Eu era recém saída de um show de blues 10 vezes melhor do que aquele no Saloun de Georgetown. Depois de conhecer todos os caras da banda e todos os seus convidados, além da namorada do guitarrista e de um jornalista paulistano radicado em Brasília (vai entender!), saímos.
Ainda com o corpo dolorido de tanto dançar - o que até rendeu elogios da própria banda, que alegou nunca ter visto uma galera tão animada - fomos subindo a rua, sublimados e exaustos.
Daí parei. À visão daquela casa tão bonita, de tijolos branquinhos e um algo romântico, tive que parar. Fiquei olhando praquelas janelas compridas lá no alto e meus olhos foram descendo até pousar nos dois rapazes sentados à porta, num banco de madeira. Eles pararam de conversar e também me olharam.
_ Oi! - eu disse.
_ Oi! - eles responderam em uníssono.
_ O quê é aqui?
_ Um ateliê.
_ De moda?
_ É. E lá em cima funciona um salão de beleza.
_ Hum... Que casa bonita!
_ É. Vem aí durante a semana pra conhecer.
Ousada como estava e sou, acheguei-me à porta.
_ Hum... Um ateliê... Por isso aquele manequim... Bonito o vestido! Você é designer de moda?
_ Sou sim. Gostou do vestido?
_ Uhum!
_ Quer ver?
_ Quero!!!
_ Tá. Vem.
Entramos e o Alessandro foi me mostrando tudo. Vestidos, camisas e até uma calça-meio-saia que ele fez pra Vanessa da Mata. Olhei tudo e voltamos pro banco na porta.
_ Sabe, eu tava aqui falando com meu amigo, Del, sobre uma peça que vimos esta noite. Se chama A Alma Imoral e...
_ Ah!!! Eu já vi duas vezes!!! É demais!!!
Ficamos conversando sobre a peça, tradição, traição e transgressão, até que mais gente saiu do que fora um show de blues minutos antes. Ao ver o papo empolgado, elas passaram devagar, num jeito de tentar nos entender. Aproveitei pra dizer que ali funcionava um ateliê e em cima um salão de beleza. Levei-as pra dentro e aproveitei pra mostrar a calça-meio-saia que parece calça quando você anda e saia quando você tá parada, feita pra Vanessa da Mata. Expliquei que a especialidade era origami em tecido e elas ficaram encantadas e começaram a perguntar o preço. Chamei o Alê pra responder às dúvidas e voltei pra fora pra conversar mais com o Del.
_ ...E eu tenho uma irmã na Austrália, uma na Dinamarca, irmãos aqui em São Paulo. Mas minha família mesmo tá toda lá em Pernambuco.
_ E sua mãe não ficou triste de você vir também?
_ Não! Minha mãe é uma mulher maravilhosa. Ela sabe que filhos são pro mundo.
_ E você não sente saudades dela e dos seus irmãos?
_ Sinto.
_ E aí?
_ Saudade não é uma coisa que você desliga, que você corta. Você nunca interrompe a saudade. Você vive com ela.
_ Mas saudade dói...
_ Não! Dói pra você? Pra mim não...
_ Pra mim dói! É um sofrimento!
_ Não! Nossa... não é não! Eu não sofro. Saudade é um sentimento bom.
_ Mas é um vazio, uma falta.
_ Não... A distância não termina com o afeto e afeto não pode ser sofrimento.
_ Você não sofre por isso?
_ Não.
_ Pelo quê você sofre?
Ele parou, olhou pro horizonte curto, que ia até o outro lado da rua. Mexeu os olhos num jeito de se examinar a si mesmo, olhando pra fora, mas vendo por dentro.
_ Você não sofre por nada?
_ Olha... Eu procuro viver a vida pela perspectiva do positivo, do prazer, não do sofrimento. Eu fico triste às vezes, mas sofrer... Não... Sofrer não.
Encantada.
Minutos depois, me despedi do desconhecido-irmão e fui pra dentro da casa, dar um tchau pro Alê também.
_ Que signo cê é? - ele me perguntou. E respondemos juntos:
_ Sagitário!
_ Como você sabe?
_ Ah... Porque você é a típica sagitariana. Olha isso! A menina tá até experimentando as roupas. São três e meia da manhã e meu ateliê estava fechado. Você não só abriu, como trouxe mais gente e ainda vendeu minhas roupas! Adorei te conhecer. Foi um prazer, Camila. Obrigado.
_ Magina! Prazer foi meu em conhecê-lo. Nos veremos de novo. Beijo!
Saldo da noite: uma Bia, namorada de um Celso Salim que toca com um Sérgio Duarte (gaita), um Paulinho (batera) e um Márcio (baixista, cuja mesa estava reservada até eu me apossar indevidamente). Mais três caras gaitistas, uma vocalista maravilhosa... Um Gabriel (jornalista), um Alessandro e um Del (estilistas). Mais as roupas do Alê que eu vendi... hum...
É. Foi uma boa noite.
19 de abril de 2010
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4 comentários:
Sua cara mesmo esse tipo "dada" mas não no pejorativo...
Pra mim a saudade doi sim e é um sofrimento... Mas sinto até um certo prazer na saudades...
Em boa parte desse texto estava inspirada...provavelmente andou lendo meu blog rs...
Comunicação é a alma do negócio...
Tenho umas roupas velhas aqui... vc poodia vender né?
Fifiti fifiti?
E como é que faz com a saudade de um alguém com o qual não se tem lembranças exatas, só se sabe que tem?
"Adorei te conhecer, Camila. Foi um prazer, muito obrigada."
;D
Nossa! Esqueci de falar do taxista: Júlio!
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