Você está na chuva.
Sem guarda-chuva.
Logo, não está seco.
Seu ônibus passa em longos dez minutos.
Você dá sinal pra ele.
O motorista te olha, mas fica com preguiça de desacelerar, parar, abrir a porta, engatar a primeira e sair de novo. Prefere aproveitar o embalo da descida.
Você percebe que um pensamento cruel perpassou pela mente doentia daquele sujeito investido do poder do transporte público. Acena novamente. E ele passa.
30 minutos depois um outro ônibus ainda não passou, o que o obriga ao super Plano B, que não envolve atitudes Winehousesistas, como socar alguém em público, beber, chutar ou contar seus problemas a ratinhos de estimação, depois de ter cheirado "giz".
O super Plano B envolve pegar um outro ônibus - errado no Plano A, revisto e reaproveitado - e suportar um trânsito muito eloquente que anuncia o estado do metrô na pior estação, no pior horário do pior pico. Ou seja, fazer o mesmo trajeto no tripo do tempo.
Depois não sabem porque as pessoas se matam. Entre si, claro (talvez o suicídio tenha uma outra explicação plausível).
Eu não me mataria. Mas talvez não fosse tão condescendente com os outros seres humanos que competem comigo o mesmo centímetro quadrado.
Se dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, não chamarei o táxi para o outro coisíssima nenhuma.
E, imbuída de pensamentos inconfessáveis, cheguei, em formato enlatado, ao destino.
6 de outubro de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
4 comentários:
Nossa...
Se chove lá fora...o trânsito pára e fica o inferno...
São Paulo é um caos por todos os lados...Imagine só quando tivermos que fazer bonito pra gringaiada na Copa...
Mas num fica assim não Cá...
Sempre teremos a Praça do Pôr-do-sol...bora?
BejoCá
Má (Engraçado praaaaaaaa caramba!)
Agora me complicou para saber se qualificamos essa narrativa como saga ou como epopéia.
Vamos dizer aos dois candidatos paulistanos que o transporte público sofre problemas graves! Hum... Pior, eles não têm noção do que é nem um nem o outro...
A Sé é meu caminho da roça TODOS os dias. E sempre penso "Eu preciso trabalhar, juntar dinheiro e comprar um carro".
Pelo menos somos jovens, sonhamos com carro e temos mais disposição. Eu tenho dó das pessoas velhinhas que são obrigadas a aguentar isso todos os dias.
"...O espaço é curto quase um curral
Na mochila amassada uma quentinha abafada
Meu troco é pouco, é quase nada...
Ô Ô Ô Ô Ô my brother
Não se anda por onde gosta
Mas por aqui não tem jeito, todo mundo se encosta
Ela some ela no ralo de gente
Ela é linda mas não tem nome
É comum e é normal
Sou mais um no Brasil da Central
Da minhoca de metal que corta as ruas
Da minhoca de metal
Como um Concorde apressado cheio de força
Voa, voa mais pesado que o ar
O avião do trabalhador..."
Postar um comentário