8 de março de 2010

álogos di alas

Meu amor pelas palavras não vem só da empolgante sensação das possibilidades. Não que essa razão já não seja suficiente para amá-las, mas tem mais. É o dizê-las mesmo, usá-las. Escolher uma e záz! Sacá-la de sopetão do saquinho do não-dito e jogá-la em cima da mesa, sorrindo brilhante seu significado.

Porque a história só anda pra frente, a palavra saída do pensamento não pode voltar. Deve seguir em procissão com suas ascendentes e descendentes.
Mas o mastigar. O mastigar me agrada. É preciso ser um bom mastigador pra pronunciar as suas e digerir as alheias. Palavras. Esse movimento de língua e dentes fabricando sons de trituração rápida em semifusas difíceis de agarrar. É por isso que a gente perde de vez em quando. Porque são escorregadias as danadas. O contexto que a gente inventa é volúvel porque são fugazes as pobres, mas turronas as ricas. Tem palavra que venta que a gente nem vê, mas tem umas com pregas que encaixam no coração depois que a gente engole e caem na corrente sangüínea. Mas tem umas que a gente urina.

De qualquer forma, é uma ginástica falar. Habilmente, então, é arte. Ma-la-ba-ris-mo que só pode quem pode. Pa-ra-le-le-pí-pe-do que, ops!, de fácil que é tropeçar. Invenção. Quando é nossa ainda vá lá, mas ser de outro?! Metilcloroizotiazolinona, por exemplo. Tem no xampu. Um palavrão dos quase impronunciáveis e pra quê se ninguém entende?

...Tudo bem... Nem entenderiam esta hemorragia de verbos aqui também, vontade esganada de aparecer nesse palavrório. Um oratório, uma platéia. Idéia. Era disso que a gente precisava a vida toda: álogos alados.

2 comentários:

Felipe Teles disse...

Tenho que ser sincero e dizer que desisti de ler a palavra Metilcloroizotiazolinona no terceiro "o".

Realmente, só para quem pode..

Joey Marrie disse...

Eu nem consegui chegar no terceiro "o".

=/