21 de junho de 2011

de Carli

No dia de alçar vôo, as beatas tudo apareceram lá. Tinha gente saída até de dentro da TV pra ver o padre ir-se embora, levantado por mil balões de gás coloridos. Tempo de fé aquele abril, quando recorde e pastoral se juntavam na motivação do religioso. Eu mesma não fui naquele dia. Nem em outro, a bem da verdade. Eu não o conhecia, mas posso imaginar seu desespero progressivo até o fim trágico, previsível. Posso entender que não havia sequer um’alma baiana para alertá-lo de que os orixás alguma coisa, os búzios diziam, as cartas falavam. Mas eu, de intuição falha e nenhuma técnica na arte da predição, era bem capaz de dizer que atravessar o País suspenso por bexigas era mais do que um ato de ousadia e confiança no Senhor. Era uma idéia suicida. Surpreende-me, no entanto, lembrar a utopia desatinada. E há algo que agrada. Talvez porque seja humano cultivar o fantasioso. Talvez porque eu tenha cá minhas confianças quiméricas. Talvez ainda... porque seja da vida flertar com a morte e, no fundo, eu entenda.

“A polícia diz que os restos mortais encontrados em Maricá, Litoral Fluminense, no início de julho são realmente do padre Adelir de Carli, desaparecido desde o dia 20 de abril (2008), quando decolou com balões de gás no Paraná. Suspenso por cerca de mil balões, Carli pretendia ficar 20 horas no ar e bater o recorde neste tipo de vôo. Além do novo índice, o padre dizia ainda que iria divulgar a Pastoral Rodoviária, de apoio a caminhoneiros. Mesmo com o céu nublado e pancadas de chuva, o religioso manteve o vôo.”



2 comentários:

Joey Marrie disse...

Com tantos acidentes envolvendo aviões, asas deltas, ultraleves, helicópteros e outras coisas afins, voar de balões talvez fosse um modo mais seguro... sei lá!
Eu é que não me aventuraria.
Morro de medo de altura!

;D

Magno Nunes disse...

Darwin 1 x 0 Deus ahahahaha