Livro
Li v ro
Liro
Ela sempre procurava o meio de tudo. Dividia o mesmo quadro no meio mil vezes e depois brincava de reencaixar os pedaços de jeitos diferentes no pensamento.
Quadro
Qua dro – humm... com essa não sobra letra!
Dro qua
Dra quo
Quo Dra
E fazia o mesmo com a estante de livros. Ficava olhando bem, prateleira por prateleira, procurando o meio de cada uma. Mas isso era traiçoeiro, porque se estava deitada de um jeito, tal livro lhe parecia o meio. Se deitava de outro lado, outro livro parecia estar mais exatamente na metadinha. Daí se irritava!
Metadinha
Meta d inha – a letra do meio sai fora...
Metainha
Meta pequenininha?
E fazia o mesmo com as palavras.
Metamorfose
Metam o rfose
E tentava pronunciar o impronunciável:
Metamrfose
Meta fose
Fase ta mofe
R
O
E por aí ela ia embora. Com tudo procurando o meio. Era até uma questão de equilíbrio achar o meio das coisas. Era como encontrar em tudo o meio-termo e todo mundo sabe que o bom senso não mora nos radicais, com o perdão dos números.
Amor
Am or
Omar
O mar – não sobra letra, mas ficou legal!
Praticamente inventou pra si um novo idioma!
O AM or mo Ra no mr?
Ela se entendia assim. Mas procurar o meio pra depois descobrir o que tem nele às vezes era um tormento. Passou muito tempo pra descobrir, por exemplo, o que tinha no meio dela mesma. E, ainda por cima, tinha o dilema:
_ Bem no meio das duas metades é o umbigo. Mas tem também o meio das pernas, o meio entre os braços, o meio das palmas das mãos, o meio da cabeça. O meio da cabeça!!!! Esse meio vai ser o mais difícil.
Então, primeiro pensou muito em qual meio era o mais importante. O meio da sola, o meio de um fio de cabelo castanho... o meio de uma mão só era fácil: o dedo do meio!
Pensou, pensou e aí decidiu que o meio mais importante era o meio do peito, que era a parte mais bacana, porque tinha lá dentro a música só dela: Tum, Tum, tm...
...Mas ficou triste ao perceber que bem no meio da metade de cima na parte de dentro dela nem ela era. Tinha ali um ele que não era dela, nem ela, nem exatamente ele. Mut, mut, mt...
7 de julho de 2010
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4 comentários:
É só inverter: Tum! Tum! Tum!
tum tum tum, bateu!
tum tum tum, bateu!
tum tum tum, bateu!
a saudade bateu e doeu
E juuuuuuuura...
Viva o Axé, ou a metade dele...
Interessante!
Parabéns pelo blog!
Adorei isso! Tinha que ter mesmo essa assinatura!!!
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