8 de dezembro de 2014

Miss simpatia


Minha filha tem especificamente dois talentos que pude notar desde muito cedo: personal organizer e public relations. 

Explico: ela tem um dom muito natural para encontrar os locais mais apropriados – e óbvios – para guardar as coisas que usamos diariamente e precisam estar ao mesmo tempo protegidas e disponíveis. No começo eu ficava um pouco perdida, mas logo aprendi a lógica: o lugar do controle remoto da TV, por exemplo, é dentro do escorredor de macarrão. Já a mamadeira tem encaixe perfeito dentro do cesto de roupas sujas do papai. 

Totalmente intuitivo, como eu estava dizendo. 

O segundo grande talento é pra poucos: minha filha une torcidas, agrega multidões, reúne desavenças, aproxima desconhecidos. Ela é perfeitamente capaz de acenar para as mesmas pessoas durante os inteiros 50 minutos que se demora para percorrer a linha azul do metrô, por exemplo, da Saúde até a Parada Inglesa. Tranquilo. Ela dá tchau de um lado, depois do outro, depois volta pro primeiro lado, depois pro outro, depois pra baixo, depois pra cima, daí volta pro primeiro lado, depois pro outro e assim sucessivamente por quanto tempo durar a viagem, sem constrangimentos ou sinais de esmorecimento do humor, da disposição ou do vigor físico. Quando o tédio se insinua, ela facilmente muda o repertório: bate palmas e lança beijos ao ar charmosamente, sorri e volta a acenar, atraindo multidões para a janelinha dos desafortunados que precisaram se despedir em algum trecho no meio da viagem. 

Muitas conversas surgiram a partir da simpatia dela. Uma vendedora de Mary Kay sabiamente avaliou que minha filha é muito jovem para a nova linha de sombras coloridas, mas aproveitou para oferecer seus produtos para a mãe. Uma senhora me contou dos netinhos gêmeos, uma outra contou da neta, outra do cachorro. 

Em dada ocasião, uma jovem coreana veio se aproximando muito determinada na minha direção e, subitamente, grudou nas bochechas da bebê que estava no meu colo, travando uma conversa interessantíssima em seu idioma de origem. Notavelmente apenas eu não compreendia o assunto. Ambas pareciam perfeitamente entrosadas e risonhas, trocando confidências e piadinhas internas de menina. Quase pedi licença para me retirar e deixá-las mais à vontade.


2 comentários:

Felipe Teles disse...

"Notavelmente apenas eu não compreendia o assunto." rs..
É de extrema satisfação e orgulho lembrando do fato que ela é o melhor de nós.

Dou ao meu melhor porque espero exatamente o mesmo.

E notávelmente estamos fazendo nossa parte né rs...

Jaci Amaral disse...

Ah, o talento infantil para simplificar a vida!