4 de dezembro de 2012

Desforra


NINFA: Respirei aliviada. Por mim, Sócrates poderia terminar ali mesmo seu discurso e me daria por satisfeita, como quem participa de portentosa refeição. Assim era. E quantos, óh convivas de tantos reinos oriundos, quantos são esses terríveis homens sobre a terra, que pisam flores como fosse grama, que esmagam amor entre os dedos como material descartável às margens da grande arena. Os dramas que eu testemunhara eram somente por isso. Não creem esses homens pobres de espírito no que lhes anima a eles mesmos e lhes fala ao coração. Eros chega num repente e por falta de fé se despede e se desfaz sem que o mortal sequer dê à luz um único prodígio dele inspirado. Abafam suas boas artes no silêncio, na vergonha, na violência, no orgulho, na dúvida. Quantos homens assim esta terra ampararia?


3 comentários:

Magno Nunes disse...

Quantos homens eu num sei, mas hoje faz um ano da morte do Dr. Sócrates =(... Grande magro.

Joey Marrie disse...

Ao que parece o homem encantou-se de tal modo com as obras, as maravilhas palpáveis que foi e é capaz de criar, que esqueceu-se que tem uma alma. Logo desabitou-se com aquilo que os olhos não podem ver e as mãos não podem tocar, por isso "ama" tão mal...

José Augusto disse...

Muito bem observado, Camila. Realmente, quantos homens ainda essa terra há de amparar?