30 de maio de 2012

Histórias do mosteiro – Parte I


É curioso ver seus monges silenciosos transitarem entre as paredes sangrentas de tijolos expostos, elegância esgueirante e taciturna preenchendo os corredores, misturando-se aos móveis lentos.

Aproximei-me afoita e desajeitada como é o caso quase sempre, em cima da hora, correndo entrada e degraus acima. Foi quando estanquei. Meus passos pesados de gente atrasada, no entanto, não o perturbaram. Seguiu cantando e eu, subitamente aquietada pela serenidade da voz masculina, reduzi cautelosa de não desarticular a paz alheia. Entre um andar e outro, encostei discreta na esquina roubando tempo de onde não tinha e fiquei contemplando. A noite ia caindo e era como se ele a saudasse, despejando graça no ar enquanto expirava em tons gregorianos. As paredes espessas como se fosse ali tudo igreja favoreciam o espalhamento em ondas. Ele cantava pra fora da janela, mas era dentro que reverberava seu canto medieval.

Dentro de mim.


4 comentários:

Joey Marrie disse...

Às vezes nosso corpo funciona como máquina pré-programada, não é raro eu estar atrasada, pensando em algo e meu corpo se movendo automaticamente pelo caminho a ser tomado.
Nesses momentos a gente precisa mesmo de algo que nos chacoalhe, que nos desperte, que chame o espírito "para fora". Coisas que façam seus olhos se abrirem, que despertem o que há em nós de divino!
E, acredite, isso não é perder tempo, acho sim que é ganhar vida!

Magno Nunes disse...

Para Noooooooooooooooossa Alegria...Améééééééééém....

Vítor Massao disse...

lindo!!! fiquei imaginando cada cena, obrigado por compartilhar e reverberar =)

Camila Caringe disse...

Generosidade gera generosidade.