9 de novembro de 2012

O caro sai barato


Com o trajeto automático de cabeça podia usar aquele tempão pra pensar várias coisas. Pensou churrasquinho. Saiu de casa às sete para chegar às nove, bateu o portão da frente e foi descendo a rua. Andou 20 minutos, pegou a perua pro terminal e depois o ônibus intermunicipal. Na estação Armênia do metrô parou na banquinha habitual e pediu o combo: palito, a carne espetada na madeira, com direito à banhar na farofa e o suco de laranja. Comeu no atraso e foi pagar normal, que nem toda vez:

_ Tó.
_ O churrasco aumentou um real aqui, visse não? – e apontou o rabisco no preço. O outro gelou.
_ Ah, mas você não me avisou!
_ Como não avisei? Você não perguntou!
_ Eu não perguntei porque é sempre o mesmo preço!
_ Bom, pois agora não é o mesmo preço e tá faltando um real.

Valendo-se da boa altura de nascença, o cliente explicou pedagogicamente, mas já sem toda aquela diplomacia, que não pagaria nem mais um centavo pela injustiça.

_ Ah, não vai pagar? E quer dar de macho pra cima de mim? Pois venha, moléstia, bubônica, filho de uma rapariga – a faca já acompanhando o desenrolar da oposição.

Cliente de um lado, churrasqueiro do outro, a platéia abriu pra dar mais palco. Marcão saiu na carreira e o credor atrás de passador na mão. Sei não como foi de cera que escorregou na fuga, foi-se embora pro matinho da margem e não conseguiu conter a queda pra dentro do Tietê. Barriga cheia, ficou boiando no meio de tudo lá até ajuda vir buscar. Custou caro o lanche, mas um real não dava não. Porque não tinha. Senão ia faltar pra chegar no trabalho aquele dia.

3 comentários:

Magno Nunes disse...

E viva o churrasco!

Um dos pilares da democracia brasileira. Afinal, o preço pode até aumentar, mas com diálogo antes!

Anônimo disse...


Essa história é real???

Camila Caringe disse...

É.