Terminamos a faculdade e aceitamos fazer coisas que pedem menos do que há em nós. A necessidade brutaliza e sossegamos no salário um tempo curto.
Não é por nada, mas é que me pareceu história viva te imaginar pendurando cuecas e meias no varal. Antes de nós, cena dessa foi feita filme, poesia, série de TV, manifesto, contrabando, escravidão.
Na nossa vez, porém, sobrou que ser o anônimo cozinhando spaghetti quebrado pra caber na panela pequena. Hidrotônico de uva verde em cima da mesa do jantar e solidão, porque a mãe que te espera o filho foi escolha precipitada ou acidente.
Onde a poesia parece dissolver e se refaz em seguida: é lá que a gente se encontra. Não junto. Você se encontra com você e eu comigo mesma. É na tentativa primata de seguir sendo que podemos nos olhar, reconhecer e, quem sabe, furar o cerco dos olhares que não nos olham. Talvez façamos algo que fira a visão indolente dos que nos ignoram tão facilmente. Quem sabe que um dia seja um esforço deixar de perceber a riqueza de aparecer na janela de uma kit da rua Aurora, porque mora ali alguém que deixa suas meias de molho para não ter que esfregar muito.
Não é pouca coisa a peculiaridade que cabe nas suas escolhas mínimas e devia haver um Morumbi inteiro que nos aplaudisse quando déssemos tchauzinho também. Porque nós vemos poesia no breu, no só, no mau e nas palavras de mais sílabas. Somos resistentes e, à nossa vez, a vanguarda do novo mundo novo.
É a história vociferando em nós no detalhe da sexta à noite, eu senti.
2 comentários:
"Terminamos a faculdade e aceitamos fazer coisas que pedem menos do que há em nós"
Procede.^^.
Nota do comentarista
Macarrão de microondas deixa cheiro forte.
Fim da nota.
Rua Aurora comanda né? Lembro dos dias em que jogava bola na rua, narrando os jogos. Hoje faço isso, mas sem a bola nos pés. E desde antes da faculdade escolhi outras coisas...
E ainda me dizem por aí, "tem gente que não bebe e tá morrendo"
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