30 de novembro de 2009

Eu vi

_ Me desculpa senhora, mas eu não vou levantar daqui, não. A senhora trabalha? Não, né? Só faz é andar de ônibus pra cima e pra baixo às minhas custas, sem pagar nada. Não quero nem saber se estou em lugar reservado. A senhora que vá procurar o que fazer. Isso é coisa de gente desocupada. Eu trabalho, pago o ônibus e tá pra vir o homem que vai me tirar daqui. A senhora tá indo passear. Fica aqui enchendo o meu saco. Depois leva uns tapa na orelha e não sabe porquê. Tem que levar pra aprender. Velha trouxa, xarope.

26 de novembro de 2009

Inexplicáveis

Sobem as cortinas. O público se ajeita nas cadeiras.
O relógio de parede marca duas horas da manhã em ponto. A Camila entra na sala e olha a bagunça.

_ Ué... Que cê tá fazendo?

A outra responde, debaixo da mesinha do computador:

_ Tô fazendo uma limpeza aqui.
_ Quer ajuda?
_ Não. Por enquanto não...
_ Hum...
_ Onde cê vai?
_ Na cozinha pegar água, se você deixar.
_ Ah, tá. Pode ir, sim.

E a Camila volta.

_ Qual o problema?
_ Meu computador. Ele não tá ligando.
_ Ah...
_ Memória tá certa... tchô ver aqui...
_ Não... é que você não tá sabendo apertar o botão direito. – “click”

Vummmmmmm

_ Olha, o cooler tá funcionando... Ligou!
_ Rs
_ Como cê fez isso?
_ Eu falei que você não tava sabendo apertar o botão direito...

Close na cara de pastel dela.

_ Boa noite, Natália.

Descem as cortinas.

23 de novembro de 2009

Cumé?

_ Por favor, onde fica a loja da Claro?
_ Não sei.
_ Eu preciso de assistência técnica.
_ Ah... Bem, o senhor tem que se informar. Aqui tem um localizador, olha. É só procurar o nome da loja por andar.
_ Filha de Iemanjá... você tem uma santa muito bonita, viu?!
_ hum?

Isso me lembrou o diálogo com a mãe médium de um amigo meu:

_ Você tem uma energia mental tão forte que até me dá uma dor de cabeça, sabe? Não tô acostumada com isso...
_ Ah... poxa... Desculpa... É pra eu ir embora, não?

...Gente estranha...

22 de novembro de 2009

...ilusões des.


5 de novembro de 2009

....Tava aqui pensando

A postagem tava no blog em espanhol e era assim:

Los líderes del G20 acogieron favorablemente el Pacto Mundial para el Empleo de la Organización Internacional del Trabajo (OIT) y la construcción de “un marco orientado hacia el empleo para el crecimiento económico futuro”. La Declaración de los Líderes del G20 fue presentada a la prensa en Pittsburgh el 25 de septiembre por el Presidente Obama.

Daí veio o comentário:

Enviado el 05-11-2009 a las 2:40

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Sem contar as propagandas de Valium.

Sei lá... Acho que mesmo pra ser um disparador de spams frenético, neurótico, anti-ético, ninfomaníaco e depressivo é preciso cérebro, né? O fulano não sabe nem escrever direito!

...Mas num sei... Num sei...

3 de novembro de 2009

Um papinho rápido no metrô

_ Olha! Você tá lendo alguma coisa do Nashudin?
_ Hã?
_ Você. Tá lendo Nashudin?
_ Ah... não. Eu não.
_ É que eu li aqui - e aponta para o meu livro.
_ Não. Eu estou lendo um livro sobre física quântica de um cientista indiano chamado Amit Goswami.
_ Ah! Legal! Eu gosto de física quântica. É que eu gosto de misticismo, por isso gosto de física quântica. Você gosta de misticismo?
_ Não. Acho que comigo é o contrário. Talvez eu goste de alguma coisa do misticismo porque gosto antes de física quântica.
_ Você gosta de física?
_ Eu gosto de saber.
_ Ah... Gosta de psicologia?
_ Ahãn.
_ Então posso te recomendar um livro?
_ Pode.
_ A Ascensão de Prometeus, de Robert Wilson. É muito legal, saca, porque ele, tipo... e ele... dos estágios do cérebro humano e... daí... dos animais... da vida... do mundo... do universo e tudo mais, saca?... de Freud... anal, oral, LSD, quando ele sai da cadeia... e Jung... fase dos traumas... as drogas... o barato místico, tipo... porque eu acredito em fadas, mas os discos voadores podem ser o nosso cérebro buscando no nosso DNA informações que... saca?


[fecho o livro]


_ Desculpa. Não estou deixando você ler, né?
_ Não, tudo bem. Pode falar.
_ Então, porque daí eu tô aqui aproveitando esse momento com você, mas você vai embora e a gente pode nunca mais se ver...
_ Você vai descer em qual estação?
_ Na Barra Funda. E você?
_ No Anhangabaú.
_ Tá indo pro trabalho?
_ Sim.
_ O que você faz?
_ Sou jornalista.
_ Legal. Tem muito jornalista legal, mas tem uns que não são não.
_ É...
_ Que signo você é?
_ Sagitário.
_ Legal. O melhor signo de fogo.
_ E você?
_ Áries.
_ Hum.
_ Ah... mas, tipo, eu sou um ariano fajuto, porque meu ascendente é peixes, saca? E eu tenho uma filha, né? Ela tem 3 anos. O meu elemento de afinidade é o ar, por isso Ariel, mas ela é virgem com ascendente em touro, ou seja, ela é da terra, que é o elemento oposto, tipo. Mas eu não acredito no fim do mundo, saca? É só a Era de Aquário e alguma coisa tá acontecendo, saca? Tipo...


Tu-tuuuum.


_ Prazer, hein, Camila.
_ Prazer foi meu. Té mais.

2 de novembro de 2009

Como você sabe que sabe e que diferença isso faz?

Bem, você deve saber que sua mãe te ama/amou e isso provavelmente é tido como certeza. Mas, se você tem irmãos, deve imaginar ou sentir que ela gosta mais de um de vocês. Um estudo do biólogo norte americano Frank Sulloway apontou que 87% das mães admitem que amam mais o filho caçula. Imagino que se você não é o filho caçula deve estar 13% egoicamente preocupado agora. Mas isso é o mesmo que sua certeza sobre o fato de que o Everest é o ponto mais alto do mundo. Obviamente você não foi lá medir. Então, como você sabe? De onde vem a certeza? E se você descobrisse, por exemplo, que todas as suas certezas são frágeis o bastante a ponto de você perceber que não sabe de absolutamente nada, porque nada é certeza, mas suposição, especulação e tentativa? Vamos supor que sua mãe te ame mais, ou te ame menos. O que muda se você tiver certeza sobre isso? Alguma certeza é capaz de tirá-lo da normóse? Ou são as certezas que o colocam nesse estado? Ou a falta delas? Ou a impossibilidade delas? Ou o não-saber o quê são elas e o quê é normóse?

“A normóse, ao lado da psicose e da neurose, é a doença que torna medíocres os seres humanos, conduzindo uma vida sem meta, sem fulgor, sem paz, sem significado, sem vigor, sem criatividade, sem felicidade, sem aquilo que em verdade poderíamos chamar euforia. Um normótico é o tipo engendrado pela coletividade, por ela condicionado, e dela dependente. É o tipo tido por normal na sociedade em que vivemos. Normótico é o mesmificado, que, sempre buscando ajustar-se ao coletivo, perde sua identidade e faz todas as concessões aderindo à dança dos modismos que se sucedem.”