Meu rapaz estava no ponto de ônibus e, antes mesmo de chegar, avistou da esquina um senhor de uns 40 ou 50 anos, desse tipo de senhores magrelos de 40 ou 50 anos, baixinho e descuidado. Vestia roupas simples, mas aparentemente limpas.
O senhorzinho falava alto e desimbestadamente, estilo personagem da Praça é Nossa. Ora cantava um pai nosso, ora dizia que a cobra havia roubado a pinga dele. Chegou a pedir um cigarro, ao que o rapaz respondeu que não tinha - o que era mentira, diga-se. Pediu então a outro, e foi acender com o mesmo rapaz que lhe negara.
De repente, inadvertidamente, começou a batucar numa caixa de fósforos (que dizia ser seu tamborim) e a cantar sambas antigos. O rapaz achou aquilo um bom sinal, afinal, "quem não gosta de samba, bom sujeito não é". O senhorzinho foi cantando, cantando, até que chegou num samba desses que falam de mulher.
...E foi parando de cantar como uma vitrola desligando...
Sentou no banco do ponto de ônibus e desatou a chorar. Colocou os óculos escuros na cara e continuou batucando num tom mais triste.
Foi então que deixou a caixa de fósforos cair. Apalpava o chão e não encontrava o tamborim. O rapaz, num gesto de gentileza que não podia evitar, pegou e devolveu o instrumento, pelo que o senhor voltou a tocar, num tom mais triste ainda.
O pessoal levantou dos bancos pra tomar o ônibus. Ali, talvez pela solidão, o senhorzinho, mais a vontade, se deitou, com as mãos unidas num travesseiro de ossos, e dormiu...
“Lembrei que todos somos assim, flutuantes em nossas emoções, embora ele estivesse mais exaltado, aparentemente em função de uma bebida recente, e de anos de bebedeira... E lembrei o porquê deve ser legal ter uma câmera...” – diria o rapaz ao relatar o ocorrido.
Será que o senhorzinho imaginou que as ações resultantes de sua espontaneidade seriam compartilhadas com várias pessoas que não o conhecem nem vão conhecer?
Eu, particularmente, nunca imaginei que o resultado de um final de semana trabalhado resultaria numa exposição de uma aluna do Núcleo de Comunicação e Educação da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (NCE-ECA/USP):
Não sei voar de pés no chão - Um blog de Amanda Proetti
26 de agosto de 2010
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4 comentários:
LINDO!!!
Digo... LINDA!!! rs
Ahhh que vc ia virar estudo todo mundo já sabe...
Agora me conta uma novidade, vai....
Certeza que o senhorzinho não imaginou que seus sambas aventurados numa caixinha de fósforo seriam narrados por uma tal jornalista que foi exposta no Núcleo de Comunicação e Educação da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo.
hahaha
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