10 de julho de 2015

A origem do mal


Já de longe se me perguntam é de verdade essas coisas que contas e eu de pescoço mole tem hora a cabeça pendendo pra frente resignada respondo sim. 
Eu mesma me surpreendo muita vez e por isso até implico com a ficção. Qual serventia se com essa vida tão rica de absurdos? que chegar em casa com a água a nos receber à porta já é em si de se estranhar. Bati no vizinho do lado só buscando explicação e o que consegui foi mais. A água descia da máquina de lavar do vizinho de cima inundando nós dois de encanamento compartilhado e o Henrique se oferece para me ajudar a não afogar. Tomei providências por ordem de importância. Primeiro evitar que a criança dormisse sobre as águas e jamais acordasse. Vovó esta noite. Depois, um pedidinho para o vizinho de cima. Bati as falanges médias naquela porta: 

__ Quem é?
__ Camila, a vizinha de baixo.
__ Não conheço.
__ Ué, mas pode conhecer. É só abrir a porta. (isso podia ser uma cantada, repara)
__ Não, agora não.
__ Olha, eu preciso falar com você. Estou com um problema. Você poderia abrir a porta por favor?
__ Não. Não quero.
__ Bem, no meu apartamento está vazando a água que está vindo da sua área de serviço. Você poderia por favor desligar a sua máquina de lavar até amanhã, quando o encanador vem?
__ Não. Não quero.
__ Vou ter que falar com o síndico.
__ Faça o que quiser.

Desconcertada com tamanha maturidade contei ao Henrique sobre a conversa riquíssima com o vizinho de cima. Não evitamos rir jogando a água para fora que descia em cascata alagando dois corredores e afetando outros apartamentos. 
Na manhã seguinte ele reconheceu na lembrança do vizinho de cima o sujeito de bem que cruzava no elevador de vez em quando. “Parecia normal.” 
Confessei que quando fui assaltada ou agredida ou assediada ou prejudicada de alguma forma, o fui por sujeitos que podiam ser bastante agradáveis quando ninguém precisava deles. 
É que o mal é banal. E começa com a indiferença. Depois se espalha em cascata, afetando outros apartamentos. 
A mesma oportunidade no entanto revelou o lado bom. À direita da minha porta para quem está de saída e precisa de solidariedade. Lá se encontra generosidade. Em português e inglês. 

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