__ Oi meu nome é Oswaldo e eu...
Coro:
__ Ooooi, Oswaldo.
Oswaldo:
__ ...e eu sou um neurótico em recuperação mas na verdade vocês não precisam me chamar de Oswaldo por favor. É... sou... eu sou Hitler. Eu fui Hitler. Eu penso que eu sou uma pessoa eu sou isso. Eu sou mau ainda. Nessa vida eu estou tentando fazer alguma coisa para aprender a não ser mau mas eu ainda não aprendi ainda. Eu ainda estou... é... como se diz... eu estou... aqui... e eu... penso em matar as pessoas. E eu penso em me matar mas antes matar muitas pessoas. Eu penso em matar muitas pessoas.
Pausa.
Coro:
__ Obrigado, Oswaldo.
__ Boa noite. Eu sou a Graciela.
Coro:
__ Ooooi, Graciela.
Graciela:
__ Eu... (tosse) eu me separei há... 20 anos... mas eu nunca me recuperei desse meu... bem... nós fomos namorados. Nunca nos casamos. (riso) Digo, porque ele não quis. Eu quis. Começamos a namorar eu tinha... hum... 15. Quando eu tinha 20, nos separamos. Ele me traiu. (riso) Ele me traiu. (pausa) Mas daí... daí não tem mais como, né? Ele me traiu, então... (choro) É isso. Ele é casado hoje em dia, tem filhos. No penúltimo aniversário eu paguei meia dúzia de prostitutas para baterem na casa dele à meia-noite. A esposa que atendeu. Eu ri do outro lado da rua. (riso) (pausa) (choro) Eu achei graça. (choro) Mas não teve graça. No último aniversário eu mandei uma seleção de músicas do Chico e Tom por um trio dos Trovadores Urbanos. (pausa) Obrigada.
Coro:
__ Obrigado, Graciela.
__ Oi.
Silêncio.
__ Meu nome é Ana.
Coro:
__ Ooooi, Ana.
__ Oi. Eu... olha... eu acho que não tenho tantos problemas assim, mas eu estou um pouco depressiva. Não é nada grave, é sério. De verdade. Vocês não precisam se preocupar. É só que eu acho a cidade muito feia. E... eu... eu gostaria de implantar a coleta seletiva em todos os prédios... Mas os prédios também são muito feios... E as pessoas são muito antipáticas. Eu pedi demissão do meu último emprego porque a mulher gastava muita água. Quando falei que a torneira estava aberta desnecessariamente ela me ignorou. Eu fui embora. Estou procurando outras coisas, mas... Eu estou bem. De verdade. Às vezes eu choro quando acordo e quando vou dormir. E no intervalo entre uma coisa e outra. Mas não penso em matar ninguém não. Eu... também não tive um namoro assim muito sério eu... Não gosto do Alceu Valença. Minha mãe gosta. Ela fica cantando La Belle De Jour e isso é um problema entre nós às vezes... Mas está tudo bem. Obrigada.
Coro:
__ Obrigado, Ana.
5 comentários:
rs...
Tem cada um se preocupando com cada qual que...
rs...
ai ai...
Cada sabe da dor e da alegria de ser quem se é...
Adorei, Cá!
Beijo! Isa!
Oi meu nome é Magno...
Vez ou outra eu sofro de bloqueio intelectual e uma profunda falta de ânimo para mudar o primeiro quadro, já que sei que o resultado não será usado da melhor forma pela humanidade.
Já quis matar as pessoas tb. Mas hoje não, até pq é preciso certa criatividade em emboscadas. E como disse estou em fase de baixa.
Não gosto de Alceu Valença tb. Mas essa versão com o Reginaldo Rossi me agrada.
Já falei com pessoas na rua que estão gastando água demais e também fui ignorado. Acho que elas são surdas, o barulho da água deve ter estourado seus tímpanos.
De resto é isso. Acho que é possível sobreviver, mesmo em dias em que a vida seja um ato de coragem.
E se pararmos para pensar que é praticamente impossível de saber todas as "ricas" histórias de vidas de simples pessoas na rua, escondendo-se sob as rotineiras máscaras que a sociedade as impõe de usar. Sou fascinado por coisas assim, saber o que as pessoas, mesmo que apenas transeuntes, realmente sentem e pensam, qual a criação, a opinião, os trejeitos, a maneira de reação diante de determinado acontecimento...Enfim, essa é minha neurose!!
Beijos, do Guto
Oi, sou a Joey Marrie, mas pode me chamar de Cl@risse, assim com arroba mesmo, porque na minha certidão não tá nenhum desses dois mesmo!
E eu só queria dizer que ser humano neste mundo é um transtorno que beira a loucura. Uma vez uma amiga disse que eu tinha cara de doida porque estava olhando fixamente o "nada". Ela não viu, mas o "nada" eram as formigas trabalhando, e eu só estava observando!
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