19 de janeiro de 2015

Intolerância laica

Encontrou entre as folhas impressas da pesquisa as instruções do jacaré.
Sentou com o menino e primeiro separaram todas as peças amarelas que seriam necessárias. Enquanto isso, ele foi desabafando as experiências dos quatro anos, a escola, a babá, a irmãzinha e a calopsita da prima, que tinha uma crista assim alta que ele fazia com gel no cabelo pra ficar igual.
Na parte dela as peças de Lego eram maiores, porque as crianças eram menores. Antes de começar o evento ela pesquisou muitas formas diferentes, imprimiu e organizou em uma pasta, para consultar o repertório e não decepcionar a infância. Uma coisa de feeling, não que fosse exigência.
O jacaré ia aparecendo na parte do gato da vó que só fazia cocô no cestinho do crochê...

__ Você não tem respeito mesmo.
__ Oi?
__ Você não tem respeito por mim, nem pelo meu filho, nem pela nossa religião.
__ ...
__ Se você não tem fé o problema é seu. Mas não desdenhe assim das famílias de fé.
__ Hum?
__ Vem, filho.
__ Mas mãe... o jacaré...
__ Solta isso. Olha o que você fez, menina. Sua desrespeitosa. Menina insolente. Vamos filho.

Minha grande torre colorida ia aparecendo na parte em que ela me explicou o que concluiu mais tarde, conversando com a supervisora do evento da Lego sobre a situação:
“Não farás para ti imagem de escultura representando o que quer que seja do que existe lá em cima, no céu, ou cá embaixo, na terra, ou nas águas que estão debaixo da terra.” Deuteronômio, 5:8


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