29 de janeiro de 2008

Uma Paródia


Era velho. E solitário. E amargurado.
Isso. Era também solitário e amargurado...
...Andava devagar, comia devagar, pensava devagar. Vivia assim: b-e-m d-e-v-a-g-a-r...
Mas ninguém via. Todos achavam muito natural.
Claro. Todos achavam natural porque todos ao redor também viviam assim: devagarzinho...

Mas “ele” era demais. Algumas pessoas até nem se importavam e chegavam ao cúmulo de diminuir o próprio ritmo por causa dele. Um ritmo que, diga-se de passagem, já era lento.

Até o dia em que conheceu uma mulher. E se apaixonou por ela. Foi quando percebeu que era lento demais para ela, então se entristeceu...e aí, acabou ficando um pouco mais devagar do que de costume...já que não conseguiu imaginar coisa melhor a se fazer.
E assim seguiu sua vida. Até que um dia morreu. Mas, como era muito vagaroso, não percebeu, senão 3 anos após a sua morte que havia, efetivamente, morrido. E, quando percebeu que já havia morrido sem perceber, acabou percebendo que todas as outras pessoas, tão lentas quanto ele, também haviam morrido, mas ainda não haviam percebido.
Então “ele” ficou mais triste do que quando a garota por quem fora apaixonado o rejeitara. Ficou triste porque, num espaço de tempo curto (que, diria mais tarde, lhe parecera eterno), ele entendeu que não estava no ritmo certo, que deveria ter aceitado as mudanças e não agido como uma criança ou como um burro que empaca bem no meio da Avenida, na metade do caminho entre o que se tem e o que se quer.

Mas ele parou. E agora sabia. E isso doeu.

Doeu porque ele viu que havia morrido ainda vivo e, agora que estava morto, só queria viver. Então ele olhou ao redor e, vendo tantas pessoas mortas-vivas, tantos zumbis que acreditavam estar vivendo quando estavam perdendo o melhor da existência, o cume da clareza, a sedução da consciência e do prazer de estar vivo, ele notou que aquelas pessoas continuavam fazendo tudo igual... E ficou espantado de ver que elas não choravam, não sentiam dor, nem eram surpreendidas por aquelas perigosas situações que o destino, vez por outra, adora nos arranjar...
..."Ele” então tomou a corajosa decisão de ignorar o fato de saber estar morto. E continuou fazendo tudo igual, afinal de contas, ele não queria ser responsável pela dor que todos sentiriam quando percebessem que também eles estavam mortos.

E assim foi feito. Devagarzinho...
...Pra ninguém notar.

2 comentários:

Magno Nunes disse...

E bem devagarinho...o tempo passou.

As vezes quando vemos que deveriamos ter mudado pode ser tarde demais...

E essa "pessoa" passou no tempo...e nem viu...
Se perdeu na vagarozidade...

Não sei se entendi...mas gostei da paródia...agora tenho que voltar para lancho...senao o bicho pega...


Bjjjos...
Má (diretamente de seu quarto! EEEEEEEEEEEEEEEEEEEBA \o/)

Unknown disse...

adorei a paródia,
Quem teve a oportunidade de ler acho que guardou como uma lição de vida,algumas pessoas leva a vida muito devagar,com brincadeiras, quando a vida resolver passar uma rasteira... uhuhuh... será tarde de mais.


Bjosss.... Rô