Ela a tinha visto na rua e não podia abandoná-la uma vez mais. A pequena estava chorando, frágil e indefesa. Já tinha sido abandonada por sua mãe biológica e de novo e de novo por todos aqueles que passaram e optaram por deixá-la onde estava, ou porque não a viram.
Ela não tinha um bom momento nem um bom lugar nem muito menos um bom dinheiro pra adotar assim aquela menininha que precisaria de tudo e mais. Então a pegou, porque outra coisa não poderia ter sido feita, a menos que seu caminho não tivesse sido pela beira da calçada daquela tarde quente. Chegou à casa chorando sob a constatação de tanta maldade no coração humano. Deu-lhe banho, alimentou e aqueceu. Sorriu, riu, abraçou, apertou, balançou, cuidou, deu remédio.
Em pouco tempo, começou a espelhar sua mãe ao olhar que estava sendo mãe também. E não gostou do que viu. Sentiu que a pequena poderia odiá-la por ouvir tantos nãos ou por ter hora certa de dormir. Entrou em depressão, se culpou, culpou sua própria mãe, seu próprio Deus, depois o acaso e nada mais. Reviu toda a sua vida. Passou dias chorando, com os olhos pendurados no teto, sem enxergar um palmo diante de si, em choque pela dor que era pensar “ela vai crescer e vai me odiar!”. Mas trancada não pôde pra sempre. Num dia seus olhos tiveram que largar aquele bege desbotando e pousar no amparador de suas vontades, os azulejos corajosos até o asfalto, até o mercadinho. Chão e passos se apoiando.
_ Um quilo de ração, por favor.
28 de abril de 2010
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5 comentários:
Oi Camila, sempre tão bom acompanhar seu blog.
Adorei o texto. O ser humano é tão assustador, e acho que o uqe mais o deixa assim é a capacidade de pensar, lembrar, recordar, reviver.
Estranho!
beijo, Camila
Hahahahaha! Vc é SENSACIONAL! Acho q já disse isso em algum momento da nossa breve intersecção. rs
SAUDADE!
Camila, nossos textos não estão tão distantes assim. Mas eu sou mais perverso com meus personagens! Foi um prazer ler seus comentários no dado de dobre. Quanto ao seu blog, já sou o seu mais novo leitor.
br
Luisa Mel feelings? hehehe
Deixa eu falar...
... meu irmão chorou lendo aqui... hahahahahahhaha
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