou. Aquele não ter pôster do Marley pornô. Escola irmã.
Expresso.
Não sei se volto.
Att.
Bônus
http://amandaproetti.blogspot.com/
Expresso.
Não sei se volto.
Att.
Bônus
http://amandaproetti.blogspot.com/
8 de julho de 2010
Suspeito
Numa semi-conversa entre um minuto e outro, logo após uma inserção sobre os males da TPM, uma amiga ousou lamentar, tendo a impressão de que o melhor da vida a gente perde.
A gente perde? Só porque ela trabalha 10 horas por dia? Só porque ela estuda entre fazer as refeições e dormir (um pouco). Só porque ela não ganha o suficiente para ter qualidade de vida? Só porque talvez não seja só impressão?
Ah! Lamentar é para os fracos! Temos que ser criativos! É por isso que eu escrevo no meu blog no horário do expediente!
Humpf!
A gente perde? Só porque ela trabalha 10 horas por dia? Só porque ela estuda entre fazer as refeições e dormir (um pouco). Só porque ela não ganha o suficiente para ter qualidade de vida? Só porque talvez não seja só impressão?
Ah! Lamentar é para os fracos! Temos que ser criativos! É por isso que eu escrevo no meu blog no horário do expediente!
Humpf!
7 de julho de 2010
A oura met ade
Livro
Li v ro
Liro
Ela sempre procurava o meio de tudo. Dividia o mesmo quadro no meio mil vezes e depois brincava de reencaixar os pedaços de jeitos diferentes no pensamento.
Quadro
Qua dro – humm... com essa não sobra letra!
Dro qua
Dra quo
Quo Dra
E fazia o mesmo com a estante de livros. Ficava olhando bem, prateleira por prateleira, procurando o meio de cada uma. Mas isso era traiçoeiro, porque se estava deitada de um jeito, tal livro lhe parecia o meio. Se deitava de outro lado, outro livro parecia estar mais exatamente na metadinha. Daí se irritava!
Metadinha
Meta d inha – a letra do meio sai fora...
Metainha
Meta pequenininha?
E fazia o mesmo com as palavras.
Metamorfose
Metam o rfose
E tentava pronunciar o impronunciável:
Metamrfose
Meta fose
Fase ta mofe
R
O
E por aí ela ia embora. Com tudo procurando o meio. Era até uma questão de equilíbrio achar o meio das coisas. Era como encontrar em tudo o meio-termo e todo mundo sabe que o bom senso não mora nos radicais, com o perdão dos números.
Amor
Am or
Omar
O mar – não sobra letra, mas ficou legal!
Praticamente inventou pra si um novo idioma!
O AM or mo Ra no mr?
Ela se entendia assim. Mas procurar o meio pra depois descobrir o que tem nele às vezes era um tormento. Passou muito tempo pra descobrir, por exemplo, o que tinha no meio dela mesma. E, ainda por cima, tinha o dilema:
_ Bem no meio das duas metades é o umbigo. Mas tem também o meio das pernas, o meio entre os braços, o meio das palmas das mãos, o meio da cabeça. O meio da cabeça!!!! Esse meio vai ser o mais difícil.
Então, primeiro pensou muito em qual meio era o mais importante. O meio da sola, o meio de um fio de cabelo castanho... o meio de uma mão só era fácil: o dedo do meio!
Pensou, pensou e aí decidiu que o meio mais importante era o meio do peito, que era a parte mais bacana, porque tinha lá dentro a música só dela: Tum, Tum, tm...
...Mas ficou triste ao perceber que bem no meio da metade de cima na parte de dentro dela nem ela era. Tinha ali um ele que não era dela, nem ela, nem exatamente ele. Mut, mut, mt...
Li v ro
Liro
Ela sempre procurava o meio de tudo. Dividia o mesmo quadro no meio mil vezes e depois brincava de reencaixar os pedaços de jeitos diferentes no pensamento.
Quadro
Qua dro – humm... com essa não sobra letra!
Dro qua
Dra quo
Quo Dra
E fazia o mesmo com a estante de livros. Ficava olhando bem, prateleira por prateleira, procurando o meio de cada uma. Mas isso era traiçoeiro, porque se estava deitada de um jeito, tal livro lhe parecia o meio. Se deitava de outro lado, outro livro parecia estar mais exatamente na metadinha. Daí se irritava!
Metadinha
Meta d inha – a letra do meio sai fora...
Metainha
Meta pequenininha?
E fazia o mesmo com as palavras.
Metamorfose
Metam o rfose
E tentava pronunciar o impronunciável:
Metamrfose
Meta fose
Fase ta mofe
R
O
E por aí ela ia embora. Com tudo procurando o meio. Era até uma questão de equilíbrio achar o meio das coisas. Era como encontrar em tudo o meio-termo e todo mundo sabe que o bom senso não mora nos radicais, com o perdão dos números.
Amor
Am or
Omar
O mar – não sobra letra, mas ficou legal!
Praticamente inventou pra si um novo idioma!
O AM or mo Ra no mr?
Ela se entendia assim. Mas procurar o meio pra depois descobrir o que tem nele às vezes era um tormento. Passou muito tempo pra descobrir, por exemplo, o que tinha no meio dela mesma. E, ainda por cima, tinha o dilema:
_ Bem no meio das duas metades é o umbigo. Mas tem também o meio das pernas, o meio entre os braços, o meio das palmas das mãos, o meio da cabeça. O meio da cabeça!!!! Esse meio vai ser o mais difícil.
Então, primeiro pensou muito em qual meio era o mais importante. O meio da sola, o meio de um fio de cabelo castanho... o meio de uma mão só era fácil: o dedo do meio!
Pensou, pensou e aí decidiu que o meio mais importante era o meio do peito, que era a parte mais bacana, porque tinha lá dentro a música só dela: Tum, Tum, tm...
...Mas ficou triste ao perceber que bem no meio da metade de cima na parte de dentro dela nem ela era. Tinha ali um ele que não era dela, nem ela, nem exatamente ele. Mut, mut, mt...
4 de julho de 2010
Da série: Óh céus, óh vida
Eu faminta (de fome mesmo, nada poético) saí de casa em busca do mercadinho. O mercadinho não estava aberto. Era domingo, mas era cedo. Não tão cedo para não estar aberto, nem tão pouco cedo para já ter fechado. Tudo bem. Na minha cidade mercados não abrem aos domingos. Fui até a padaria, que não aceita cartão de nenhuma espécie, e aproveitei pra perguntar pra balconista onde havia um restaurante.
_ Restaurante? Aqui não tem restaurante, não. – disse como quem filosófa, perscrutando sua memória em busca da lembrança do que era um restaurante.
_ Ah... não tem restaurante? Que legal...
_ Não. Perto não. Mas se você estiver de carro pode ir até perto do metrô, que tem um lugar que faz costeleta no bafo.
_ Humm...
Eu não estava de carro.
_ Uma costeleta no bafo ótima e, se eu não me engano, uma marmitéx é uns sete reais.
Que ótimo!!!! Uma costeleta no bafo bem referenciada!!!!
...Só que peixe com costela não rola. Prefiro os que não tem caixa torácica.
_ Humm... Bem, obrigada!
E saí perambulante, fatigada dessa vida de interior em cidade grande. É como ter o pior dos dois mundos. Num só.
_ Restaurante? Aqui não tem restaurante, não. – disse como quem filosófa, perscrutando sua memória em busca da lembrança do que era um restaurante.
_ Ah... não tem restaurante? Que legal...
_ Não. Perto não. Mas se você estiver de carro pode ir até perto do metrô, que tem um lugar que faz costeleta no bafo.
_ Humm...
Eu não estava de carro.
_ Uma costeleta no bafo ótima e, se eu não me engano, uma marmitéx é uns sete reais.
Que ótimo!!!! Uma costeleta no bafo bem referenciada!!!!
...Só que peixe com costela não rola. Prefiro os que não tem caixa torácica.
_ Humm... Bem, obrigada!
E saí perambulante, fatigada dessa vida de interior em cidade grande. É como ter o pior dos dois mundos. Num só.
2 de julho de 2010
Senhor, tende piedade…
Dois filhos.
Nós tínhamos dois filhos pra ter.
Dois filhos, quatro netos, oito bisnetos, 16 trisanetos, 32 tataranetos.
E eu, matriarca dos sonhos só meus, os abortei a todos. Várias gerações se perderam naquele caminho entre a sua casa e o ponto de ônibus.
Nós tínhamos dois filhos pra ter.
Dois filhos, quatro netos, oito bisnetos, 16 trisanetos, 32 tataranetos.
E eu, matriarca dos sonhos só meus, os abortei a todos. Várias gerações se perderam naquele caminho entre a sua casa e o ponto de ônibus.
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