Adele Prado me dizia, com os olhos caridosos numa carícia que a terra não há de comer, das nuances de uma inconcebível criação. Era um mundo morrendo e ruindo todos os dias, para voltar a se refazer. Todos os dias. Nessas tardes costumavam se arrastar atrás de nós as horas, e enterrávamos os minutos sem rituais. Havia ali um qualquer coisa de sabedoria quimérica aterradora e conceitos que eu não entendia bem. Um prenúncio de fim dos tempos, mas eu olhava para o meu relógio e, ansiosa, constatava que estava tudo igual. Adele insistia na queda, na perdição, na deturpação. E eu olhava com os olhos encantados para o que havia de ser o fim do mundo imediato. E era. Eu caindo do alto de um penhasco nas ilusões de tudo aquilo que eu queria e nem sabia, ofuscada da luz que eu não via de onde vinha, reconhecendo quem eu nem conhecia. Rascunho de expectativas cheirando feito grande tragédia travestida de pequena perda. Adele Prado era aquele borrão contornando tudo aquilo que eu não podia ver sozinha. Um retrato de cumplicidade aborrecida de ser. E eu era sua sombra tentando enxergar melhor para ser melhor. Ser mais ela para ser mais eu.
9 de maio de 2009
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3 comentários:
Lealdade e cumplicidade.
P.S.: Renda-se, eu ja o fiz. Irei até você.
Oh...o povo intimando hein...
Ah essa é a Adele...
Canta até bem...
E num seis oq vcs duas tão tendo...mas vou investigar O_o...
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