No começo dos tempos não havia nada, senão o verbo. E era ainda o verbo falado. Falado por gente que já havia antes do verbo. E isso não é um contrasenso, porque sem o verbo, alguém é nada.
Pois bem. Havia um nada. Acompanhado que estava de vários nadas. Do tipo de nada que começa num pensamento muito simples que depois se complexifica. E tanto, e tanto, que se torna intocável ao verbo. Ficamos atônitos diante de tanta coisa, ao que alguém nos pergunta fatidicamente “Em quê está pensando?” – e respondemos “Em nada.” É este nada. Era este nada que havia antes do verbo. Era o intraduzível, não o tautológico.
Mas nascemos num tempo em que o verbo nem sempre é verbo, nem sempre é ação, nem sempre ligação. Quase tudo fez-se verbo e aprendemos, ou pensamos que aprendemos, a lê-los todos. Quiromancia, piromancia, cromatomancia, horóscopo. E, como bem sabes, POEta, não os creio muito.
[...]
E, quando tempo demais tiver passado cronologicamente, Kairos nos lembrará de que o tempo não passa para as almas que se afinizam e nos recordará do ano distante de distâncias físicas tão próximo quanto o ano seguinte a ele. Era ele. E éramos nós dentro dele.
[...]
Recobrei um por um os verbos fugitivos (aqueles, que fugiram de minhas idéias quando o facho indizível se fez de nós) que peguei pelas orelhas com o dedo em riste e uma bronca...
[...]
Eu então, munida de suas explicações sobre o que vê e vive, virei-me e caminhei até a porta. Abri-a e saí. Do lado de fora alguém pousou na sua janela cantando coisas sobre camas e palavras quentes.
(Uma ventania açoitou pela última vez os cabelos da menina.
O menino sorriu aliviado.
E todos viveram felizes para sempre! (?))
24 de julho de 2008
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5 comentários:
Tomara que este não merecedor tenha entendido o recado...não vou repetir mais uma vez...
"...Kairos nos lembrará de que o tempo não passa para as almas que se afinizam e nos recordará do ano distante de distâncias físicas tão próximo quanto o ano seguinte a ele. Era ele. E éramos nós dentro dele."
Gostei muito dessa parte...Concerteza os leitores mais poeteiros deste blog logo pela manhã farão comentários melhores...enfim...
Beijos Cá..
Má (O_o)
Mas...o para sempre...é para sempre mesmo? Ou até que o Abeas Corpus nos separe?
Freneticamente pulsante.
Você me arrepiou os pêlos dos dedos dos pés dessa vez.
Na sua complexidade que detesto e na sua ciência travestida de empáfia, apenas senti. E um sorriso largo de alegria soltei. Mandou bem, branquinha.
Conseguiu ser enérgica e cheia de vida. Essas coisas são boas pro coração.
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Durkheim dizia que para sermos universal devemos falar da nossa própria terra. Eu insiro isto no contexto desta postagem. Você - ao que parece - direcionou um sentimento e falou como uma seta apontada. E é justamente quando faz assim que consegue atingir o maior número de gentes!!!
Aquelabraço!
uma retificação: não gostei do fim trágico!
rárá!!!
Final lógico hohohohohohohohohoho
Como diria meu cabeleleiro
"Verbo é palavra e palavra é poder", saudoso Pops.
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