Ao entrar no vagão ouvi logo a sua voz. Procurei e de propósito me instalei ali bem perto. Em seguida seu companheiro de banco se levantou e fiquei com o acesso livre. Mal conseguia conter o riso, mas não por achar muito cômico. Era simplesmente gracioso vê-lo entoar sem se poupar aqueles cânticos de louvor pro Deus.
O senhorzinho ia pigarreando e cantando e seguindo a canção, selecionando uma e outra com o livrinho aberto nas mãos. Não sei se era um gesto de desapego – tipo, “canto mesmo, e daí?” –, um gesto de altruísmo – “vejam que canções mais lindas vocês têm que conhecer!” – ou um gesto de imensa inocência despida de mais intenções, aquele pequeno algo que faz de um ser extremamente cativante no cuidado e na certeza que nos desperta: qualquer coisa poderia quebrá-lo nesse momento de harmonia.
Nós, do vagão, trocávamos olhares cúmplices de proteção. Concordamos todos. A vida, minha gente, a vida é uma graça.
3 comentários:
E para fechar com chave de ouro, ele entoou em alto e bom som:
PARA NOOOOOOOOOOOOOOOOOOOSSAAAAAA ALEGRIA...
E todos foram felizes para casa...
Lembra das recomendações expressas que eu te falei, né?
Então!
=D
Quase um Roberto Carlos da ferrovia.
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