20 de janeiro de 2013

Crônicas de shopping – Tomo II


Nojo. 
A instituição nojo e suas raízes morais. 
É involuntário todavia o revirar das entranhas, intestinos enlaçando pâncreas, o estômago contraindo pra continuar cabendo onde está. 
Qual culpa tem a pessoa de seu nojo? Está condenada por não poder crer no Cristo, por não achar sabedoria na natureza, por ver atrocidade ou criança dormindo e ficar na mesma? 
Mas nem era este o seu caso. Apenas o nojo da criatura que esparramava-se adiante. Eram somente três as mesas do lado de fora do café. Ela ocupava a primeira, pulava uma e ele estava na terceira. 
Quis sentir pena, mas não conseguiu. Respirou fundo, averiguou em si. Ele era só nojo sim. 
Ela parou um pouquinho, ajeitou a saia longa em sua vastidão, arrumou a blusa e lançou o cabelo comprido irregular para as costas. Sentou-se. De dentro da sacola de papel várias coisas saíram. Primeiro pão. Depois margarina, apresuntado, qualquer tipo de queijo, tempero de miojo, catchup, um prato de plástico, um rolo de papel higiênico e, por fim, uma coca de dois litros. 
Um por um os ingredientes montaram seu lanche indistinguível. O outro, indignado, achou desaforo sair e insistiu ali em seu lugar, hipnotizado por semelhante apetite. 
Terminada a refeição, sobrou migalhas, embalagens vazias e papel-de-limpar-boca. Virou a garrafa para um gole ou dois, três. Uns dez. E olhou insatisfeita a própria bagunça. 
Guardou o prato de volta na sacola. Em seguida o catchup. Juntou o lixo nas mãos grandes e meticulosamente transferiu o material desprezado para a mesa ao lado, a do meio, que parava vazia delimitando os espaços. 
Contente, voltou para sua mesa. Virou a coca na garganta mais algumas vezes. Olhou ao redor. Deu sono. Cochilou sentada. 
O distinto senhor, liberto ao término do ritual, aprumou-se. Finalmente deixou o local.

Um comentário:

Magno Nunes disse...

Eu sinto nojo de azulejo de vestiário.

Afinal quantas e quantas friêras já não foram depositadas ali?

Deus