Alguma coisa dói em mim quando a vejo. Algo que, se não é insondável, ao menos está nos meus recônditos. Não sei por qual razão ela se apaga tanto. Só a conheço na languidez e altura do pescoço. Conheço-a nos baldes e na toquinha clássica, mas me revolta o que a deve atormentar.
Penso nela e depressa me acomete uma angústia. Tenho pra mim que é reflexo de solidão. É uma presença doce, no entanto. Muito leve. É tanto que a gente é capaz de nem notar que nos faz sombra, esvaziando a lixeirinha em baixo da mesa, uma por uma, perfeccionista.
Ela é capaz de se deitar e levantar com a mesma expressão de sonseria. Se tem pena de si não sei, mas abandonou a vivacidade categoricamente. Arrasta-se, como um espectro neutro, silenciosa e precisa por entre as baias. E misteriosa, ela. Inexpressiva, meio patife, do tipo “credo em cruz” de ser assim.
Dedica-se à higienização dos sanitários de modo a ter predileção pelos produtos mais fétidos. Pensa que assim estão mais limpos, quanto mais insuportável o cheiro que ela respira com indiferença. Acho que, no fundo, ela se testa ao seu limite e se extrapola de um propósito absurdo. O firme propósito de não ser.
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4 comentários:
"O firme propósito de não ser."
É exatamente isso...
Camila Caringe, essa é sua vida, esse é seu clube! Re!
Eu ando refletindo minha solidão de tantas formas, em tantos lugares...
Será que tudo é mesmo uma escolha consciente?
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