Dava passos. Eram irregulares, mas ele dava passos. Ora
saltitava também ganhando o espaço e preenchendo de possibilidades o oco. Tinha
dias que tinha pressas. Volitava nas horas, forçando com gracejos as passagens.
Eu rígida.
Até que súbito, resoluto, decidiu usar a boca. A ideia
nascida da consciência bruta. Boca e língua em atrito comigo ia lhe dando o
gozo podotátil do quase que recua. Corpo em esforço e ritmo.
Eu frígida.
Ele cores. Um pedacinho de arco-íris, verdadeiramente.
Bonito. Por isso era preciso guardá-lo, inescapável esse fugitivo de cantos,
mil encantos despertando cobiça de vida. Ele vivia.
Eu lívida.
Era um pouco silêncio e já se ouvia coração, apressadinho.
Calorzinho costumeiro, era calor a tradução, quentinho no seu manto elegante,
que esgueirante e taciturno desfilava de lá pra cá.
Eu fria.
Mas deve ter ido cansando, não sei bem. E esmorecendo, o
viço esvaindo sem muito sintoma fora, só uma perda gradual de personalidade. O
comportamento. Foi se vendo fora o que ia dentro. Até que amanheceu imóvel.
Eu rigorosa.
Imóvel até ser encontrado e removido, não mais automovível,
impossível, perecível. Foi de ser assistido à vida breve, bala de clavina
queria ter sido e foi passarinho. Passarinho.
Eu gaiola.
3 comentários:
E vc que disse que nunca teria um passarinho preso...
FRANCAMENTE!
Pássaro sem penas, colorido e de uma cor só. Não nasce de um ovo, mas de tantas outras coisas. Pode nascer assim, de um beijo inesperado!
Pássaro que bate asas enquanto sinto o vazio de sua presença...
Sua frieza talvez não deixa-se um amor lhe entrar?
Assim, por parte dele, toda busca de liberdade fora seria consumida dentro de ti.
Rigorosa ou não, apenas o amor lhe abriria, ainda que pra dentro.
Postar um comentário