27 de junho de 2011

Herdeiro

Brotado do nordeste. Mãe briga com o pai e vai embora com o filho pra casa de parentes em cidade grande. Mas ele não se sentia um clichê. Era só alguém que não queria conhecer o pai, que não tinha muito contato com a mãe, apesar de morar com ela, e que não se dava bem com o irmão – filho de um outro ainda. Foi clichê quando o pai lhe viu as fotos das mãos de parentes e achou que se pareciam muito. Foi clichê quando disseram que o pai queria muito lhe ver, já adulto. Uns diziam que era a mãe quem não queria. Outros, que o pai não fez questão. Seria típico se as duas coisas fossem verdade, mas ele não soube bem, então deixou que passasse a oportunidade. Um belo dia lhe contaram que o pai sofrera um acidente. Em seguida, que estava muito mal. Disseram ainda que teve súbita melhora. Depois, que falecera. A mãe, de perto, nem se moveu para consolá-lo do amargo da culpa por se ter negado a ver a raiz de seus traços bem feitos, moreno, leve. Chorou sozinho, sem pai por força da morte, sem mãe por força da vida. Talvez fosse clichê do Piauí mãe não abraçar filho nem quando morre o pai.

4 comentários:

Luis disse...

A morte do pai é o acontecimento mais importante na vida de um homem, segundo Freud.

Belo post!

Fabis Matrone disse...

Vivi algo parecido, porém com uma profundidade diferente!

Saudades gatinha!


Apareçaaa

Beijooo

Joey Marrie disse...

Clichê não é que as tuas postagens me emocionem. Ainda mais falando em pai, ainda mais falando em morte... coisa que sempre dói de um jeito como se não fosse possível suportar, de tanto que o coração parece querer estourar, sair por aí pulando fora do peito.

Bjo bjo bjo

Magno Nunes disse...

Nossa... que tristiiii....

Vou ali no meu pai e já volto... =(