27 de maio de 2012

Da série: pesadelos vivos


Sonhei que andava por dentro de um grande casarão antigo, cujo chão e teto eu os reconhecia de madeira enegrecida e rangenta, apesar da escuridão do lugar.
Eu caminhava como que por becos, dando num e noutro canto. Entre os aposentos via cenas de umas eus que não eram eu, como pequenos recortes de vida subitamente iluminados por uma luz focal que se movia. Era uma eu entre pessoas, outra eu entre cigarros, mais uma em um show em que nunca estive e ainda eu numas roupas esquisitas.
Embora tenha flagrado meus duplos em comportamentos erráticos, não era isso o que me perturbava. Mas todas elas tinham outra cor de pele, cabelo, outro tônus. Era o conflito dos aspectos o que me foi nauseando.
Durante o percurso procurei lembrar de alguma grande referência de mim e fui então procurar meu antigo amigo entre os cômodos envelhecidos. O encontrei, num canto, onde não queria ser encontrado. Ficou bravo, mandou-me sair. Porque demorei, foi-se ele embora fugido e eu atrás que podia, mas senti que não devia, acompanhá-lo.
Não fui, mas caí então em profundo desespero. Chorei o choro que se pode no sonho, copioso, dolorido, querendo acordar sem saber que era possível.
Andei por trechos debaixo de terra, túneis, desertos ocos, cavernas dos meus interiores.
Parei quando encontrei a imensa biblioteca bem iluminada. Escolhi uma estante e, de um salto, coloquei-me no alto, olhando o mar de livros de cima, da grande sensação do vazio.
Uma mulher de túnica e amor materno surgiu à mesma altura à esquerda tentando me acalmar sem sucesso.
Percebi uma viga de metal entre paredes formando uma linha rente ao teto. Pude alcançá-la com as mãos. A voz da senhora não me chegava, mas eu queria escutá-la entre os soluços, queria ter alguém a quem dar razão.
Aproximei a cabeça da viga e encaixei. A mulher fazia que não e eu vacilei.
Um pouco acidental, um pouco nutrida pelo desespero, caí da estante.
O corpo baixou, a cabeça permaneceu.
Morrer não dói, mas na escuridão continuei chorando até às 14h00 do sol entrando pela fresta da janela e o telefone tocando.

3 comentários:

Joey Marrie disse...

"Pra dilatarmos a alma, a gente tem que se desfazer.
Pra nos tornarmos imortais, a gente tem que aprender a morrer, com aquilo que fomos e com aquilo que somos nós." (F. Anitelli)

E quando os pesadelos vierem, chame a Super Cl@risse e seu fiel companheiro Norberto. Eles são ótimos em mandar sonhos ruins embora.

=D

Vítor Massao disse...

http://www.facebook.com/photo.php?fbid=376888115692565&set=a.326687424045968.72484.261705443877500&type=3&theater =)

Magno Nunes disse...

Dai "ACORDA CAMILA, VC TÁ ATRASADA"

E a vida segue...